D.
João príncipe regente
Três vintens (furado)
Divisa monetária cujo valor proveio do aumento de
20% sobre a moeda de prata, decretada por D. Pedro II em 4 de agosto de 1688,
passando desde então os 400 réis a correr por 480, os 200 por 240 réis, os 100
por 120 réis e finalmente os 50 por 60 réis ou “três vinténs”.
Foi
esta a designação que prevaleceu, e como foi esta moeda a escolhida geralmente
pelo povo para amuleto da virtude perservativa da castidade das donzelas, que
suas mães lhe punham ao pescoço dependuradas num cordão (preto), esse foi o motivo porque uma grande parte dessas moedas
aparecem furadas, assim como se ligou o nome dos “três vinténs” aquela virtude.
D. Pedro II, Três vinténs ND (furado)
PETRVS.II.DG.P.ET.ALG.REX
(Pedro II pela graça de Deus rei de Portugal e Algarve)
D. Pedro II, Três vinténs ND (sem furo)
Anv. PETRVS.II.D.G.REX.PORTV.
Rev. IN.HOC.SIGNO.VINCES
(Por este sinal vencerás)
A
moeda dos “três vinténs” cunhou-se
em quase todos os reinados desde D.Pedro II a D. Miguel 1828-1834, em que foram
cunhados os últimos espécimes desse valor.
O
seu peso inicial era de 2,16 gramas e ø19mm no reinado de D. Pedro, e terminou
com 1,83 gramas e ø18mm no reinado de D. Miguel, sempre com o título de 916,6
milésimos.
Três
vinténs (furado)
O
que muitos ajuntadores não sabem, é porque grande parte desta simpaticazinha moeda
aparece furada.
Os
“três vinténs” tornaram-se tão
populares ao ponto que as mães parturientes, usavam pô-la ao pescoço das filhas
logo que nasciam pendurada num fio como
amuleto, que só retiravam quando casavam, daí a razão do furo.
Alguns
rapazes mais atrevidos quando se aproximavam
delas começavam por procurar no pescoço a famosa moedinha e, quando não a
encontravam pronunciavam descontentes,“já não tem os três vinténs” ou então, “já lhe tiraram os três”. Tinha chegado tarde, ela já tinha dono.
Num
passado ainda recente, quando a virgindade feminina era um atributo quase
indispensável para o casamento, era vulgar a expressão que fazia equivaler a
existência da ainda virgindade à expressão “Ter
os três vinténs” ou, não.
D. João V, Três vinténs ND, (sem furo)
Anv. JOANNES.D.G.P.PORTUGALIA.ET.ALGarbiorvm.
(João V pela graça de Deus
príncipe de Portugal e Algarve)
Rev. IN HOC SIGNO VINCES
(Por este sinal vencerás)
D. João V, Três vinténs ND (furado)
IOANNES.V.D.G.P.ET.ALG.REX
(João V pela graça de Deus rei de Portugal e Algarve)
IN.HOC.SIGNO.VINCES
Caso
a menina não fosse virgem dizia-se que ela tinha perdido os “Três vinténs”, ou então quando a virgindade era oferecida a um rapaz, o felizardo dizia, “já lhe tirei os três”.
É difícil de saber qual a origem destas
expressões que hoje muitos jovens não conhecem e, numa época em que a
mulher alcançou tão elevado grau de emancipação, essa expressão
seria perfeitamente idiota.
Se
consultarmos um dicionário, o três é um
número cardinal formado de dois e mais um, no entanto se nos referimos à
expressão popular “os três”, remetemos
logo para o âmbito sexual.
Na minha pesquisa sobre a origem desta expressão,
notei que a vida não era fácil para a mulher que viveu nessa época.
Um período em que grande parte dos casamentos eram de
conveniência (por vezes os jovens nem se
conheciam) e havia condições a debater sobre o dote, comportamento da
rapariga e outras.
Era frequente a família do rapaz exigir um atestado de
bom comportamento da noiva, passado por uma autoridade local (geralmente o presidente da junta de
freguesia) e, caso tivesse alguma dúvida, podia pedir um atestado de
virgindade passado pela parteira, que tinha que fazer o teste de virgindade.
D. João V, Três vinténs ND (furado)
Hoje é fácil fazer
esse teste, mas no passado, além de ser anedótico, era crucial para as meninas
que podiam ter sido elas mesmo a romper o hímen.
Imaginem a parteira colocar uma moedinha de três vintens sobre o hímen da
donzela e se esta passasse para dentro o teste era positivo.
“Três vinténs” também era o preço da comissão
da parteira para efetuar o teste.
No arquivo distrital de Viseu existe um documento com
data incerta, mas que aparenta ser do início do século XIX, usado como prova
passado por uma parteira da época chamada Bárbara Emília natural de Coura (Viseu), a pedido de uma jovem (Maria dos Prazeres Jacynto Leite Capello Rêgu).
Atestado de Birgindade
Atestado de
Virgindade
Eu, Bárbara Emilia, parteira que soy de Coyra, atestu que
Maria dos Prazeres Jacynto Leite Capello Rêgu tem as partes fodengas talinqual
comu veyo ao mundo inseto uma nóida negra no alto da crica que não sendo de
nacenssa é proveniente de marradas de pisa.
Por ser verdade pasei o prezente
atestado de virgindade .
Bárbara
Emilia das Dores
Outro documento da mesma parteira (do qual não me foi possível encontrar uma cópia) a pedido de Maria de Jesus, que pretendia libertar-se da difamação de não ser
pura, e provar a sua virgindade para contrair casamento.
O documento reza assim :
Atestado de Birgindade
Eu, Bárbara Emília,
parteira que sou de Coyra, atesto e certufico pela minha onra que Maria de
Jesus tem as partes fudengas talinqual como veyo ao mundo insceto umas pequenas
noidas negras junto ao alto da crica que a não serem de nacenssa sarão
purvenientes de marradas de piça.
Por ser verdade pasei o
prezente atestado de virgindade.
Bárbara Emília das Dores
Estes documentos, verídicos, fazem-nos
recordar embora de forma anedótica, a importância que a virgindade tem assumido
na nossa e em muitas outras culturas.
D. Pedro IV, Três vinténs ND (sem
furo)
Anv. PETRUS IV DG.PORTUG ET ALGARB REX
(Pedro IV pela graça de Deus rei de
Portugal e Algarve)
Rev. IN HOC SIGNE VINCES
Outra expressão de “três vinténs”, faz referência ao preço de três vinténs que o homem
pagava a partir do século XVI para desflorar uma escrava negra virgem.
MGeada
Muito interessante
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