Durante quase três séculos, Romanos e
Partos guerrearam-se pelo
controlo da Armênia, Síria e
Mesopotânia.
O primeiro grande evento que marcou este
conflito, foi a derrota de Crasso contra
os partos quando este ambicionava conquistar
a Mesopotânia na batalha de Carras no ano 53 a.C. (atual Harã na Turquia).
Esta foi uma das muitas batalhas entre a
República Romana e o Império Parta, em que o comandante parta Surena, esmagou a
força invasora romana comandada pelo general Marco Licínio Crasso.
Esta foi uma das maiores derrotas
sofrida pelos romanos na qual o general perdeu as águias, símbolos das suas
legiões.
Alguns anos depois no ano 40 a.C.,
Orodes II e seu filho Pácoro (que mais
tarde governou como Pácoro I), juntamente com seu pai, invadiram a Síria,
uma província romana após as conquistas de Pompeio e depois a Judeia.
O exército parta então dirigido por
Pácoro I e Tito Labieno, (soldado
professional romano), que se aliou com os partos e os serviu após o
assassinato de Júlio César.
Quanto aos romanos, Marco António atacou
a Arménia e Medos: uma das tribos de origem ariana que migraram da Ásia Cental,
para o planalto iraniano.
No início vitorioso, a sua campanha
virou desastre no ano 36 a.C..
Augusto que compreendeu que estava
lidando com um adversário importante com os partos, preferiu desistir do
confronto e escolheu a diplomacia.
No ano 20 a.C., ele assinou com Fraates IV um pacto de
amizade que fixou o rio Eufrates como fronteira entre os dois impérios, como sinal de boa vontade, restituiu as
águias tomadas a Crasso na batalha de Carras no ano 53, e permitiu o regresso
dos prisioneiros romanos.
Algumas moedas de Augusto comemoram este invento
Augusto – Denário cunhado em Roma pelo monetário Ferónia
no ano 19 a.C.
Anv./-Ferónia busto drapeado, com diadema à direita,
TVRPILLIANS III VIR FERON
Rev./-Parta de cabeça descoberta, ajoelhado à direita,
segurando o vexilo marcado com um X
CAESAR AVGVSTVS SING RECE
(Ref. RIC
I-288, BMCRE-14, RSC-484)
(Vexilo: em latin vexillum, era um
objeto em forma de bandeira utilizado no período clássico do Império Romano
como estandarte).
Em troca Augusto ofereceu a Fraates IV, uma escrava italiana,
“Musa”, com a qual casou e teve um filho, “Fraates V”, mais conhecido por
Fraataces que governou o império de 02 a.C. a 4 d.C..
Era o filho mais novo de Fraates IV. Em algumas moedas
apresenta-se associado à sua mãe Musa.
Musa intriga e obtém que os outros filhos de Fraates
sejam enviados para Roma.
Então afim de
não derrogar as tradições agora bem estabelecidas, Musa envenenou o seu
esposo. e depois de casar com o seu filho Fraates V, instalou-se no trono e
governou em seu nome.
Fraates V e Musa – Drachma, 03 a.C. – 02 d.C.
Anv./-Busto do rei à esquerda a ser coroado por duas Vitórias
Rev./-Busto da rainha à esquerda,
θEAC OYPANIAC MOYCHC BACIΛICCHC
(Ref. BMC-25, Mitchiner-608)
Musa foi a única
rainha parta a ser representada em raríssimas moedas de prata, muito procuradas
pelos colecionadores.
Drachmas
portadores da efígie de Fraates e
Musa, também foram emitidos pelas cidades de Ecbátana Rhagae (ou Rhaganae) em
número consideravelmente menor.
Tetradrachmas também muito raros foram cunhados em
Selêucia e alguns pequenos bronzes em Ecbátana.
Ao usar uma tiara ricamente decorada, Musa exibe
inequivocamente sua qualidade de rainha.
ƟEAC OYPANIAC MOYCHC BACIΛICCHC (Deusa Urânia - Rainha Musa) rodeia a
imagem de Musa em drachmas de Ecbátana, (a titelature do drachma de Ray ou
Rages também difere um pouco.
A alusão à musa
Urânia pode surpreender, mas não é un caso único no mundo oriental nos nossos
dias.
A irmã e esposa
de Tigranes IV da Armênia, contemporâneo de Musa, identificou-se à musa Erato (musa da poesia românica), e a esposa do
rei Bactriana Hermaios, tomou o nome de Calíope. (Esta foi a primeira das nove musas da mitologia grega, filhas
de Zeus e Mnemosine).
Quando Vonones
I, (também denominado Vonones I de
Pártia) filho primogénito de Fraates IV, regressou de Roma (onde passou algum tempo para
assegurar a sucessão ((após o reinado efémero de Orodes III)), o seu
comportamento manifestamente ocidentalizado, depressa desiludiu a
aristocracia parta que o tinha chamado.
Nas suas moedas
o rei é representado com cabelos curtos à moda romana, e uma legenda circular
com o seu nome, exatamente como nos denários romanos.
Mais, ao meter
Nike no reverso da moeda, em vez do tradicional rei sentado com um arco na mão,
Vonones I se desmarca completamente dos seus antecessores, uma decisão que não
teve o sucesso que ele esperava!
Vovones 1 – Drachma cunhado em Ecbátana por cerca de 8-12 a.C.
Anv./-Busto do rei à esquerda de barba afilada e cabelo curto
BAΣIΛΣ ONΩNHΣ
Rev./-Niké à esquerda com uma palma na mão
BAΣIVEYΣ ONΩNHΣ NEIKHΣAΣ
APTABAN(ON)
(Ref. Sellwood-60-5, Shore-329
Romanos e Partos
continuam a se disputar a Armênia que como Palmira desempenha um rolo principal
entre as duas potências.
No ano 59, Cneu
Domício “Córbulo” um general do imperador Nero, conseguiu devastar a Armênia, e
ali instalou um príncipe para representar Roma.
Vologases que no
início concordou, quando finalmente se envolveu no conflito, um acordo
inesperado foi concluído entre vologases e Nero.
Foi o imperador
Nero que coroou “Tirídates “, irmão de Vologases como rei da Armênia, seguido
por um longo período de paz.
Nero – Áureo cunhado em Roma em 64-65
Anv./-Nero laureado à direita
NERO CAESAR AVGVSTVS
Rev./-Templo de Jano (deus
representado com dois rostos) com as portas fechadas
IANVM CLVSIT PACE P R TERRA MARIQ PARTA
(RIC-50, Cohen-114, BMCRE-64, CNB-211, RCTV-1929)
O templo de Jano
só fechava as portas em raras ocasiões: “em tempo de paz com o resto do mundo”.
As portas eram abertas em tempo de guerra, para que o deus pudessesse sair em
socorro dos romanos.
Por ser
representado com dois rostos, Jano também era considerado o deus das portas,
porque também há duas possibilidades de abrir uma porta.
Entre o reinado
de Numa Pompílio (segundo rei lendário de Roma, 715-672 a.C.,) e o reinado de
de Augusto, 27 a.C.-14 d.C, as portas só foram fechadas duas vezes e apenas
nove em mil anos.
Jano
No ano 114, o
imperador Trajano lançou uma nova ofensiva contra os partos.
Começou por
invadir a Armênia,depois em 116, depôs Cosroes I e emparou-se de Ctesifonte, a
capital Parta.
Há um áureo com
a legenda “PARTHIA CAPTA”, um exagero porque Trajano so controlou a
Mesopotâmia.
Trajano – Áureo comemorativo cunhado entre fevereiro e setembro do ano 116
Anv./-Trajano laureado à direita
IMP CAES NER TRAIAN OPTIM AVG GER DAC PARTHICO
Rev. Dois cativos em atitude triste, sentados em cima de um escudo entre um
troféu de armas composto por um capaceto, couraça, dois escudos e um globo. Em
frente de cada prisioneiro um arco e aljava.
Legenda circular PM TR P COS VI PP
SPOR
Por baixo dos prisioneiros a legenda
PARHTIA CAPTA
(Rev. RIC II-325,
Calicó-1037, Woytek-560t I var. BNC-864var.)
Os partos fiéis a Cosroes I, reuniram as suas forças contra
Trajano que não conseguiu manter a sua posição durante muito tempo.
Antes de ser obrigado a recuar e ali perder a vida, Trajano
colocou no trono da Pártia “Partamaspates”um rei fantoche escolhido por Roma.
Um sestércio cunhado cunhado por Trajano no ano116,
com a legenda no reverso “REX PARTHIS DATHIS”, faz alusão a este evento).
Trajano – Sestércio cunhado em Roma
no ano 116
Anv./-Trajano laureado e drapeado à
direita
IMP CAES NERO AVG GER DAC PARTHICO
PM COS VI PP
Rev/-Trajano sentado numa plataforma
com um militar à sua direita coroando Partamaspates: um parto ajoelhado diante
do novo rei.
REX PARTHIS
DATHIS SC
(Ref. RIC-667, Cohen-328,
BMC-1046, sEAR-3191)
Partamaspates – Drachma cunhado
(possivelmente em Ekbatana) no ano 216
Anv./- Partamaspates à esquerda com
a tiara ornamentada com estrelas
Rev./-Arqueiro sentado num trono com
um arco; legenda grega ilisível, no campo AΓT
(Ref. Sear-5848, BMC-23,201)
O imperador Trajano preferiu assinar a paz e abandonar
as conquistas de Trajano.
A retomada das hostilidades ocorreu em 162, novamente
com a Armênia como pretexto.
Vologases IV da Pártia, depois de se ocupar da Arménia
invadiu a Síria
Marco Aurélio enviou Lúcio Vero para o Oriente
Entretanto uma epidemia de peste devastou o exército o
exército Parta.
Mais uma vez a Ermênia se encontrou sob o domínio
romano, e Avidus Cassius (um general de Lúcio Vero), aventurou-se até
Ctessifonte que ele submeteu em 165
O imperador
Adriano preferiu assinar a paz e abandonar as conquistas de Trajano.
A retomada das
hostilidades ocorreu em 162, novamente com a Armênia como protexto
Marco Aurélio
enviou Lúcio Vero para o Oriente.
Vologases IV da Pártia, depois de se ocupar da Arménia
invadiu a Síria.
Entretanto uma
epidemia de peste devastou o exército Parta.
Mais uma vez a
Armênia se encontrou sob o domínio romano, e Avidus Cassius (um general de Lúcio Vero), aventurou-se
até a Ctessifonte que ele submeteu no ano 165.
Os romanos por
sua são afetados pela epidemia da peste quando atacavam medos, e foram
obrigados a recuar.
Os partos muito
afetados e fracos, resolveram abandonar a parte ocidental da Mesopotâmia aos
romanos, Um enésimo tratado de paz foi assinado , e a calma manteve-se até 192.
Embora não
tivessem participado pessoalmente nestas operações militares, Lúcio Vero e Marco Aurélio foram recompensados com os
títulos de Armenicus e Parthicus e, para comemorar este evento, um grandioso
festejo foi celebrado em Roma em outubro de 166.
Lúcio Vero – Denário cunhado em Roma em 165
Anv./-Lúcio Vero cabeça nua a direita
L VERVS AVG ARM PARTH MAX
Rev./-Parta sentado à direita com as mãos amarradas atrás das costas, aljava, arco e escudo
TR P V IMP III COS II
(Ref. RIC-514, RSC-274ª)
Marco Aurélio – Áureo cunhado em Roma em 166-167
Anv./-marco Aurélio laureado à direita
M ANTONINVS AVG ARM PARTH MAX
Rev./-Vitória caminhando para a esquerda com uma coroa na mão direita e ima
palma na esquerda
TR P XII IMP V COS III
(Ref.
RIC-194, Sear-4871, BMC-471)
No ano 193, Pescênio
Níger é proclamado imperador em Antióquia.
Ele tem o apoio
das cidades sírias ricas, e obtém a aliança de Vologases V na luta contra
Septímio Severo pelo trono romano.
Na verdade, esta
aliança continua a ser uma mascarada, Niger foi excluído e Septímio Severo submeteu
a Síria.
Vologases V –
(191/208), Tetradrchma cunhado em Selêucia ?
Anv./-Vologases
à esquerda
Rev./- Tique (ou
Tiké) em pé, oferecendo um diadema ao rei sentado num trono
BACIΛEώC
BACIΛEώN / APCAKOY OΛOΓACOY / AIKAIOY / EΠIФANOYC
(Ref. Venda CNG
94 Nº 827
Uma vez só a
governar, Septímio utilizou o protexto dessa aliança com o seu rival para
iniciar uma nova guerra contra os Partos.
Vologases V,
ocupado com as brigas internas no seu império, não conseguiu impedir o
progresso dos romanos.
Septímio Severo
tomou e saqueou Ctesifonte em 198, mas foi obrigado a abandonar a cidade antes
da ofensiva parta e, para evitar um combate incerto, foi forçado a restituir prisioneiros
e o fruto do saque.
Septímio Severo – Àureo cunhado em Roma, 198-200
Anv./- Septímio laureado e drapeado à direita
L SEPT SEV AVG IMP XI PART MAX ;
Rev./-Vitória com uma grinalda e um troféu avançando para a esquerda: aos
seus pés um cativo sentado
VICT P-AR-T-HI-C-AE
(Ref. RIC IV-142b, Cohen-741v)
Septímio Severo e Caracala – Áureo cunhado em Roma 201-202
Anv. Busto de Septímio e Caracala laureados e drapeados
IMPP INVICTI PII AVGG;
Rev. Vitória com uma grinalda e uma palma avançando para a eaquerda
VICTORIA PARTHICA MAXIMA
(Ref. RIC-311, Sear-6516,
BMC-265)
Após a morte de
Velogases V, os seus dois filhos Velogases VI e Artabano IV, querelam-se pelo
poder. Esta nova disputa de sucessão anuncia a agonia da dinastia Arsácida da Pártia.
Velogases VI (208-228) – Drachma
Anv. Busto do rei à esquerda
Rev./- Rei sentado, com um um arco na
mão e legendas ilisíveis
(Ref. Venda Triskeles 9, Nº 42)
Artabano IV – Drachma, reinou de 213
a 224
Anv./- Busto do rei à esquerda
Rev, Rei sentado com um arco na mão, legendas partas ilisíveis
Artabano IV, foi o último rei dos partos da Dinastia Arsácida
No ano 216
Caracala que por sua vez sonha com sucessos fácies, aproveitou a oportunidade
para iniciar uma campanha no Oriente.
Para poder
entrar na Mesopotâmia com seu exército, Caracala simulou o desejo de selar a
paz com os partos, com uma união com a filha de Artabano IV, aliança que este rejeitou.
Nesta contenda
Caracala atacou à traição, e Artabano conseguiu escapar à morte, por pouco.
O Estado-Maior Romano
para se livrar dum líder abominável e, para se proteger contra a ira dos Partos, mandou assassinar Caracala e
proclamou Macrino imperador.
Após a morte de
Caracala, Artabano concluíu um breve acordo
de paz com o seu sucessor Macrino.
Caracala – Antoniniano de prata cunhado
em Roma, cerca de 217
Anv./-Caracala com coroa radiada e
drapeado à direita
ANTONINVS AVG GERM;
VICT PARTHICA
Rev./-Vitória sentada numa couraça à
direita, segurando um escudo com a inscrição VO XX, en duas linhas
(Ref. RIC-314b, RSC-656c)
Artabano IV que
esperava uma nova oportunidade. precipitou-se sobre Macrino, e os romanos só
limitaram o desastre ao preço de uma capitulação e um pesado tributo.
No entanto, esta
desfeita não impediu Macrino de proclamar a sua vitória sobre os Partos no
reverso da suas moedas, o que relativiza um pouco a credibilidade da
numismática!
Macrino – Asse cunhado em Roma em 218
Anv./-Macrino laureado e drapeado à direita
IMP CAES M OPEL SEV MACRINVS AVG
Rev./- Vitória à direita, sentada numa couraça com um escudo na mão
esquerda
VICT PARTIE P M TR P SC
(Ref. RIC-166, Cohen-140,
BMC-135)
Para concluir
estes conflitos entre romanos e partos, embora cidades importantes como
Ctesifonte ou Cêleucia tenham sido várias vezes dominadas pelos romanos, todas
as tentativas de se impor no Oriente fracassaram. Mesmo a simples questão da
Armênia nunca foi resolvida de mode permanente.
Quanto aos
partos, os sucessivos confrontos com os romanos aos poucos arruinaram a
economia do Império, favorecendo as disputas dinásticas e minando o poder
central em benefício das ambições dos príncipes locais.
Aproveitando a
rivalidade entre os sucessores de Velogases V, Artaxes I (224-241), tornou-se
mestre da província de Fars (ou Pars, Perside).
Artabano IV, morreu
em combate no ano 224, 3 anos depois Velogases VI foi destronado, facto que ocasionou o fim da dinastia Arsácida.
MGeada
Bibliografia
André Verstanding; Histoire de l’Empire Parthe, Bruxelles, Le Cri de l’Histoire, édition 2001.
Diáo Cássio, Livro LXVI, capítulo 19.
Dião Cássio, História Romana. Livro LXXX
Les Parthes; l’histoire d’en empire méconu, rival de
Roma, Dossiers d’archéologie nº 271-, mars 2002.
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