O primeiro fato controverso da
vida de Messalina é a sua data de nascimento.
Alguns historiadores apontam o
ano 17, porém é quase certo que tenha nascido entre os anos 20 e 25.
Filha de Barbatus Messal e Domícia
Lépida, Messalina era também neta de Antónia a Velha, de Lúcio Domício e
bisneta de Marco António.
Descendente de família nobre
romana, Messalina casou com o imperador Cláudio no ano 38 ou 39, teria 13 ou 14
anos, idade legal de casamento para uma romana nessa época.
Uma rapariga com esta idade não
podia ter ambições políticas.
Para a família Messala, o
casamento de Messalina com Cláudio foi de grande conveniência visto que Cláudio
era o único parente vivo de então imperador Calígula.
Para Cláudio esta união também foi
importante, dado que Messalina era descendente de uma familia nobre, não esquecendo a sua idade avançada (cerca de 50 anos), e os seus defeitos físicos:
coxo, gaguejava e o mau hábito de cuspir enquanto falavava.
Messalina foi a terceira esposa
de Cláudio do qual teve dois filhos.
Cláudia Otávia no ano 40 (futura esposa do imperador Nero), e
Britanicus (Britânico) no ano 41, três semanas após a nomeação de Cláudio ao
principado.
Messalina- AE 18 cunhado em Eólia (ou Eólida)
41-48
Anv. Busto de Messalina drapeado à direita,
CEBACTH MECAɅEINA
Rev. Zeus nu, com um bastão na mão esquerda e uma águia
na direira,
AIΓAEION
Messalina- AE
23cunhado em Niceia, Bitínia, 41-48.
Anv. Busto
drapeado de Messalina à esquerda
MEΣΣAɅEINA ΣEBAΣTH NEA HPA
(Messalina
Augusta Nova Hera)
Rev. Templo de
Hera Niceia
ΓAΔIOΣ POϒФOΣ ANΘϒΠATOΣ
(Caius Claudius
Rufus Procônsul)
Apesar da reputação (libertina) da sua esposa, a paternidade de Cláudio nunca
foi posta em causa.
Segundo os historiadores nos primeiros tempos de vida comum, tudo
indicava ser um casal feliz, mas as coisas complicaram-se aquando da elevação
de Cláudio ao poder supremo.
Tirânica, logo que ascendeu ao
poder e como primeira dama do império, Messalina impôs-se como uma imperatriz de
uma malvadez sem limites com três
principais objetivos.
A continuidade dinástica, os seus
amores clandestinos, e o gosto pela riqueza.
Célebre pelo seu invulgar apetite
sexual, (a história também lhe atribui algumas
ações complacentes), a imperatriz
tornou-se a imagem do escândalo e da luxúria,
que segundo o escritor Juvénal não hesitava prostituir-se publicamente
nos bordéis de Subura e, transformou parte do palácio imperial num autêntico
lupanar.
Aqui Messalina (segundo Dion Cassius LX, 18) não só
exercia a sua própria devassidão, como também convidava, incentivava e obrigava
outras mulheres a prostituir-se com os seus próprios amantes entre os quais
alguns nobres, legionários e mesmo escravos na presença dos maridos.
Por estes homens que consentiam,
sentia amizade e mesmo admiração que ela
recompensava com honras e postos de
comando.
Para quem rejeitava estas obscenidades:
odiava-os, conspirava para os rebaixar e por vezes mandava assassinar.
Messalina
e Antónia- AE 17 cunhado em Capadócia (Cesareia) 41-48.
Anv. Busto de Messalina laureado e
drapeado à direita.
Rev. Busto de Antónia (sua avó)drapeado à direita.
Tudo isto se praticava com muita
frequência e Cláudio levou muito tempo a perceber o que se passava no seu palácio.
É certo que Messalina fazia tudo
para o distrair o imperador, metendo escravas na sua cama e ao mesmo tempo
recompensar quem a encobria, e castigar severamente alguém em que não tivesse
confiança e pudesse avisar o marido da atividade da esposa.
Exemplo: no ano 43, por suspeitar
da fidelidade de Catonius Justus comandante da Guarda Pretoriana, mandou-o
assassinar.
O mesmo aconteceu a Júlia, filha
de Druso e neta de Tibério, entretanto esposa de Nero (sobrinho de Cláudio) da qual ela tinha ciúmes.
Alguns historiadores contemporâneos
tendem todavia embelezar a vida de Messalina, mas todos reconhecem a realidade
da devassidão, da libertinagem da imperatriz, enquanto outros dizem que não era
um caso único.
É certo que outras damas do
império foram libertinas, mas Messalina direi que foi um caso excepcional.
Cláudio e Messalina - AE 20, cunhado em
Creta, cerca do ano 43.
Anv. Cabeça de
Cláudio laureada à esquerda.
TI KLAUDIUO
KAESAR GERMA SEBASTOS GERMA
(Tibério Cláudio
César Augusto Vencedor dos Germanos .
Rev. Messalina
com diadema e drapeada à direita.
OUALERIA
MESSALEINA
(Valéria
Messalina)
Cláudio e Messalina-AE 17 cunhado em
Paflagónia (ou Paflagônia) 40-41.
Cabeça de Cláudio
laureada à direita.
CLAVDIVS CAES AVG
CIF ANNO LXXXVI
Rev. Busto de
Messalina drapeado à direita.
MESSALINA AVGVSTA
Se a história tem enegrecido a personalidade de
Messalina, o seu comportamento não é sem
precedentes na sociedade imperial.
Depois da morosidade durante o
reinado de Augusto, os comportamentos libertaram-se subitamente durante os
primeiros anos do reinado de Tibério.
Algumas matronas não hesitaram
inscrever-se na lista das prostitutas recenseadas pelas autoridades, para poderem amar livremente sem temer qualquer penalidade.
Em Roma os lupanares situavam-se
no populoso Bairo de Suburra e, era numa destas casas na cela com o nome de
Lyscica inscrito na porta, que a esposa
do mal-aventurado Cláudio se oferecia à lubricidade pública, por encontrar que
os amantes ( nem sempre eram escolhidos
com grande delicadeza) que tinha não lhe davam o prazer que ela desejava.
Quão grande sanguinária como
prostituta, era sobre este desprezível caráter de cortesã de baixa escala que
Juvénal (poeta satírico latino do fim do século I) a considerava.
Quantos homens perderam a vida
apunhalados por um escravo sob as suas
ordens por terem rejeitado as suas propostas de amor, ou por terem
divulgado a sua relação amorosa com a imperatriz.
Messalina tinha por hábito
escapar-se do palácio aproveitando a escuridão da noite, escondendo o seu
cabelo negro com uma peruca loira, os
seios cobertos com um manto de ouro, e acompanhada por um escravo (seu cúmplice) que a guardava, e espiava os passantes nas ruas
que conduziam aos bairros baixos de Roma.
Ao passar a porta do prostíbulo
frequentado pela classe mais baixa de Roma, entrava na cela da pretensa Lyscica e ali permanecia
até satisfazer o seu apetite sexual.
Pela madrugada era necessário
expulsar deste lugar maléfico, esta loba insaciável ainda que morta de fadiga.
Nao havia diferença entre esta imperatriz
prostituta imunda e feroz, com as meretrizes
gregas ou romanas, ou com a menos ilustre das cortisãs gregas, ainda que muito perversa
e cobiçosa.
Em Messalina não havia mais que
lubricidade bestial.
A sua vida foi marcada por um
excesso de prazeres lascivos, extravagantes, e crueldade sanguinária.
Uma loucura monstruosa que
aproveitou um poder que não estava previsto, para exercer as suas paixões lúbricas.
(Segundo o escritor C. E. Beulé (escritor e arqueólogo
1826-1874), nos personagens do século de Augusto havia um excesso de atividade
libertina que era necessário reprimir.
Um temperamento que os princípios e uma vigilância severa teria grande
dificuldade em conter.)
Na sua pessoa, o prazer
amargo dos sentidos e a fúria do
temperamento, tinham absorvido, desnaturado, exterminado, devorado as outras forças.
Não havia nela amor pelas artes,
pelas letras, a delicadeza intelectual que muitas vezes substitui a moral, nem
sequer a presunção feminina da qual a máscara por vezes ainda se aparenta com a
virtude.
Cláudio e Messalina-Tetradracma cunhado em
Alexandria, 42-43.
Cabeça de Cláudio
laureada à direita.
TI KɅAYΔI KAIΣ ΣEBA ΓEPMANI AYTOKP
Rev. Messalina
com véu, diadema e drapeada à esquerda, com duas espigas no braço esquerdo, e o direito
estendido com duas crianças na mão, (Britânico
e Octávia).
MEΣΣAɅI NA KAIΣ ΣEBAΣ
Cláudio e Messalina, AE 18 cunhado em Knossos,
cerca de 48.
Anv. Cabeça de
Cláudio à esquerda.
CLAVDIVS CAESAR
AVG GERMANICVS
Rev. Messalina
drapeada à direita.
VALERIA MESSAL
Minada pelo vício, escrava do seu
corpo, a volúpia era o quotidiano deste ser
que, por não estar sujeito a qualquer repressão, desenvolveu-se como uma doença
crónica.
Todos os vicíos que um poder ilimitado
lhe permitia satisfazer, levavam fatalmente à mesma atividade : a voluptuosidade.
Uma das maiores obcenidades que
lhe são atribuidas, foi quando Messalina
se interessou pelo seu padrasto Ápio Silano, (segundo esposo da sua mãe)
que não cedeu às suas investidas.
Messalina que não lhe perdoou esta ofensa, conspirou contra
ele e Cláudio deu ordens para que Ápio fosse executado.
Cláudio, Informado por Tibéruis
Claudius Narcissus (um dos seus espiões)
acabou por descobrir que além da sua deboche, de todos os escândalos, inclusive
a sua prostituição em bordéis imundos, Messalina também tinha esposado o seu
amante Gaius Silius, com um contrato de casamento em boa e devida forma.
A gota de água que fez
transbordar o vaso.
Cláudio assinou o contrato de
casamento, porque lhe disseram que o documento era uma forma de o proteger e
condenar outros contra uma ameaça que alguns bruxos tinham anunciado.
O imperador não perdoou esta
ofensa, e deu ordens para que fosse assassinada, o que aconteceu no ano 48 nos
jardins de Lucullus.
Informado da morte de Messalina
quando se encontrava num banquete com alguns amigos, Cláudio nem perguntou quem
a tinha matado, apenas pediu para lhe encherem o copo e continuou a comer. (Suetónio,
Cláudio, 26, (Pag. 13/19)2
Cláudio e
Messalina AE 20 cunhado na Lídia, 43-49
Anv. Bustos laureados e drapeados de Messalina e
Cláudio.
TI KɅAY KAI ΣEBAΣ
Rev. Britânico em pé vestido com a toga, e espigas
de milho na mão direita.
(Toga:
peça de vestuário característica da Roma Antiga.)
Assim pereceu a incarnação da luxúria.
Quanto a Cláudio, após alguns dias de silêncio declarou que não voltava a
casar.
Esta é uma história quase
incrível e muito controversa, mas sem dúvida com alguma verossimilidade.
Uma análise desta estranha
personalidade da Roma Imperial, “Messalina”, uma mulher fatal, da qual ainda
fica muito por contar.
MGeada
Bibliografia
Gérard Minaud ; Les Vies des
Douze Femmes D´Empereur Romain-Devoirs, Intrigues & Voluptés, Paris,
L´Hammatan, 2012, chap. 2, La vie de Messaline, femme de Claude, p. 39-64.
Pierre Grimal ; L´Amour à
Rome, Petite Bibliothèque Payot, 1995.
Dina Sahyouni, Le Pouvoir
Critique des Modeles Féminins dans les Mémoires
Secrets : Le Cas de Messaline.
Paul Veyne : La Société
Romaine, Points Histoire, Editions du Seuil, 1995.
Jean-Yves Milton :
Messalina
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