Filho de Amilcar Barca (cerca de 270-228 a.C.),
Aníbal nasceu na Bitínia e passou parte da sua juventude com o seu pai em
campos militares na Espanha.
General e homem de estado, (um dos maiores líderes
da história) cresceu num ambiente familiar que odiava os romanos e, ainda
adolescente distinguiu-se pela sua bravura e inteligência.
É hoje impossível saber de onde veio a iniciativa
da grande expedição que ele empreendeu contra Roma.
Seria um plano de Cartago?
Uma ideia do seu pai ou sua comitiva?
Ou seria um projeto imposto a um estado cujos
chefes estabelecidos em Espanha não eram totalmemte independentes?
Aníbal provocou o furor dos romanos ao atacar a
pequena cidade de Sagunto (históricamente conhecida por Morvedre) perto do rio
Ebro (um dos maiores rios de Espanha) violando assim o tratado entre Roma e
Cartago.
Apesar da resistência lendária dos seus
habitantes, após um cerco de oito meses a cidade foi completamente destruída no
ano 218 ou 219 a.C..
Seria mesmo un ato intencional de Aníbal para
provocar os romanos?
Nesta área controversa segundo a opinião de J.
Carpopino (historiador e especialista da Roma Antiga) foi Aníbal o responsável
deste conflito.
Com a guerra declarada, Aníbal lançou uma
expedição por via terreste.
Sem mapas exatos do mediterrâneo, o general terá
feito um cálculo errado dos itinerários possíveis para Roma.
Duplo shekel de
prata 247-183 a.C. , cerca de 213- 210
a.C.
Anv. Aníbal ou Triptóleno ? , laureado à esquerda.
Rev. Cornaca ou Aníbal ?, montado num elefante à direita.
(Faz parte do tesouro encontrado em Mogente, (Valência-Espanha)
(Conhecidas
a poucos exemplares estas moedas são célebres pela representação do elefante no
reverso.
Este animal
emblemático foi utilizado durante a segunda Guerra Púnica pelas tropas
cartaginesas comandadas por Aníbal.
A travessia
dos Alpes com estes paquidermes é uma das maiores façanhas militares da
antiguidade .
O retrato
laureado do anverso é tradicionalmente designado por Triptólemo (herói cujo
culto estava associado à deusa Deméter e
à agricultuta) ou Melcarte, (divindade
titular da cidade fenícia de Tiro,
importada pelos colonos fenícios fundadores de Cartago).
Os traços realistas do rosto e a
presença do bigode sugerem no entanto
que estamos aqui em presença do retrato de um dos membros da família de Amilcar
Barca.
Se a
ausência de representação contemporânea não permite a atribuição certa, a
escolha de Aníbal é perfeitamente pausível, o que faria desta moeda o único e
verdadeiro retrato do célebre general.)
Inicialmente com um exército composto de africanos e iberos, e a esperança de pelo caminho aliar povos inteiros à sua causa, Aníbal
saíu do país púnico já com um exército de cerca de 100 000 homens, 37
elefantes de guerra e, terá perdido metade do seu efetivo antes de encontrar os
romanos comandados por Publius (Públio
Cornélio Cipião) que chegaram tarde demais para impedir Aníbal de sair do
Ebro e continuar a sua progressão.
Shekel AR, cerca
de 221-216 a.C.
Anv. Cabeça de
Melkart ou Aníbal, laureada à esquerda.
Rev. Elefante à
direita.
Depois de alguns combates rudes com algumas
tribos naturais do norte da Espanha, na Gália teve que evitar algumas tropas
gaulesas inquietas, em particular na travessia do Reno para lhes escapar.
Aí também os romanos perderam a ocasião : quando dias depois Cipião
chegou de Marselha, já era demasiado tarde.
Quanto à rota que Aníbal seguiu para atravessar os Alpes, todas as hipóteses
foram emitidas pelos historiadores.
Hoje os itinerários do Isère e do
Monte Cenis (2 081 m) são os mais
credíveis, todavia tinha que ser um itinerário difícil, de maneira a surpreender o
adversário.
As passagens estreitas, a neve, as embuscadas dos montanheses, levou a que
o exército de Aníbal chegasse exausto e reduzido à Itália, numa planície que
Roma não tinha previsto defender.
Aníbal venceu o general romano Públio Cornélio Cipião na batalha do Ticino
travada em novembro de 218 a.C., e novamente na batalha do Trébia em dezembro
do mesmo ano.
Uma das consequências da derrota dos romanos na batalha do Ticino, foi a deserção
das tribos gaulesas do norte da Itália, porque a maioria destes homens tinham sido incorporados à força no exército
romano.
Estes soldados 2 000 de infantaria e
200 de cavalaria, uma noite no acampamento conspiraram e massacraram todos os
romanos enquanto dormiam.
Quando pela manhã estes gauleses se apresentaram perante Aníbal para
combater ao seu lado, este enviou-os para as suas tribos respetivas, com o
objetivo de as convencer a declarar guerra a Roma.
Algumas legiões romanas, defendiam Arezzo no sopé dos montes Apeninos (cordilheira que se estende quase ao longo de toda a Itália).
Aníbal contornou este obstáculo passando por uma planície inundada pelo rio
Arno, onde o seu éxército teve grandes dificuldades e alguns animais morreram afogados.
Foi aqui que Aníbal perdeu um olho com uma oftalmia : fato que não o
impediu de saquear a cidade sob os olhos dos romanos que não resistiram à
provocação e foram massacrados numa passagem estreita no Lago Trasimeno (cerca de 128 km2 e 258m acima do nível do mar) pelos púnicos
liderados por um grande mestre de estragégia militar no ano 217 a.C..
(O saque foi muito valioso, também
incluia as minas de ouro de Vercelli, “o cofre forte” romano).
Roma sem defesa, aguardava a decisão de Aníbal que não decidiu atacar antes de restaurar o seu exército, e rever a melhor maneira de atacar, baseando-se sobre o que tinha aprendido com a infantaria romana. Atacar na ocasião propícia, ou talvez esperar por uma possível deserção dos italianos, tal como aconteceu com os gauleses.
Como a rebelião esperada não aconteceu, Aníbal dirigiu-se para sul da província, e em Canas no
dia 2 de agosto do ano 216 a.C., derrotou um exército romano duas vezes
superior ao seu.
Roma encrontrou-se novamente indefesa : Aníbal que podia triunfar e
gozar a sua vitória, não atacou!
Alguns historiadores encontram algumas razões como : a espera por reforços de Cartago : (Aníbal esperou dez anos).
A demora do aliado macedónio.
A dificuldade nesse tempo de tomar uma cidade de assalto.
Ou ainda a fidelidade da Itália Central a Roma, contrariamente à Itália
meridional que se aliou massivamente à causa púnica.
Meio Shekel AR
cerca de 214-210 a.C.
Anv. Cabeça de
Melkart à esquerda.
Rev. Elefante à
direita.
Desconhecemos o motivo exato desta decisão, mas sabemos
que deixou as suas tropas gozar as delícias gregas em Cápua, até ao dia em que
os romanos decidiram cercar esta cidade.
O general conseguiu atirá-los para outros campos de batalha e
derrotou-os em várias ocasiões, tomando
ao mesmo tempo algumas cidades costeiras :
Tarento, Heraclea, Thurium (Túrio),
Metaponte.
Todavia Aníbal não conseguiu que os romanos
levantassem o cerco de Cápua.
É no contexto destas operações de diverção que devemos situar a
sua marcha sobre Roma, no ano 211 a.C..
Ao avistar a cidade, Anibal acampou alguns dias na
margem do rio Anio, ao mesmo tempo que examinava as muralhas.
Um violento temporal não permitiu que o general
preparasse a batalha, que teve lugar numa planície.
Anibal e o seu exército deviam recordar aos
romanos um terror lendário, e ao mesmo tempo estima para com o adversário.
Entretanto pouco tempo depois Cápua caíu sob o
poder dos romanos, que trataram a população da cidade, com grande barbaridade.
Haníbal sofreu com tanta crueldade, pois toda esta
diversão tinha como objectivo desviar a atenção dos romanos de Cápua.
Duplo shekel AR,
cerca de 213- 210 a.C.
Anv. Cabeça
de Tripoleno laureada à esquerda ?.
Rev. Elefante
caminhando para a direita.
A guerra continuou sem um objetivo certo, mas não
sem fazer grandes estragos.
Em 210 a.C., o exército de Aníbal que tinha tomado
e saqueado 400 localidades do sul da Itália, (por estas se terem aliado novamente à causa de Roma) começou
a perder terreno e gradualmente foi empurrado para Brutum (Brútio atual Calábria Ulterior).
Apesar da fidelidade vacilante dos latinos, no ano 209 a.C., e da chegada
tardiva dos seus irmãos Asdrúbal (Barca)
e depois Magão, reforços enviados por Cartago, Aníbal foi obrigado a manter-se num
território cada vez mais restrito.
Quando no ano 203 a.C., após o desembarque de Cipião
na África, e Cartago pediu a Aníbal que regressasse, este já só ocupava Crotone
e as sua imediatações.
Foi nessa ocasião que Aníbal mandou gravar as suas
proezas na fachada do templo de Hera Lacínia : (façanhas que ele pensava já concluídas).
Depois de saquear
Brutum, rumou para a África e encontrou Cipião com a esperança de poder
negociar . Como não teve possibilidade, desencadeou-se a batalha de
Zama (19 de outubro 202 a.C.),
em condições que de início já lhe eram desfavoráveis.
A desordem fez o resto : Cartago foi derrotada
no ano 202 a.C., e Aníbal obrigado a aceitar as duras condições de paz impostas
por Cipião.
Depois de se tornar “sufeta” (um dos pricipais magistrados da antiga Cartago), realizou grandes
reformas, e restaurou a atividade económica.
Esta sua dedicação à política interna de Cartago, não
só inquietou Roma, como também os seus inimigos políticos. Além disso, ele
optou por se refugiar na corte do rei da Síria ; Antíoco III Magno, ou
Antíoco o Grande (222-187 a.C.), do
qual se tornou conselheiro.
Shekel AR, cerca
221-201 a.C.
Anv. Cabeça
masculina , Anibal ou Melkart ? , à direita.
Rev. Elefante à
direita M.
As intrigas da corte : o seu fracasso no ano
190 a.C, à frente de uma esquadra aquando da batalha naval que teve lugar na
embocadura do Erimedonte, (província
romana da Panfília, hoje Turquia), e
a paz de Apameia 188 a.C., (dois anos
depois da batalha de Magnésia entre Antíoco Magno e os romanos) levaram a
que ele se refugiasse na Bitínia, onde
prestou bons e leais serviços ao rei Prúsias (? por cerca de 183 a.C.), onde continuou a intrigar contra Roma, fizeram da sua velhice um período
de decepções.
Em todos os lados Roma alcançou vitórias e Cartago chegou a
duvidar da sua lealdade.
Suspeitando que Prúsias tencionava entregá-lo aos
romanos, Aníbal suicidou-se no ano 183 a.C..
Deste grande general “Anibal” apenas se conhecem
as ações e os historiadores esforçam-se para conhecer as suas intenções : tarefa
muito difícil.
Sabemos que além de grande guerreiro, foi também
um político que sempre procurou aliados contra Roma, e a coalizão que sempre
desejou formar com Siracusa e a Macedónia nunca a conseguiu.
Teimosamente sempre guerreou contra Roma, com uma
cruzada mal apoiada por Cartago, apenas ajudado nesta obstinação pelo seu
conhecimento das táticas militares macedónicas, um dos seus muitos conhecimentos
da cultura helénica, e sempre teve sobre o seu exército, autoridade e supremacia.
Segundo observou Camille Jullian (historiador
francês 1859-1933) talvez ele se tenha inspirasse nas suas qualidades de prudência,
teimosia e imaginação aventureira.
De alguns dos seus defeitos podemos citar : crueldade, e um prazer
imoderado de destrução e saque das cidades vencidas.
Julles Michelet (historiador francês 1798-1874) também não terá exagerado quando o
tratou de “condottiero” (mercenário que
controlava uma milícia sobre a qual tinha comando ilimitado, e estabelecia
contratos com qualquer estado interessado nos seus serviços).
MGeada
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