O homem que pretendia ser um deus
Caio Júlio César (CAIVS IVLIVS CAESAR) nasceu em Roma a 13 de julho do ano
100 a C. e faleceu a 15 de março de 44.
César nasceu no seio de uma antiga família patrícia (IVLIVS) romana e enquanto jovem viveu em Suburra, naquela época
bairro da classe média de Roma, mais tarde, o bairro dos pobres.
Segundo a lenda, a sua ascendência chegava a IVLVS, filho
do príncipe troiano Eneias e neto da deusa Vénus.
No auge do seu poder, César iniciou a construção dum
templo em Roma dedicado à Vénus Genetrix, em honra da sua divina antepassada, a
deusa Vénus.
Seu pai Caio Júlio César, era um simples cidadão, enquanto
sua mãe Aurélia pertência à ilustre família COTTAE.
Templo de Vénus Vitrix mandado construir por Júlio
César no ano 46 a.C., no Fórum Romano, VIII região.
Júlio César – Denário cunhado em
Roma em fevereiro ou março do ano 44 a.C.
Anv./- César velado à esquerda
CAESAR DICT PERFETVO
Rev./-Vénus Vitrix virada à
esquerda com uma Vitória na mão direita, cetro na esquerda e escudo cima de um
escudo
P. SEPVLLIVS (monetário)
(Ref. Crawford-480/13, CRI- 107d,
RSC-39)
Patrício, líder militar e político romano, desempenhou um
papel essencial na transformação da República Romana no Império Romano.
O seu destino excepcional marcou o mundo romano e a
história universal.
Ambicioso e brilhante, apoiou-se na corrente reformista e
demagogista para a sua ascensão política.
Chefe de guerra e hábil estrategista, alargou as
fronteiras do Império até ao Reno e ao Atlântico, antes de utilizar as legiões
para se emparar do poder e impor-se como
ditador à vida.
Júlio César – Denário legionário
cunhado no ano 40 a.C.
Anv./- Busto de César laureado à
direita S C
Rev./-Estandarte legionário cetro
e charrua
TI SEMPRONIVOS GRACCVS Q DESIG
(Ref. Crawford-525/4ª, Sydenham-1129)
Endeusado, foi o seu filho adotivo Octávio (Augusto) que
reformou a República Romana para dar lugar ao principado e ao Império Romano.
Suetónio que no início do século II da nossa era escreveu uma das mais famosas biografias de
Júlio César, relata que César faleceu com 56 anos de idade, e foi deificado (DIVINO
JÚLIO) não só por decisão dos senadores, mas também segundo a firme convicção
de Júlio César.
10-Augusto (Otaviano) e divino
César – Duponduo cunhado na Itália no ano 38 a.C
Anv./- Busto de Augusto à direita
DIVI F CAESAR
Rev./-Busto de Júlio César
laureado à direita
Mais tarde a plebe mandou erigir no Foro uma coluna com
cerca de 20 pés, em mármore da Numídia com a inscrição: Ao Pai da Nação.
Durante muito anos junto desta estátua, era hábito dos
romanos oferecer sacrifícios, pronunciar votos e resolver alguns conflitos,
jurando pelo nome de César.
Não é fácil evocar os sentimentos religiosos de Júlio
César, porque durante a sua vida já era considerado um verdadeiro mito
literário e político.
A sua fama alcançou-a em grande parte graças aos seus
comentários sobre a guerra das Gálias.
Denário em nome de Júlio César,
cunhado por Octávio numa oficina móbil na Gália Subalpina no ano 43.aC.
Anv/-Busto de Vénus com diadema à
direita
Rev./-Troféu de armas gaulesas
composto por uma couraça, escudo e uma zorra na base à esqueda; à direita um
escudo e duas lanças
(Ref. Carwford-480/1. Sydenham-1016)
Foi Hirtius um dos seus tenentes. que após a morte de César completou a sua obra
inacabada, terminando o oitavo e último livro.
Do teste de César, ele disse que «era uma uma verdade admitida
por toda a gente que não existe obra tão cuidadosamente escrita e, que ao bom
estilo e à elegância natural da expressão, César juntou o talento para explicar
os seus planos com uma exatidão absoluta».
Numerosos autores como Salústio, Virgílio, Horácio ou
Suetónio, ficaram fascinados por César.
Os maiores biófragos gregos e romanos escreveram a sua
vida.
César fascinou e irritou uns e outros. Lucan aprecia pouco César por o considerar culpado
pela guerra civil.
Quanto ao historiador grego Dião Cássio (Bitínia cerca
de 155-aprox.229), no início do século III escreveu na sua História Romana o
que ele pensa de César: «ninguém se decide
mais espontâneamente que César a cortejar e adular os homens menos
considerados, e não recuava perante algum discurso nem qualquer ação para obter
o que ambicionava.
Pouco lhe importava rebaixar-se um momento, se esse gesto
mais tarde servisse a torná-lo mais forte.
Segundo este
historiador, César tem muitos defeitos: além de calculador, ambicioso,
arrivista e cínico, também o tratou de populista.
Como descendente de família patrícia, isto impunha a César
uma série de consequência religiosas.
Aquando do funeral da sua tia ele terá pronunciado o
seguinte discurso sobre a sua ascendência:
Do lado da minha mãe, a minha tia é descendente dos reis:
Do lado do meu pai ela está relacionada com os deuses imortais.
Com efeito, é de Ancus
Marcius que são descendentes os Marcius Rex, e tal era o nome da sua mae; é de
Vénus que os Jules são descendentes e nós somos descendentes desse ramo.
Ela junta ao carácter sagrado dos reis que são os mestres
dos homens, a santidade dos deuses dos quais relevam mesmo os reis.
Ignoramos se este discurso foi efetivamente pronunciado
por Júlio César, ou se é apenas alguma invenção entre outras, de Suetónio que
podemos recordar escreveu um século e meio após a morte de Júlio César.
De qualquer modo as moedas emitidas por César mostram efetivamente que ele assumia plenamente e plublicamente esta ascendência divina e real.
Numa moeda emitida em 47-46 a.C., vemos numa face a cabeça
de Vénus, na outra Eneias trasnsportando (o pai) Anquises no ombro.
Júlio César – Denário militar
cunhado na África do Norte em 47-46 a.C.
Anv./- Busto de Vénus com uma
tira à direita
Rev./-Eneias com o pai Anquises
ás costas e paládio na mão direita
(Ref. Crawford-458/1, Sydenham-1013)
No entanto ao considerarmos as suas origens mitológicas,
notamos que todas as famílias patrícias da época tinham o seu próprio mito das
origens.
A família de César não era nenhuma excepção.
Também se pode dizer que não existe nenhuma separação absoluta
entre os fatos políticos religiosos.
Quanto ao resto, primeiro parece que César terá seguido pelo menos durante algum tempo um caminho religiosamente correto ou seja conforme os deveres de um jovem aristocrata.
Aos 17 anos ele é Flâmine (sacerdote) de Júpiter.
Em 63 a.C., ocasião em que a
sua carreira política já se encontra bem
avançada, tentou e obteve o cargo de Grande Pontífice que o propulsou a chefe
da religião romana.
Sobre este sujeito, Plutarco e
Suetónio, nas suas respetivas biografias concordam que César nao era um
candidato iligítimo, mas que também não era o o candidato ideal para suportar
este cargo.
Sobretudo as dois biografistas afirmam que César superou os
outros concurrentes, graças ás enormes quantidades de dinheiro que espalhou ao ponto que no dia da sua eleição disse à sua mãe: “Minha
mãe, hoje vai ver o seu filho Grande Pontífice, ou então banido” .
Júlio César – denário cunhado em
Útica no ano 46 a.C.
Anv./-Ceres com coroa de espigas
e brincos à direita
COS TERT DICT ITER
Rev./- Insígnias Pontificaes,
Simpulum, aspersor, vaso de sacrifício e lituus
AVGVR PONT MAX
(Ref. Crawford-4671/a, Sydenham-1023)
A crítica feita a César é a
sua ambição sem escrúpulos, e o seu despreso pela religião que ele comprou ao preço
do ouro.
Ao examinarmos as moedas de
César, nada deixa parecer um
comportamento religioso anormal; César apresenta-se voluntariamente como chefe
da religião tradicional romana: no reverso duma moeda emitida em 48/49, os
elementos do culto, são simpulum, aspersor, vaso de sacrifício et litius são
representados.
Este tradicional tema
religioso aparece com muita frequência
nas moedas de César, nomeadamente nesta moeda emitida no ano 46 a.C., e muitas
outras.
Será que podemos culpar o
Grande Pontífice, por qualquer que sejam as condições da sua ascenção a esta função, e
por ter assumido plenamente o seu papel?
Existe todavia nas moedas Césarianas um aspecto menos conformista
convencional.
Foi César o primeiro dirigente
romano (enquanto vivo) a representar a sua efígie em moedas.
Esta prática foi revolucionária; porque até a esta data
só os deuses ou heróis, as figuras
mitológicas e excepcionalmente alguns mortais falecidos depois de um
determinado tempo, podiam ser
representados.
César deu então um passo inovador, mas não gozou muito do privilégio divino de ver
o seu retrato nas suas moedas.
A reação republicana que o acusa principalmente de
aspirar à realeza, lembrou-lhe a sua condição humana, apunhalando-o mortalmente
nos ides de março do ano 44 a.C..
Após a sua morte César foi colocado entre os deuses e tornou-se DIVIS JVLIVS, o «Divino Júlio».
Denário com a efígie de Julio
César, cunhado por Augusto em 19-18 a.C.
Anv./- César laureado à direita
CAESAR AVGVSTVS
Rev./- Estrela com oito raios, um
deles é um cometa
DIVVS IVLIV
A cometa de César é conhecida
pelos autores antigos como sidus Lulium, (estrela Juliana) ou Caesaris
astrum(estrela de César
(Ref. Choen-98, RIC-253, Giard-1297)
Apesar de alguns sinais aparentemente fortes tais como: a
representação do seu retrato em moedas, não temos a certeza se César queria
realmente ser considerado como um deus enquanto vivo.
O historiador Velleius Paterculus (Marco Veleio Patérculo
ca. 19 a.C.-ca. 31), relata que, quem mais o odiava foi Marco António seu
colega durante o consulado, um homem pronto e disposto a qualquer ousadia.
Quando César estava sentado na rostra (rostrum, um pódio), aquando
das celebrações das Festas Lupercais e Marco António lhe colocou na cabeça a insignia da realeza na
cabeça, ele empurrou-o mas não ficou ofendido.
Júlio César – Denário emitido
na Gália Subalpina por Marco António, no ano 43 a.C.
Anv./- Busto de Marco António à
direita e lituus
M. ANTON
Rev./-Busto de Júlio César
laureado à direita
CAESAR DIC
(Crawford-488/1,
Sydenham-1165
Suetónio também evoca o mesmo episódio, e mostra que a
opinião pública romana perante a ascenção de César, se interroga sobre os seus
objetivos, e suspeitava que ele aspira ser rei de Roma.
Ele mesmo não consegue dissipar a suspeita da sua
ambição; cependente um dia quando a multidão o saudou com esse nome, ele
respondeu «que era César, não rei» e aquando das Lupercais na Tribuna da
Arenga, ele rejeitou o diadema que o consul Marco António tentou várias vezes
por-lhe na cabeça e pediu que o levassem à colina do Capitólio, ao templo de Júpiter: o Bom, o
Grande.
A significação do diadema é política e religiosa: César
ofereceu o diadema que recusou para ele mesmo a Júpiter, um verdadeiro deus.
Além disso,
Suetónio escreveu sobre César que ele passa por ter abusado do poder e
merecia ser assassinado.
Com efeito, na verdade não é suficiente aceitar as honras
excessivas como aconteceu durante muitos consulados, que se seguiram a ditadura
e a prefeitura dos costumos à vida, sem contar o prenome do imperador, o
sobrenome de Pai da Pátria, uma estátua entre os reis,
mas ele ainda permite atribuir-se prerrogativas que o elevam ao topo da
humanidade.
Júlio César – Denário cunhado em
Roma em abril do ano 44 a.C
Anv./-Busto de César velado e
laureado à direita
PARENS PATRIAE CAESAR
Rev./-C COS S SVTIVS AAR DIANVS,
no campo, A A A F F
(Ref. Crawford-480/19, Sydenham-1069)
César tinha no
Senado e no seu tribunal um assento em ouro, uma biga e uma maca na
procissao dos jogos do circo. Templos, altares, estátuas ao lado dos deuses, uma padiola de desfile ,
era Flâmine (em latim: Flamen) na religiao romana, um sacerdote a quem era
designado um dos deuses ou deusas patrocionados pelo Estado.), e deu o seu nome
a um mês do ano, JULIU.
Além disso, não existiu nenhuma magistratura que ele não
se atribuísse segundo a sua fantasia. (Suet., Caes 76).
Após tudo isto vemos que Suetónio pensava bem o que
dizia, que César mereceu ser assassinado: que ele tivesse tido ou não a
intenção de se fazer passar por um deus vivo, ele abusou de todas as formas do
poder.
Finalmente os autores antigos também fazem a César
censuras de ordem religosa.
César era agressivo e sacrilégio: como vimos, teria
comprado o cargo de Grande Pontífice.
Em suma, ele terá instrumentalizado a religião para
conseguir os seus objetivos políticos.
A prova de que César se serve da religião, Plutarco
encontra-a na maneira como César se comportou perante os Germanos de Ariovisto (foi
o chefe do povo germânico dos suevos), 101-cerca de 54 a.C.) durante a guerra
das Gálias.
· Júlio César – Denário cunhado em Roma no ano 44 a.C.
Anv./-César laureado à direita, simpulum e litius
CAESAR IMP
Rev./-Vénus em pé à esquerda com uma Vitória na mão direita,
lança e escudo na esquerda. no campo G
M. METTIVS
(Ref. Crawford-480/3,
CRI-100)
Segundo Plutarco o
ardor ao combate dos germanos é confuso devido às predicações das suas
sacerdotisas que pretendem conhecer o futuro pelo barulho da àgua, pelos
turbilhão que elas fazem nos rios, e dizem para que nao iniciem o combate antes
da lua nova.
César ciente desta predição e vendo os bárbaros
indecisos, pensou que a melhor maneira de ganhar a batalha era de os irritar
com algumas pequenas incursõs e não
aguardar o momento que lhes seria favorável.
Esta provocação irritou-os tanto que eles esqueceram os conselhos das
sacerdotisas e desceram dos seus refúgios na montanha para afrontar os romanos.
César não respeitou nada, nem sequer a supertição dos
bárbaros o que lhe valeu a vitória militar.
Geralmente os autores antigos concordam que César nao respeitava nem os preságios nem os muitos
sinais enviados pelos deuses.
Os exemplos são muitos. Suetónio conta que «nenhum escrúpulo religioso lhe
fazia abandonar ou diferer alguma das suas empresas ideias».
Apesar de uma vítima ter fugido- Quando uma vítima fugiu-
Ainda que a vítima figisse no momento em que ele se preparava para a imolar,
ele nao adiou a sua expedição contra Cipião e Juba. Mais no momento do
desembarque César caiu, e virando o presságio a seu favor disse: «África
conquistei-te» (Suet., Caes., 59).
Mais César teve a insolência de dizer ao ouvir um dia um Arúspice (nome dado aos antigos sacerdotes
romanos que adivinhavam o futuro mediante o exame das entranhas das vítimas) anunciar
que os presságios eram fatais e que a vítima não tinha coração:
«eles serão mais favoráveis quando eu quizer
e que não se deve ter como prodígio um animal que não tem
coração.
Esta citação refere-se a uma piada duvidosa e sacrilégio,
no mais puro estilo Suetoniano.
Embora se possa duvidar da sua autenticidade, que, no
entanto expressa uma ideia importante: César não respeitava as mensagens
divinas.
Segundo Valleius Paterculus esta incredulidade, esta
cegueira, causou mesmo a sua perca.
Os deuses imortais tinham-lhe portanto enviado bons
presságios e sinais do perigo que o ameaçava, e os Arúspices avisaram-no para
que desconfiasse dos ides de Março.
Calpúrnia sua esposa assustada com uma visão noturna,
implorou-o para que ficasse em casa esse dia.
Enfim entregaram-lhe alguns bilhetes que ele não chegou a
ler, para o avisar da conspiração.
Aconteceu o inevitável, a força que distorce o julgamento
daquele que quer mudar o destino.
Esta moeda tem no anverso a efígie de Bruto à direita e a
legenda
BRVT IMP L PLAET CEST
O reverso mostra-nos um boné frígio “sinal da liberdade”
que era dado aos escravos livres, ladeado por dois punhais.
Isto assinala a intenção de Bruto de libertar Roma das
ambições imperiais de Júlio César, e as armas destinadas para concluir este
acto. Em baixo a data
da morte de César: EID MAR – Idos de Março.
(Ref. RSC-15, Sear-1439,
Sydenham-1301)
(O calendário
romano regia-se por três datas fixas: calendas nonas e idos, com base nas fases
da lua.
Os idos são a meio
do mês, precisamente 15 de março, maio,
julho e outubro, e dia 13 nos restantes meses).
Plutarco e Suetónio não têm um discurso diferente: apesar
de ter sido avisado pelos deuses, César morreu.
Finalmente podemos ter a impressão que César grande
estratégista e grande político, tenha
cometido grandes erros de apreciação quanto às crenças religiosas dos seus
contemporâneos, o que acabou por ocasionar a sua morte.
Mas ao afirmar isto todavia não respondo à questão
inicial.
“César queria realmente ser considerado como um deus
vivo”?
Os autores antigos refletem essa desordem e eventualmente as suas próprias crenças; mas que sabemos nós exactamente sobre as idéias religiosas de César?
Salústio e Cícero divulgam o pensamento de César que, aquando do julgamento da conjuração de Catilina (político romano) no ano 63 a.C. perante o Senado
disse.
Há quem pense que os conjurados devem ser executados .
César por sua vez rejeita a pene de
morte por estar convencido que os deuses não quiseram fazer da morte um
castigo, mas, que porque ela é a lei da natureza, o termo dos trabalhos e da
misérias.
Assim o homem digno sage nunca a rejeita e o corajoso vai muitas vezes
ao seu encontro.
(Lúcio Sérgio Catilina, 108-62
a.C., homem político romano conhecido por duas conjurações para derrubar o
Senado da República Romana).
Não há dúvida que os ferros foram inventados para
castigar alguém que cometa qualquer injustiça.
Melhor ainda, Salústio cita diretamente o discurso de
César no Senado contra a pena de morte e terá declarado o seguinte: quanto ao
castigo eu tenho, penso o direito de dizer o que é.
O luto, a miséria e a morte põe fim a todas as infortunas e depois não
há espaço para a preocupação nem alegria, (Salústio, Conjuração de Catilina
LI).
Salústio e Cícero tiveram o mesmo pensamento que podemos
resumir assim.
Depois da vida nada, e assim compreendemos melhor as
atitudes de César e as incertezas dúvidas dos seus contemporâneos.
Para aprofundar o pensamento de César dispomos também dos seus próprios escritos, a Guerra das
Gálias e a Guerra Civil.
É certo que nestas obras César não fala das suas opiniões
religiosas, mas dá indiretamente alguns elementos do seu pensamento.
Júlio César – Denário cunhado em
Espanha em 46-45 a.C.
Anv./-busto de Vénus com diadema
e colar: Cupido no seu ombro direito
Rev./-Cativos gauleses sentados
por baixo de um troféu de armas gaulês
CAESAR
(Ref. Crawford-468/1, Sydenham-1014)
Podemos observar um certo afastamento de César em tudo que diz respeito à religião.
Ele descreve a religião dos gauleses ou alemães tal como
um etnógrafo sem nenhuma preferência. (BG, VI, 13-14-16-18-21).
Para ele as crenças religiosas nunca são um obstáculo ás
suas ações: não é questão ter em conta os presságios e augúrios como já nos
demos conta.
Aos temores supersticiosos dos homens, ele responde com
discursos racionais e desmistifica tanto quanto ele pode.
Eventualmente César que conhece a facilidade dos homens a
crerem no que eles querem (BG, III, 18,) utiliza estas crenças a seu favor. Em
assuntos religiosos César é partidário do ceticismo.
Assim quando Dunorix se recusa a embarcar com César para
a Bretânia alegando razões religiosas, César que não acredita riu-se.
César cético, distante, e por vezes cínico, acreditará em
deus, ou nos deuses do panteão romano?
Ele evoca raramente os deuses imortais e, quando o faz é
para animar o moral dos soldados após
alguma desfeita, porque eles creem na existência dos deuses imortais .
Aqui mais uma vez César se serve da religião para seu
interesse.
Os deuses imortais também aparecem na descrição da religião gaulesa ou ainda
como estátuas nos templos.
César ao que parece não é politeísta. Será que ele
acredita em deus?
Ele não acredita num deus único tipo judaico-cristã. O
seu deus é uma mulher: a Fortuna cujo a nome aparece com muita
frequência nos seus escritos.
A religião de César é um sentimento do destino que
podemos resumir assim.
«Ajuda-te a ti mesmo e a Fortuna te ajudará... ou não».
Quanto à vida após a morte, César não acreditava o que
explica a sua perseverança para obter de bons resultados políticos ou outros
enquanto vivo.
À questão se César quis mesmo ser un deus, não podemos
dizer nada, porque na sua «religião» pessoal nada se opunha.
Tempo de Júlio César
Otaviano – Denário, (oficina ambulante) cunhado em 39 a.C.
Anv/- Otaviano cabeça nua à
direita
IMP CAESAR DIVI F III VIR ITER
RPC
Rev./-Templo tetrastile encimado
por uma estrela, na arquitrave com a legenda, DIVO IVL, ao centro figura a
estátua de Júlio César. À esqueda altar aceso
Ref. Crawford-540/2, Sydenham-1338, Babelon-139, Sear-1545)
MGeada
Bibliografia
Bibliografia
Bello
Gallico; a Guerra das Gálias; edição digital-50.
Henri Plon, imprimeur éditeur: Histoire de Jules César, vol.
1 et 2, 1865.
Jean Malye ; La Véritable Histoire de Jules César, edition
les Belles Lettres Paris 16-02-2017.
Jérôme
Carcopino; Caio Júlio César, edição: Publicações Europa América.
Jesus
Maeso de la Torre; Las Lágrimas de Júlio César (em espanhol)– outubro 2017
Joel
Schmidt, (tradutor Neves Paulo); Júlio César, editora L & PM- Brasil 2006.
Luciano
Canfora; Júlio César, um dictador democrático, impressão digital- 07-11-2000.
Victor
Raquel; A guerra das Gálias, “Júlio César” - edições Silabo – 04-2004
Dião
Cássio – L37.
Plutarco
– Caes – 7, Caes – 21.
Suetónio
Caes – 6, Caes - 77, Caes – 79, Caes – 85, Caes – 87: (Caes
= César).
Victor
Raquel; A guerra das Gálias, “Júlio César” - edições Silabo – 04-2004
https://fr.wikipedia.org/wiki/Jules_C%C3%A9sar
https://www.iletaitunehistoire.com/genres/documentaires/lire/jules-cesar-bibliddoc_001
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