quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


SÍMBOLOS DA ARÁBIA EM MOEDAS ROMANAS

    Os romanos não só representaram nas moedas as províncias do Império, como também rios e mesmo as suas opiniões  sobre forma de personificações.
    Eles atribuiram igualmente a cada província, um símbolo específico que permite identificar a zona evocada na moeda, neste caso a Arábia, à qual foi  atribuída o camelo (dromedário).
    Animal bem conhecido e oriundo dos Países Orientais, aparece representado em moedas da República, e do Império.
    Após a derrota do rei Nabateu, Aretas III, pelo general romano Marcus Aemilius  Scaurus “Escauro”, (sob o comando de Pompeio) foram cunhados denários para comemorar essa vitória com a legenda no anverso, REX ARETAS.
    O reino Nabateu comprendia o que é hoje a Jordânia, o sul da Síria e parte da Arábia Saudita.   
    A maior das suas conquistas foi sem dúvida  Damasco, que garantiu ao país a condição de grande potência política naquela época.
    Todavia Roma concedeu relativa autonomia aos nabateus, sendo as suas únicas obrigações, o pagamento de impostos e a defesa das fronteiras.
   
 Marcus Aemilius  Scaurus(Escauro). denário, Roma 58 a.C.
Anv. Aretas segurando as rédeas do dromedário à direita.
SCAVR AED CVR EX SC  REX ARETAS.
Rev. Júpiter conduzindo uma quadriga à esquerda.
PHVPSAENS AED CVR CAPTV C HIPSAE COS  PREIVER 
(Moeda comemorativa da vitória de Escauro no ano 65 a.C., sobre o rei nabateu Aretas III).

   No reinado do imperador Trajano, entre outras encontramos a legenda ARAB. ADQ.,  ou ainda,  RESTITUTORI ARABIAI em moedas do imperador Adriano.
(Neste caso embora com pouca frequência,  a Arábia   aparece  simbolizada  por uma avestruz)

 Trajano-Sestércio, cunhado em Roma em 111.
Anv. Busto de Trajano laureado e radiado  à direita.
IMP CAES NERVAE  TRAIANO AVG GER DAC P M TR P COS V PP.
Rev. Personificação da Arábia com um ramo de incenso, 
e uma avestruz aos seus pés.
SPQR OPTIMO PRINCIPI  ARAB ADQVIS – S C

 Adriano-Sestércio cunhado em Petra (Arábia).
Anv. Busto laureado e drapeado de Adriano à esquerda.
HADRIANVS AVG  COS III.
Rev. Adriano com manto, em pé, dando a  mão à Arábia, que está 
com um joelho no chão, e um dromedário a seus pés.  
RESTITUTORI ARABIAI  SC .


   Alguns reversos  de Trajano e Adriano, também apresentam uma mulher com um ramo da planta que produz a resina para o incenso, e a Arábia  simbolizada por um pequeno dromedário.

 Trajano-Denário, cunhado em Roma em 111.
Anv. Busto de Trajano laureado e radiado  à direita.
IMP CAES NERVAE  TRAIANO AVG GER DAC P M TR P COS VI PP.
Rev. Personificação da Arábia com um ramo de incenso, 
e um dromedário aos seus pés.
SPQR OPTIMO PRINCIPI  ARAB ADQVIS

    A Arábia era na antiguidade uma das maiores regiões da Ásia.
   Em grande parte com  um clima desértico, situada entre o Egito e a Índia, era dividida em três partes.  
    Arábia Felix (Feliz), Arábia Deserta e Arábia Petra (Rochosa).
    É uma vasta península situada na junção da África e da Ásia, a leste da Etiópia e a norte da Somália, ao sul da Palestina, da Jordânia e da Mesopotânia, e ao sudoeste do Irão.
    É limitada pelo Mar Vermelho e pelo Golfo de Aqaba ou Acaba ao sudoeste, pelo mar da Arábia ao sudeste e, pelos Golfos de Omã e Pérsico a nordeste.
   
    Arábia Feliz: o seu nome está relacionado com o rico comércio do incenso.
   
   Arábia Deserta, a mais pequena e mais setentrional da Arábia, era habitada pelos Edomitas, Moabitas, e Amalequitas.
  Ela incluía esse país terrivelmente selvagem do norte, onde os israelitas se estabeleceram durante 40 anos após o seu êxodo do Egito.
    Os Romanos nunca se familiarizam muito com esta região.
   
   A Arábia Rochosa que ocupa uma posição central, é esteril no seu noroeste e pouco povoada, mas a sul é toda cultivada e muito  fértil.
   Quando no ano 106, o Imperador Trajano lhe retirou a autonomia e passou  a ser uma simples província romana, foram cunhadas moedas com a legenda  ARAB ADQVIS “Arábia adquisa”.
  O imperador Adriano ainda foi mais longe e rebatizou-a Adriana Petrae em sua honra.   


 Trajano-Denário, cunhado em Roma em 111.
Anv. Busto de Trajano laureado e radiado  à direita.
IMP CAES NERVAE  TRAIANO AVG GER DAC P M TR P COS VI PP.
Rev. Personificação da Arábia com um ramo de incenso,  e um dromedário aos seus pés.
SPQR OPTIMO PRINCIPI  ARAB ADQVIS

 Adriano-Sestércio cunhado em Roma em 121.
Anv. Busto laureado e drapeado de Adriano à direita.
HADRIANVS  AVG  COS III PP .
Rev. Adriano à esquerda e figura feminina (representação da Arábia) 
à direita, sacrificando juntos.
ADVENTI  AVG  ARABIE  SC .

    No entanto, o território ocupado pelos romanos só correspondia a uma pequena porção da actual Arábia ou seja, os territórios que fazem fronteira com a Judeia,  a quem deram o nome de Petreia, em homenagem à principal cidade da região Priesta, (Petra).

 Adriano- AE 28 cunhado em Petra.
Anv. Adriano com couraça e  laureado à direita.
AVTOKPATWP  KAICAP  TRAIANOC.
Rev. A Tiché (Tique ou Tiquê) à esquerda sentada numa rocha,
com uma mão estendida e, segurando um troféu com a esquerda.
PETRA MHTPOPOLIC.

 Adriano-AE 27 cunhado em Petra.
Anv. Busto de Adriano laureado à direita.
AYT  KAIC  TRA  ADRI  CEB .
Rev. Legenda em três linhas dentro de uma coroa de loureiro,
PETRA  MHTRO  POLIC.

 Adriano- AE 27 cunhado em Gerasa (Petra).
Anv. Busto de Adriano com couraça e laureado à direita.
DIAYT  K  TRA  ADPLIANOC  CEB.
Rev. Busto laureado da Tyché à esquerda com carcás (aljava) e arco.

     A imagem do camelo (dromedário) em representação da Arábia é compreensível por ser  um animal muito útil, e comum a esta região.

 Comodo-AE 19, cunhado em Decapolis (Síria)
Anv. Busto de Adriano laureado à direita.
KOMMO ANTWNINO
Rev. A Arábia representada por um camelo
NTPA BOCTRA
(Excepto  Damasco, a região de Decapolis está localizada na atual Jordânia)
   
  Este país era particularmente conhecido pela sua produção de incenso, muito utilizado nos cultos dos romanos e, que muito contribuíu para a prosperidade e riqueza da província. 

MGeada

BIBLIOGRAFIA

Depeyrot; George-La monnaie Romaine, Paris, 2006.
Louguet: L’imperalisme Macedonien et Helllénisation de L’Orient, 1926

domingo, 6 de janeiro de 2013


GELA
    Uma das maiores cidades da Grécia antiga, Gela (Sicília), deixou-nos numerosas emissões monetárias com um tema bem particular,“o Deus Rio Gela” protetor da cidade, simbolizado por um prótoma de touro androcefalo (com rosto humano).
   
(Nota: todas as datas deste artigo  são anteriores à era de Cristo.)
   
   Cidade agrícola e industrial, situada na costa do Canal da Sicília próxima do rio Gela, foi fundada no ano 689 (44 anos depois de Siracusa), por colonos vindos de Rodes comandados por Antífimo, e alguns cretenses guiados por Entimo, que cativados pela beleza do local, então habitado por grupos de indígenas (os Siculi), decidiram estabelecer-se e alicerçar a cidade, que chamaram de Gela, devido à proximidade do rio com o mesmo nome.
  Antífimo e Entimo, tiveram que afrontar as hostilidades dos habitantes que, progressivamente, foram recuando e obrigados a refugiar-se nas montanhas.
    Foi daqui que um século mais tarde partiu um grupo de colonos comandados por Pistilos e Aristomos, que depois de alcançarem o rio Acragas, ali fundaram a cidade com o mesmo nome no ano 581.
(Após as guerras púnicas, Acragas ficou sob o controle de Roma com o nome de Agrigentum.)
    A cunhagem de moedas em Gela, terá começado por volta do ano 498, sobre a tirania dos reis Kléandros (505-498), ou de Hipócrates (498-491).
    Gélon (491-490, depois Híeron (478-466, foram sucessivamente tiranos de Gela antes de se imporem em Siracusa.
    O último tirano de Gelas foi Polyzalos 478-477, antes do restabelecimento da democracia no ano 466.
    Gela teve um desenvolvimento económico e artístico extraordinário entre 450 e 413.           
    A expedição ateniense  e a indiferença de Siracusa alteraram esta situação.
    Finalmente, Gela também sofreu com os ataques dos cartagineses aquando da sua invasão no ano 406.
    A cidade destruída, nunca mais foi reconstruída. 
 

 Gela, Tetradracma AR(prata).-século V
Anv. Biga a passo para a direita, e Niké coroando os cavalos.
Rev. Prótoma de touro androcefalo nadando  para a  direita.

    No reverso o touro representando o Deus Rio, poderá provir da metrópole da cidade siciliana, Rodes (Cária), onde o culto ao deus antropomorfo Archelous era atestado.
     Todavia, hoje os investigadores preferem ver o deus rio Gela.

  Gela, Tetradracma AR. – cerca de 450
Anv. Biga a passo para a direita,
e coluna com uma coroa de flores.
Rev. Prótoma de touro androcefalo nadando para a  direita.
 
  Esta extraordinária moeda, fascinou especialistas e amadores pelas suas características estéticas, que fazem dela um testemunho perfeito do estilo de transição entre o período dito arcaico, e o início promissor do classicismo.
    O anverso deste tetradracma presta, certamente, homenagem à série de vitórias alcançadas por Gela nas corridas de carros.
    Pantares, Gelão, Híeron e Polyzalos entre outros, ilustraram-se nas corridas para grande glória da cidade.
   O reverso, oferece uma dimensão monumental ao deus Rio, gravado numa combinação de estilos, onde o arcaico da cabeleira se mistura perfeitamente ao  classicismo dos olhos e da barba finamente cinzelada.
    Este exemplar (único conhecido) com a coroa de folhas de oliveira em volta do pescoço do touro, além das vitórias de carros, também poderá comemorar alguns fatos guerreiros, nos quais se destacaram a bravura e habilidade dos combatentes de Gela, ao repelir vitoriosamente os invasores.
    A vitória de Himera sobre os cartagineses por volta do ano 480; a vitória de Cúmes contra os etruscos no ano 474 e, mais próximo da emissão desta moeda no ano 451, a vitória de Nomai contra Dukétios, chefe dos siciliotas.
    Se como pensa Jenkins, (grande especialista das moedas de Gela)este exemplar foi cunhado por volta do ano 450; o artista gravador do reverso soube antever a vanguarda sem desdenhar as puras tradições, como se deve fazer em todas as inspirações artíticas.  
               
Gela,Tetradracma Ar.- 515-405
Anv.Quadriga galopando para a esq. e Niké 
Rev. Prótoma de touro androcefalo
nadando para a direita

 Gela,Tetradracma AR.- cerca de 450
Anv.Biga a passo caminhando para a esq.
                                                Rev. Prótoma de touro androcefalo                                                
                                                                      nadando para a dir..                                                                         
                                                
Gela, Litra AR. – 465-450
                                  Anv.Cavalo a passo dentro de um circulo                                 
                                             de pérolas, caminhando para a dir..                                          
                                              Rev. Prótoma de touro androcefalo                                           
                                                               nadando para a  dir..                                                                 

 7 Gela, Litra AR. – 465-450
Anv.Cavalo a passo dentro de um círculo
de pérolas, caminhando para a dir., dois        
ramos de oliveira e quarto de lua.
Rv. Prótoma de touro androcefalo
nadando para a dir..

Gela, Didracma AR. – 490-485                                   
Av. Cavaleiro nu, com capucho, armado             
de uma lança, galopando para a dir..                  
                    Rev. Prótmoma de touro androcefalo                   
nadando para a dir..

 Gela, Didracma AR. – 490-475
Anv.Cavaleiro nu, com capaceto, armado
de uma lança, galopando para a dir..    
Rev. Prótoma de touro androcefalo
nadando para a dir..

 
 Gela, Hemiobolo AR.- cerca de 470                          
                               Av. Roda com quatro raios.                                
                      Rv. Prótoma de touro androcefalo                     
nadando para a dir..

 Gela, Tetras ou Trias BR(bronze) - 420-405
Anv. Touro investindo à esquerda e três pontos, (= valor)
Rev. Efigie de jovem com uma fita na cabeça
e chifres, simbolizando o deus Rio Gela

Gela, Tetras ou Trias BR. – cerca de 400
Av.Touro investindo à esq. e
três pontos=(valor) e grão de cevada.
Rv.Efígie de jovem com o cabelo eriçado e chifres
simbolizando o deus Rio Gela.
.
Gela
Tetradracma AR.– 415-405
Anv. Quadriga galopando para a esquerda, espiga de trigo e águia.
 Rev. Touro androcefalo ao passo para a esquerda,
espiga de trigo e grão de cevada.
“Jenkins (pag.93), pensa que este anverso,  é uma obra não assinada do célebre gravador de cunhos, Cimon.”

M. Geada

BIBLIOGRAFIA
Vigne: Jean Bruno – La Vie des Monnais Grecques, J. D. Editions, Paris 1998.
E: Gàbrici – La Monetazione del Bronzo Nella Sicilia Antica, Forni Editora Bologna, 1985. (Ristampa anastatica dell’edizione di Palermo, 1927).
G.K: Jenkins – Monnaies Grecques, 1992.
Ph.: Grierson – Monnaies et Monnayage, Aubier, Paris, 1976
Tradart: Revista Monnaies: n° 2- julho-agosto 1991.
Vedrines: Josiane - Monnais de Colection, julho, 1994.
Centre Numismatique du Palais-Royale: Catálogo de vendas, março 1997.
Centre Numismatique du Palais-Royale: Catálogo de vendas, dezembro 1999.
Vinchon: Jean – Catálogo de vendas, novembro, 2004.
http://www.wildwinds.com/coins/greece/sicily/gela/i.html
http://www.cosmovisions.com/$Fleuve01.htm