terça-feira, 26 de fevereiro de 2019



Corno de Abundância (ou Cornucópia) em Moedas Antigas

Do latim "cornu copiae" ou “corno de abundância”, hoje mais conhecidos por cornucópia, segundo uma das muitas lendas é um dos chifres da cabra Amalteia que alimentou Zeus durante a sua infância.

Na versão da náiade Amalteia do Monte Ida, (na mitolgia grega ninfas aquáticas com o dom da cura),  esta teria escondido a criança no bosque.
Proprietária da dita cabra, quando Zeus brincava com ela,  quebrou acidentalmente um chifre contra uma árvore. Amalteia guardou-o, enrolou-o com ervas e levou-o cheio de frutos aos lábios de Zeus. 
Quando Zeus se tornou o mestre do céu,  transformou a cabra e o chifre na constelação do Capricórnio.

A cornucópia símbolo bem conhecido da abundância, fecundidade, fertilidade e da alegria, foi muitas vezes representada em moedas antigas. Neste trabalho vou apresentar uma série destas moedas nas quais estão representadas cornucópias.

Reino Lágida - Egipto
Ptolomeo III Evérgeta – grade bronze cunhado em Alexandria, 246-221 a.C.
Anv. Cabeça de Zeus Ámon com chifres e diadema à direita
Rev. Águia de pé sobre um raio, e cornucópia
PTOLEMAIOU BASILEWS
(Ref. Svoronos-965, Cop-173, BMC-59, GC-7816, MP-120)

Reino Ptolemaico do Egipto – Tetradracma 244/3-221 a.C.
Anv. Benerice II (esposa de Ptolomeo III) velada à direita
Rev. Cornucópia com frutos e pendentes entre dois pileus, =
(gorros dos Dióscuros) – BAΣIΛΣΣHΣ  BEPENIKHΣ
(Ref. Friedlaender e Von Sallet-522, Jamesson-1820, Pozzi-3237)

Ásia Menor – Jônia – Lébedos (ou Lébedo)
Magistrado Anaxipolis – Tetradracma 160-140 a.C.
Anv. Cabeça de Atena com capacete à direita
Rev. Coruja em pé entre duas conucópias com frutos,
dentro de uma coroa de oliveira,
ΛEBEΔIΩN    ANAΞI ПOΛI
(Crawford-2027)

Síria Seleucida
Alexandre II Zebina – Dracma cunhado em Antioquia 128-122 a.C.
Anv. Cabeça de Alexandre II com diadema à direita
Rev. Dupla cornucópia com frutos
(Ref. SNG Cop-363)

Podemos notar que estas cornucópias foram representadas em moedas de todas as origens geográficas: sêleucidas, ptolomaicas, partas, norte-africanas e judias, mas também em moedas gregas e romanas.

Reino Indo-Grego
Philoxene –Hemiobolo em bronze 100-95 a.C.
Anv. Deméter (na mitologia grega é a deusa das colheita
e da agricultura) com uma cornucópia à esquerda
Rev. Touro à direita
(Ref. Mitch-1960)

Quase sempre representada sózinha, a cornucópia também aparece dupla. Nas moedas da Répública e Império romano, elas são o atributo de diversas personificações e alegorias, nomeadamente a Abundância, a Fortuna e por vezes personificações mais surpreendentes como a Concórdia, que num sestércio de Aquília Severa detém uma dupla cornucópia.

L. Sulla – denário cunhado em Roma em 81 a.C
Anv. Venus com diadema e colar à direita
Rev. Dupla cornucópia com frutos
(Ref.Sear5- 303, Cornelia-33, Crawford-375)

Aquília Severa – Sestércio cunhado em Roma em 220-221
Anv. Aquília com diadema e drapeada à direita,
IVLIA AQVILIA SEVERA AVG
Rev. Concórdia de pé à esquerda com uma patera na mão esquerda sobre um altar aceso, dupla cornucópia e uma estrela no campo,
CONCORDIA  S C
(Ref. RIC-389, BMC-433)

Em termos de corno de abundância, a palma de originalidade é indiscutivelmente um sertércio de Druso filho do imperador Tibério, que mostra no anverso duas cornucópias cruzadas das quais saem duas cabeças de criança, e em pano de fundo um caduceu alado. Aqui os cornos de abundância representam os herdeiros da dinastia imperial. 

Druso – Sestércio cunhado em Roma em 22-23
Anv. Cabeças confrontadas de crianças dentro de cornucópias e caduceu.
Rev. DRVSVS CAESAR TI AVG F DIVI AVG N PONT II   SC
(Ref. RIC I (Tiberius) 42, BMC (Tiberius)-95, CBN (Tiberius)73).

Mais pragmática, uma moeda de Septímio Severo apresenta as três alegorias da casa da moeda, todas com uma cornucópia nos braços. Neste caso é uma abundância monetária.


Septímio Severo – Sestércio cunhado em Roma no ano 194
Anv. Septímio laureado com couraça à direita,
SETE SEV PERT AVG IMP III
Rev. As três Monetae (moedas) de pé, cada uma segurando uma cornuçópia e uma balança, MONET AVG COS II P P  SC
(Ref. RIC-670, Cohen-336, Sear-6416.)

O imperador Augusto, muito supersticioso, fez representar numa das suas moedas o seu signo astrológico, o Capricórnio, atrás do qual aparece um corno de abundância, uma referência à Fortuna que detém o destino dos homens nas suas mãos. Enquanto Tibério optou por cornucópias cheias de espigas.

Augusto – Denário cunhado em Emérita (actual Mérida) no ano 16 a.C..
Anv. Busto de Augusto à direita
Rev. Capricórnio à direita com uma cornucópia nas costas, um globo e um leme entres as pernas,  AVGVSTVS
(Ref. RIC-547ª, RSC-21, BMCRE-346)

Tibério – AE cunhado em Comagene ? em 19-20
Anv. Tibério laureado à direita,
TI CAESAR DIVI AVGVSTI F avgvsTVS
Rev. Dupla cornucópia cheia de espigas,
PONT MAXIM COS III IMP VII TR POT XXI
(Ref. RIC-89, BMC-174, RPC-3868)

O "corno de abundância" como elemento da tradicional mitologia greco-romana pagã, desapareceu das moedas quando o Império romano se converteu ao cristianismo.
No entanto o próprio Constantino era pagão antes de se tornar cristão, e as moedas do início do seu reinado representam todos os temas que então podiam ser vistos em moedas, incluindo o corno de abundância.

Constantino I – Follis cunhado em Alexandria em 308-310
Anv. Constantino laureado à direita,
FL VAL CONSTANTINVS FIL AV
Rev. Génio de pé à esquerda, com um módio na cabeça, patera na mão direita, clâmide e cornucópia na esquerda,
GENIO CAESARIS - No campo R à esquerda, AP à direita, em baixo na orla, ALE = Alexandria
(Ref. RIC VI Alexandria-99b)

MGeada

Bibliografia
Pierre Commelin; Mytologie grecque et Romaine, éditions Garnier Frères- 1960
Riordan RICK; Os Heróis do Olimpo – A Marca de Atena-Editora Intrísica 2ªedição. 2013.