domingo, 25 de novembro de 2018




Breve resumo das guerras romano-partas

Durante quase três séculos, Romanos e Partos guerrearam-se  pelo controlo  da Armênia, Síria e Mesopotânia.
O primeiro grande evento que marcou este conflito, foi a  derrota de Crasso contra os partos quando este ambicionava  conquistar a Mesopotânia na batalha de Carras no ano 53 a.C. (atual Harã na Turquia).

Esta foi uma das muitas batalhas entre a República Romana e o Império Parta, em que o comandante parta Surena, esmagou a força invasora romana comandada pelo general Marco Licínio Crasso.
Esta foi uma das maiores derrotas sofrida pelos romanos na qual o general perdeu as águias, símbolos das suas legiões.

Alguns anos depois no ano 40 a.C., Orodes II e seu filho Pácoro (que mais tarde governou como Pácoro I), juntamente com seu pai, invadiram a Síria, uma província romana após as conquistas de Pompeio e depois a Judeia.

O exército parta então dirigido por Pácoro I e Tito Labieno, (soldado professional romano), que se aliou com os partos e os serviu após o assassinato de Júlio César.

Quanto aos romanos, Marco António atacou a Arménia e Medos: uma das tribos de origem ariana que migraram da Ásia Cental, para o planalto iraniano.
No início vitorioso, a sua campanha virou desastre no ano 36 a.C..
Augusto que compreendeu que estava lidando com um adversário importante com os partos, preferiu desistir do confronto e escolheu a diplomacia.

No ano 20 a.C., ele assinou com Fraates IV um pacto de amizade que fixou o rio Eufrates como fronteira entre os dois impérios,  como sinal de boa vontade, restituiu as águias tomadas a Crasso na batalha de Carras no ano 53, e permitiu o regresso dos prisioneiros romanos.
Algumas moedas de Augusto comemoram este invento

Augusto – Denário cunhado em Roma pelo monetário Ferónia no ano 19 a.C.
Anv./-Ferónia busto drapeado, com diadema à direita,
TVRPILLIANS III VIR FERON  
Rev./-Parta de cabeça descoberta, ajoelhado à direita, segurando o vexilo marcado com um X
CAESAR AVGVSTVS SING RECE
(Ref. RIC I-288, BMCRE-14, RSC-484)

(Vexilo: em latin vexillum, era um objeto em forma de bandeira utilizado no período clássico do Império Romano como estandarte).

Em troca Augusto ofereceu a Fraates IV, uma escrava italiana, “Musa”, com a qual casou e teve um filho, “Fraates V”, mais conhecido por Fraataces que governou o império de 02 a.C. a 4 d.C..
Era o filho mais novo de Fraates IV. Em algumas moedas apresenta-se associado à sua mãe Musa.

Musa intriga e obtém que os outros filhos de Fraates sejam enviados para Roma.
Então afim de  não derrogar as tradições agora bem estabelecidas, Musa envenenou o seu esposo. e depois de casar com o seu filho Fraates V, instalou-se no trono e governou em seu nome.
Fraates V e Musa – Drachma, 03 a.C. – 02 d.C.
Anv./-Busto do rei à esquerda a ser coroado por duas Vitórias
Rev./-Busto da rainha à esquerda,
θEAC  OYPANIAC MOYCHC BACIΛICCHC
(Ref. BMC-25, Mitchiner-608)

Musa foi a única rainha parta a ser representada em raríssimas moedas de prata, muito procuradas pelos colecionadores.
Drachmas portadores da efígie de Fraates e Musa, também foram emitidos pelas cidades de Ecbátana Rhagae (ou Rhaganae) em número consideravelmente menor.
Tetradrachmas também muito raros foram cunhados em Selêucia e alguns pequenos bronzes em Ecbátana. 

Ao usar uma tiara ricamente decorada, Musa exibe inequivocamente sua qualidade de rainha.
ƟEAC  OYPANIAC MOYCHC BACIΛICCHC (Deusa Urânia - Rainha Musa) rodeia a imagem de Musa em drachmas de Ecbátana, (a titelature do drachma de Ray ou Rages também difere um pouco.
A alusão à musa Urânia pode surpreender, mas não é un caso único no mundo oriental nos nossos dias.

A irmã e esposa de Tigranes IV da Armênia, contemporâneo de Musa, identificou-se à musa Erato (musa da poesia românica), e a esposa do rei Bactriana Hermaios, tomou o nome de Calíope. (Esta foi a primeira das nove musas da mitologia grega, filhas de Zeus e Mnemosine).

Quando Vonones I, (também denominado Vonones I de Pártia) filho primogénito de Fraates IV, regressou de Roma (onde passou algum tempo para assegurar a sucessão ((após o reinado efémero de Orodes III)), o seu comportamento manifestamente  ocidentalizado, depressa desiludiu a aristocracia parta que o tinha chamado.

Nas suas moedas o rei é representado com cabelos curtos à moda romana, e uma legenda circular com o seu nome, exatamente como nos denários romanos.  
Mais, ao meter Nike no reverso da moeda, em vez do tradicional rei sentado com um arco na mão, Vonones I se desmarca completamente dos seus antecessores, uma decisão que não teve o sucesso que ele esperava!

Vovones 1 – Drachma cunhado em Ecbátana por cerca de 8-12 a.C.
Anv./-Busto do rei à esquerda de barba afilada e cabelo curto
BAΣIΛΣ ONΩNHΣ
Rev./-Niké à esquerda com uma palma na mão
BAΣIVEYΣ  ONΩNHΣ  NEIKHΣAΣ  APTABAN(ON)
(Ref. Sellwood-60-5, Shore-329

Romanos e Partos continuam a se disputar a Armênia que como Palmira desempenha um rolo principal entre as duas potências.
No ano 59, Cneu Domício “Córbulo” um general do imperador Nero, conseguiu devastar a Armênia, e ali instalou um príncipe para representar Roma.

Vologases que no início concordou, quando finalmente se envolveu no conflito, um acordo inesperado foi concluído entre vologases e Nero.
Foi o imperador Nero que coroou “Tirídates “, irmão de Vologases como rei da Armênia, seguido por um longo período de paz.

Nero – Áureo cunhado em Roma em 64-65
Anv./-Nero laureado à direita
NERO CAESAR AVGVSTVS
Rev./-Templo de Jano (deus representado com dois rostos) com as portas fechadas 
IANVM CLVSIT PACE P R TERRA MARIQ PARTA
(RIC-50, Cohen-114, BMCRE-64, CNB-211, RCTV-1929)

O templo de Jano só fechava as portas em raras ocasiões: “em tempo de paz com o resto do mundo”. As portas eram abertas em tempo de guerra, para que o deus pudessesse sair em socorro dos romanos.
Por ser representado com dois rostos, Jano também era considerado o deus das portas, porque também há duas possibilidades de abrir uma porta.

Entre o reinado de Numa Pompílio (segundo rei lendário de Roma, 715-672 a.C.,) e o reinado de de Augusto, 27 a.C.-14 d.C, as portas só foram fechadas duas vezes e apenas nove em mil anos.

Jano

No ano 114, o imperador Trajano lançou uma nova ofensiva contra os partos.
Começou por invadir a Armênia,depois em 116, depôs Cosroes I e emparou-se de Ctesifonte, a capital Parta.
Há um áureo com a legenda “PARTHIA CAPTA”, um exagero porque Trajano so controlou a Mesopotâmia.

Trajano – Áureo comemorativo cunhado entre fevereiro e setembro do ano 116
Anv./-Trajano laureado à direita
IMP CAES NER TRAIAN OPTIM AVG GER DAC PARTHICO
Rev. Dois cativos em atitude triste, sentados em cima de um escudo entre um troféu de armas composto por um capaceto, couraça, dois escudos e um globo. Em frente de cada prisioneiro um arco e aljava.
Legenda circular PM  TR P COS VI PP SPOR
Por baixo dos prisioneiros a legenda
PARHTIA CAPTA
(Rev. RIC II-325, Calicó-1037, Woytek-560t I var. BNC-864var.)

Os partos fiéis a Cosroes I, reuniram as suas forças contra Trajano que não conseguiu manter a sua posição durante muito tempo.
Antes de ser obrigado a recuar e ali perder a vida, Trajano colocou no trono da Pártia “Partamaspates”um rei fantoche escolhido por Roma.
Um sestércio cunhado cunhado por Trajano no ano116, com a legenda no reverso “REX PARTHIS DATHIS”, faz alusão a este evento).

Trajano – Sestércio cunhado em Roma no ano 116
Anv./-Trajano laureado e drapeado à direita
IMP CAES NERO AVG GER DAC PARTHICO PM COS VI PP
Rev/-Trajano sentado numa plataforma com um militar à sua direita coroando Partamaspates: um parto ajoelhado diante do novo rei.
REX PARTHIS DATHIS  SC
(Ref. RIC-667, Cohen-328, BMC-1046, sEAR-3191)


Partamaspates – Drachma cunhado (possivelmente em Ekbatana) no ano 216
Anv./- Partamaspates à esquerda com a tiara ornamentada com estrelas
Rev./-Arqueiro sentado num trono com um arco; legenda grega ilisível, no campo AΓT
(Ref. Sear-5848, BMC-23,201)

O imperador Trajano preferiu assinar a paz e abandonar as conquistas de Trajano.
A retomada das hostilidades ocorreu em 162, novamente com a Armênia como pretexto.
Vologases IV da Pártia, depois de se ocupar da Arménia invadiu a Síria
Marco Aurélio enviou Lúcio Vero para o Oriente
Entretanto uma epidemia de peste devastou o exército o exército Parta.
Mais uma vez a Ermênia se encontrou sob o domínio romano, e Avidus Cassius (um general de Lúcio Vero), aventurou-se até Ctessifonte que ele submeteu em 165

O imperador Adriano preferiu assinar a paz e abandonar as conquistas de Trajano.
A retomada das hostilidades ocorreu em 162, novamente com a Armênia como protexto
Marco Aurélio enviou Lúcio Vero para o Oriente.
Vologases IV da Pártia, depois de se ocupar da Arménia invadiu a Síria.

Entretanto uma epidemia de peste devastou o exército Parta.
Mais uma vez a Armênia se encontrou sob o domínio romano, e Avidus Cassius (um general de Lúcio Vero), aventurou-se até a Ctessifonte que ele submeteu no ano 165.

Os romanos por sua são afetados pela epidemia da peste quando atacavam medos, e foram obrigados a recuar.
Os partos muito afetados e fracos, resolveram abandonar a parte ocidental da Mesopotâmia aos romanos, Um enésimo tratado de paz foi assinado , e a calma manteve-se até 192.

Embora não tivessem participado pessoalmente nestas operações militares, Lúcio Vero e  Marco Aurélio foram recompensados com os títulos de Armenicus e Parthicus e, para comemorar este evento, um grandioso festejo foi celebrado em Roma em outubro de 166.


Lúcio Vero – Denário cunhado em Roma em 165
Anv./-Lúcio Vero cabeça nua a direita
L VERVS AVG ARM PARTH MAX
Rev./-Parta sentado à direita com as mãos amarradas atrás das costas,  aljava, arco e escudo
TR P V IMP III COS II
(Ref. RIC-514, RSC-274ª)


Marco Aurélio – Áureo cunhado em Roma em 166-167
Anv./-marco Aurélio laureado à direita
M ANTONINVS AVG ARM PARTH MAX
Rev./-Vitória caminhando para a esquerda com uma coroa na mão direita e ima palma na esquerda
TR P XII IMP V COS III
 (Ref. RIC-194, Sear-4871, BMC-471)

No ano 193, Pescênio Níger é proclamado imperador em Antióquia.
Ele tem o apoio das cidades sírias ricas, e obtém a aliança de Vologases V na luta contra Septímio Severo pelo trono romano.
Na verdade, esta aliança continua a ser uma mascarada, Niger foi excluído e Septímio Severo submeteu a Síria.


Vologases V – (191/208), Tetradrchma cunhado em Selêucia ?
Anv./-Vologases à esquerda
Rev./- Tique (ou Tiké) em pé, oferecendo um diadema ao rei sentado num trono
BACIΛEώC BACIΛEώN / APCAKOY OΛOΓACOY / AIKAIOY / EΠIФANOYC
(Ref. Venda CNG 94 Nº 827

Uma vez só a governar, Septímio utilizou o protexto dessa aliança com o seu rival para iniciar uma nova guerra contra os Partos.
Vologases V, ocupado com as brigas internas no seu império, não conseguiu impedir o progresso dos romanos.

Septímio Severo tomou e saqueou Ctesifonte em 198, mas foi obrigado a abandonar a cidade antes da ofensiva parta e, para evitar um combate incerto, foi forçado a restituir prisioneiros e o fruto do saque.


Septímio Severo – Àureo cunhado em Roma, 198-200
Anv./- Septímio laureado e drapeado à direita
L SEPT SEV AVG IMP XI PART MAX ;
Rev./-Vitória com uma grinalda e um troféu avançando para a esquerda: aos seus pés um cativo sentado
VICT P-AR-T-HI-C-AE
(Ref. RIC IV-142b, Cohen-741v)


Septímio Severo e Caracala – Áureo cunhado em Roma 201-202
Anv. Busto de Septímio e Caracala laureados e drapeados
IMPP INVICTI PII AVGG;
Rev. Vitória com uma grinalda e uma palma avançando para a eaquerda
VICTORIA PARTHICA MAXIMA
(Ref. RIC-311, Sear-6516, BMC-265)

Após a morte de Velogases V, os seus dois filhos Velogases VI e Artabano IV, querelam-se pelo poder. Esta nova disputa de sucessão anuncia a agonia da dinastia Arsácida  da Pártia.


Velogases VI (208-228) – Drachma
Anv. Busto do rei à esquerda
Rev./- Rei sentado, com um um arco na mão e legendas ilisíveis
(Ref. Venda Triskeles 9, Nº 42)


Artabano IV – Drachma, reinou de 213 a 224
Anv./- Busto do rei à esquerda
Rev, Rei sentado com um arco na mão, legendas partas ilisíveis
Artabano IV, foi o último rei dos partos da Dinastia Arsácida

No ano 216 Caracala que por sua vez sonha com sucessos fácies, aproveitou a oportunidade para iniciar uma campanha no Oriente.
Para poder entrar na Mesopotâmia com seu exército, Caracala simulou o desejo de selar a paz com os partos, com uma união com a filha de Artabano IV, aliança que este rejeitou.

Nesta contenda Caracala atacou à traição, e Artabano conseguiu escapar à morte, por pouco.
O Estado-Maior Romano para se livrar dum líder abominável e, para se proteger contra a  ira dos Partos, mandou assassinar Caracala e proclamou Macrino imperador.
Após a morte de Caracala, Artabano concluíu  um breve acordo de paz com o seu sucessor Macrino.


Caracala – Antoniniano de prata cunhado em Roma, cerca de 217
Anv./-Caracala com coroa radiada e drapeado à direita
ANTONINVS AVG GERM;
VICT PARTHICA
Rev./-Vitória sentada numa couraça à direita, segurando um escudo com a inscrição VO XX, en duas linhas
(Ref. RIC-314b, RSC-656c)
Artabano IV que esperava uma nova oportunidade. precipitou-se sobre Macrino, e os romanos só limitaram o desastre ao preço de uma capitulação e um pesado tributo.
No entanto, esta desfeita não impediu Macrino de proclamar a sua vitória sobre os Partos no reverso da suas moedas, o que relativiza um pouco a credibilidade da numismática! 


Macrino – Asse cunhado em Roma em 218
Anv./-Macrino laureado e drapeado à direita
IMP CAES  M OPEL SEV MACRINVS AVG
Rev./- Vitória à direita, sentada numa couraça com um escudo na mão esquerda
VICT PARTIE P M TR P  SC
(Ref. RIC-166, Cohen-140, BMC-135)

Para concluir estes conflitos entre romanos e partos, embora cidades importantes como Ctesifonte ou Cêleucia tenham sido várias vezes dominadas pelos romanos, todas as tentativas de se impor no Oriente fracassaram. Mesmo a simples questão da Armênia nunca foi resolvida de mode permanente.

Quanto aos partos, os sucessivos confrontos com os romanos aos poucos arruinaram a economia do Império, favorecendo as disputas dinásticas e minando o poder central em benefício das ambições dos príncipes locais.

Aproveitando a rivalidade entre os sucessores de Velogases V, Artaxes I (224-241), tornou-se mestre da província de Fars (ou Pars,  Perside).
Artabano IV, morreu em combate no ano 224, 3 anos depois Velogases VI foi destronado, facto que  ocasionou o fim da dinastia Arsácida.

MGeada

Bibliografia

André Verstanding; Histoire de l’Empire Parthe, Bruxelles, Le Cri de l’Histoire, édition 2001.
Diáo Cássio, Livro LXVI, capítulo 19.              
Dião Cássio, História Romana. Livro LXXX
Les Parthes; l’histoire d’en empire méconu, rival de Roma, Dossiers d’archéologie nº 271-, mars 2002. 
PlutarcoSula, 5. 3–6 (em inglês)

https://fr.wikipedia.org/wiki/Guerre_parthique_de_Trajan