quinta-feira, 27 de setembro de 2018


Júlio César
O homem que pretendia ser um deus

Caio Júlio César (CAIVS IVLIVS  CAESAR) nasceu em Roma a 13 de julho do ano 100 a C. e faleceu a 15 de março de 44.

César nasceu no seio de uma antiga família patrícia (IVLIVS)  romana  e enquanto jovem viveu em Suburra, naquela época bairro da classe média de Roma, mais tarde, o bairro dos pobres.
Segundo a lenda, a sua ascendência chegava a IVLVS, filho do príncipe troiano Eneias e neto da deusa Vénus.

No auge do seu poder, César iniciou a construção dum templo em Roma dedicado à Vénus Genetrix, em honra da sua divina antepassada, a deusa Vénus.
Seu pai Caio Júlio César, era um simples cidadão, enquanto sua mãe Aurélia pertência à ilustre família COTTAE.


Templo de Vénus Vitrix mandado construir por Júlio César no ano 46 a.C., no Fórum Romano, VIII região.

Júlio César – Denário cunhado em Roma em fevereiro ou março do ano 44 a.C.
Anv./- César velado à esquerda
CAESAR DICT PERFETVO
Rev./-Vénus Vitrix virada à esquerda com uma Vitória na mão direita, cetro na esquerda e escudo cima de um escudo
P. SEPVLLIVS (monetário)
(Ref. Crawford-480/13, CRI- 107d, RSC-39)

Patrício, líder militar e político romano, desempenhou um papel essencial na transformação da República Romana no Império Romano.
O seu destino excepcional marcou o mundo romano e a história universal.
Ambicioso e brilhante, apoiou-se na corrente reformista e demagogista para a sua ascensão política.
Chefe de guerra e hábil estrategista, alargou as fronteiras do Império até ao Reno e ao Atlântico, antes de utilizar as legiões para se emparar do poder e impor-se como  ditador à vida.

Júlio César – Denário legionário cunhado no ano 40 a.C.
Anv./- Busto de César laureado à direita  S C
Rev./-Estandarte legionário cetro e charrua
TI SEMPRONIVOS GRACCVS  Q DESIG
(Ref. Crawford-525/4ª, Sydenham-1129)

Endeusado, foi o seu filho adotivo Octávio (Augusto) que reformou a República Romana para dar lugar ao principado e ao Império Romano.
Suetónio que no início do século II da nossa era  escreveu uma das mais famosas biografias de Júlio César, relata que César faleceu com 56 anos de idade, e foi deificado (DIVINO JÚLIO) não só por decisão dos senadores, mas também segundo a firme convicção de Júlio César.

10-Augusto (Otaviano) e divino César – Duponduo cunhado na Itália no ano 38 a.C
Anv./- Busto de Augusto à direita
DIVI F CAESAR
Rev./-Busto de Júlio César laureado à direita 

Mais tarde a plebe mandou erigir no Foro uma coluna com cerca de 20 pés, em mármore da Numídia com a inscrição: Ao Pai da Nação.
Durante muito anos junto desta estátua, era hábito dos romanos oferecer sacrifícios, pronunciar votos e resolver alguns conflitos, jurando pelo nome de César. 

Não é fácil evocar os sentimentos religiosos de Júlio César, porque durante a sua vida já era considerado um verdadeiro mito literário e político.
A sua fama alcançou-a em grande parte graças aos seus comentários sobre a guerra das Gálias.

Denário em nome de Júlio César, cunhado por Octávio numa oficina móbil na Gália Subalpina no ano 43.aC.
Anv/-Busto de Vénus com diadema à direita
Rev./-Troféu de armas gaulesas composto por uma couraça, escudo e uma zorra na base à esqueda; à direita um escudo e duas lanças
(Ref. Carwford-480/1. Sydenham-1016)  

Foi Hirtius um dos seus tenentes. que  após a morte de César completou a sua obra inacabada, terminando o oitavo e último livro.
Do teste de César, ele disse que «era uma uma verdade admitida por toda a gente que não existe obra tão cuidadosamente escrita e, que ao bom estilo e à elegância natural da expressão, César juntou o talento para explicar os seus planos com uma exatidão absoluta».

Numerosos autores como Salústio, Virgílio, Horácio ou Suetónio, ficaram fascinados por César.
Os maiores biófragos gregos e romanos escreveram a sua vida.
César fascinou e irritou uns e outros. Lucan  aprecia pouco César por o considerar culpado pela guerra civil.

Quanto ao historiador grego Dião Cássio (Bitínia cerca de 155-aprox.229), no início do século III escreveu na sua História Romana o que ele pensa de César: «ninguém se decide  mais espontâneamente que César a cortejar e adular os homens menos considerados, e não recuava perante algum discurso nem qualquer ação para obter o que ambicionava.
Pouco lhe importava rebaixar-se um momento,  se esse gesto  mais tarde servisse a torná-lo mais forte.
Segundo este  historiador, César tem muitos defeitos: além de calculador, ambicioso, arrivista e cínico, também o tratou de populista. 

Como descendente de família patrícia, isto impunha a César uma série de consequência religiosas.
Aquando do funeral da sua tia ele terá pronunciado o seguinte discurso sobre a sua ascendência:
Do lado da minha mãe, a minha tia é descendente dos reis: Do lado do meu pai ela está relacionada com os deuses imortais.

Com efeito, é  de Ancus Marcius que são descendentes os Marcius Rex, e tal era o nome da sua mae; é de Vénus que os Jules são descendentes e nós somos descendentes desse ramo.
Ela junta ao carácter sagrado dos reis que são os mestres dos homens, a santidade dos deuses dos quais relevam mesmo os reis. 

Ignoramos se este discurso foi efetivamente pronunciado por Júlio César, ou se é apenas alguma invenção entre outras, de Suetónio que podemos recordar escreveu um século e meio após a morte de Júlio César.

De qualquer modo as moedas emitidas por César mostram efetivamente que ele assumia plenamente e plublicamente esta ascendência divina e real.
Numa moeda emitida em 47-46 a.C., vemos numa face a cabeça de Vénus, na outra Eneias trasnsportando (o pai) Anquises no ombro.

Júlio César – Denário militar cunhado na África do Norte em 47-46 a.C.
Anv./- Busto de Vénus com uma tira à direita
Rev./-Eneias com o pai Anquises ás costas e paládio na mão direita
(Ref. Crawford-458/1, Sydenham-1013)

No entanto ao considerarmos as suas origens mitológicas, notamos que todas as famílias patrícias da época tinham o seu próprio mito das origens.
A família de César não era nenhuma excepção.
Também se pode dizer que não existe nenhuma separação absoluta entre os fatos políticos religiosos. 

Quanto ao resto, primeiro parece que César terá seguido pelo menos durante algum tempo um caminho religiosamente correto ou seja conforme os deveres de um jovem aristocrata.

Aos 17 anos ele é Flâmine (sacerdote) de Júpiter.
Em 63 a.C., ocasião em que a sua carreira política já se encontra  bem avançada, tentou e obteve o cargo de Grande Pontífice que o propulsou a chefe da religião romana.

Sobre este sujeito, Plutarco e Suetónio, nas suas respetivas biografias concordam que César nao era um candidato iligítimo, mas que também não era o o candidato ideal para suportar este cargo.
Sobretudo as dois  biografistas afirmam que César superou os outros concurrentes, graças ás enormes quantidades de dinheiro que espalhou ao ponto que no dia da sua eleição disse à sua mãe: “Minha mãe, hoje vai ver o seu filho Grande Pontífice, ou então banido” .

Júlio César – denário cunhado em Útica no ano 46 a.C.
Anv./-Ceres com coroa de espigas e brincos à direita
COS TERT DICT ITER
Rev./- Insígnias Pontificaes, Simpulum, aspersor, vaso de sacrifício e lituus
AVGVR PONT MAX
(Ref. Crawford-4671/a, Sydenham-1023)

A crítica feita a César é a sua ambição sem escrúpulos, e o seu despreso pela religião que ele comprou ao preço do ouro.
Ao examinarmos as moedas de César, nada deixa parecer  um comportamento religioso anormal; César apresenta-se voluntariamente como chefe da religião tradicional romana: no reverso duma moeda emitida em 48/49, os elementos do culto, são simpulum, aspersor, vaso de sacrifício et litius são representados.
Este tradicional tema religioso aparece com muita frequência  nas moedas de César, nomeadamente nesta moeda emitida no ano 46 a.C., e muitas outras. 

Será que podemos culpar o Grande Pontífice, por qualquer que sejam  as condições da sua ascenção a esta função, e por ter assumido plenamente o seu papel?
Existe todavia nas moedas  Césarianas um aspecto menos conformista convencional.
Foi César o primeiro dirigente romano (enquanto vivo) a representar a sua efígie em moedas. 

Esta prática foi revolucionária; porque até a esta data só os deuses ou heróis, as figuras  mitológicas e excepcionalmente alguns mortais falecidos depois de um determinado  tempo, podiam ser representados.

César deu então um passo inovador,  mas não gozou muito do privilégio divino de ver o seu retrato nas suas moedas.
A reação republicana que o acusa principalmente de aspirar à realeza, lembrou-lhe a sua condição humana, apunhalando-o mortalmente nos ides de março do ano 44 a.C..
Após a sua morte César foi colocado entre os deuses e tornou-se  DIVIS JVLIVS, o «Divino Júlio».

Denário com a efígie de Julio César, cunhado por Augusto em 19-18 a.C.
Anv./- César laureado à direita
CAESAR AVGVSTVS
Rev./- Estrela com oito raios, um deles é um cometa
DIVVS IVLIV
A cometa de César é conhecida pelos autores antigos como sidus Lulium, (estrela Juliana) ou Caesaris astrum(estrela de César 
(Ref. Choen-98, RIC-253, Giard-1297)

Apesar de alguns sinais aparentemente fortes tais como: a representação do seu retrato em moedas, não temos a certeza se César queria realmente ser considerado como um deus enquanto vivo.
O historiador Velleius Paterculus (Marco Veleio Patérculo ca. 19 a.C.-ca. 31), relata que, quem mais o odiava foi Marco António seu colega durante o consulado, um homem pronto e disposto a qualquer ousadia.

Quando César estava sentado na rostra (rostrum, um pódio), aquando das celebrações das Festas Lupercais e Marco António lhe  colocou na cabeça a insignia da realeza na cabeça, ele empurrou-o mas não ficou ofendido. 

Júlio César – Denário emitido na Gália Subalpina por Marco António, no ano 43 a.C.
Anv./- Busto de Marco António à direita e lituus
M. ANTON
Rev./-Busto de Júlio César laureado à direita
CAESAR DIC
(Crawford-488/1, Sydenham-1165

Suetónio também evoca o mesmo episódio, e mostra que a opinião pública romana perante a ascenção de César, se interroga sobre os seus objetivos, e suspeitava que ele aspira ser rei de Roma.
Ele mesmo não consegue dissipar a suspeita da sua ambição; cependente um dia quando a multidão o saudou com esse nome, ele respondeu «que era César, não rei» e aquando das Lupercais na Tribuna da Arenga, ele rejeitou o diadema que o consul Marco António tentou várias vezes por-lhe na cabeça e pediu que o levassem à colina do Capitólio, ao  templo de Júpiter: o Bom, o Grande. 

A significação do diadema é política e religiosa: César ofereceu o diadema que recusou para ele mesmo  a Júpiter, um verdadeiro deus.
Além disso,  Suetónio escreveu sobre César que ele passa por ter abusado do poder e merecia ser assassinado.
Com efeito, na verdade não é suficiente aceitar as honras excessivas como aconteceu durante muitos consulados, que se seguiram a ditadura e a prefeitura dos costumos à vida, sem contar o prenome do imperador, o sobrenome de Pai da Pátria, uma estátua entre os reis, mas ele ainda permite atribuir-se prerrogativas que o elevam ao topo da humanidade.   

Júlio César – Denário cunhado em Roma em abril do ano 44 a.C
Anv./-Busto de César velado e laureado à direita
PARENS PATRIAE CAESAR
Rev./-C COS S SVTIVS AAR DIANVS, no campo, A A A F F
(Ref. Crawford-480/19, Sydenham-1069)

César tinha  no Senado e no seu tribunal um assento em ouro, uma biga e uma maca na procissao dos jogos do circo. Templos, altares, estátuas ao lado dos deuses, uma padiola de desfile , era Flâmine (em latim: Flamen)  na religiao romana, um sacerdote a quem era designado um dos deuses ou deusas patrocionados pelo Estado.), e deu o seu nome a um mês do ano, JULIU.

Além disso, não existiu nenhuma magistratura que ele não se atribuísse segundo a sua fantasia. (Suet., Caes 76).
Após tudo isto vemos que Suetónio pensava bem o que dizia, que César mereceu ser assassinado: que ele tivesse tido ou não a intenção de se fazer passar por um deus vivo, ele abusou de todas as formas do poder.

Finalmente os autores antigos também fazem a César censuras de ordem religosa.
César era agressivo e sacrilégio: como vimos, teria comprado o cargo de Grande Pontífice.
Em suma, ele terá instrumentalizado a religião para conseguir os seus objetivos políticos.
A prova de que César se serve da religião, Plutarco encontra-a na maneira como César se comportou perante os Germanos de Ariovisto (foi o chefe do povo germânico dos suevos), 101-cerca de 54 a.C.) durante a guerra das Gálias.

·                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      Júlio César – Denário cunhado em Roma  no ano 44 a.C.
Anv./-César laureado à direita, simpulum e litius
CAESAR IMP
Rev./-Vénus em pé à esquerda com uma Vitória na mão direita, lança e escudo na esquerda. no campo G
M. METTIVS
(Ref. Crawford-480/3, CRI-100)

Segundo Plutarco o ardor ao combate dos germanos é confuso devido às predicações das suas sacerdotisas que pretendem conhecer o futuro pelo barulho da àgua, pelos turbilhão que elas fazem nos rios, e dizem para que nao iniciem o combate antes da lua nova.

César ciente desta predição e vendo os bárbaros indecisos, pensou que a melhor maneira de ganhar a batalha era de os irritar com algumas pequenas incursõs  e não aguardar o momento que lhes seria favorável.
Esta provocação irritou-os  tanto que eles esqueceram os conselhos das sacerdotisas e desceram dos seus refúgios na montanha para afrontar os romanos.
César não respeitou nada, nem sequer a supertição dos bárbaros o que lhe valeu a vitória militar. 

Geralmente os autores antigos concordam que César  nao respeitava nem os preságios nem os muitos sinais enviados pelos deuses.
Os exemplos são muitos. Suetónio  conta que «nenhum escrúpulo religioso lhe fazia abandonar ou diferer alguma das suas empresas ideias».
Apesar de uma vítima ter fugido- Quando uma vítima fugiu- Ainda que a vítima figisse no momento em que ele se preparava para a imolar, ele nao adiou a sua expedição contra Cipião e Juba. Mais no momento do desembarque César caiu, e virando o presságio a seu favor disse: «África conquistei-te» (Suet., Caes., 59).

Mais César teve a insolência de dizer ao ouvir um dia  um Arúspice (nome dado aos antigos sacerdotes romanos que adivinhavam o futuro mediante o exame das entranhas das vítimas) anunciar que os presságios eram fatais e que a vítima não tinha coração: «eles serão mais favoráveis quando eu quizer  e que não se deve  ter como prodígio um animal que não tem coração. 
Esta citação refere-se a uma piada duvidosa e sacrilégio, no mais puro estilo Suetoniano.

Embora se possa duvidar da sua autenticidade, que, no entanto expressa uma ideia importante: César não respeitava as mensagens divinas.
Segundo Valleius Paterculus esta incredulidade, esta cegueira, causou mesmo a sua perca.

Os deuses imortais tinham-lhe portanto enviado bons presságios e sinais do perigo que o ameaçava, e os Arúspices avisaram-no para que desconfiasse dos ides de Março.
Calpúrnia sua esposa assustada com uma visão noturna, implorou-o para que ficasse em casa esse dia.
Enfim entregaram-lhe alguns bilhetes que ele não chegou a ler, para o avisar da conspiração.

Aconteceu o inevitável, a força que distorce o julgamento daquele que quer mudar o destino. 

Esta moeda tem no anverso a efígie de Bruto à direita e a legenda
BRVT IMP L PLAET CEST
O reverso mostra-nos um boné frígio “sinal da liberdade” que era dado aos escravos livres, ladeado por dois punhais.
Isto assinala a intenção de Bruto de libertar Roma das ambições imperiais de Júlio César, e as armas destinadas para concluir este acto. Em baixo a data da morte de César: EID MAR – Idos de Março.
(Ref. RSC-15, Sear-1439, Sydenham-1301)

(O calendário romano regia-se por três datas fixas: calendas nonas e idos, com base nas fases da lua.
Os idos são a meio do mês, precisamente  15 de março, maio, julho e outubro, e dia 13 nos restantes meses).

Plutarco e Suetónio não têm um discurso diferente: apesar de ter sido avisado pelos deuses, César morreu. 
Finalmente podemos ter a impressão que César grande estratégista  e grande político, tenha cometido grandes erros de apreciação quanto às crenças religiosas dos seus contemporâneos, o que acabou por ocasionar a sua morte.
Mas ao afirmar isto todavia não respondo à questão inicial.
“César queria realmente ser considerado como um deus vivo”?

Os autores antigos refletem essa desordem e eventualmente as suas próprias crenças; mas que sabemos nós exactamente  sobre as idéias religiosas de César?
Salústio e Cícero divulgam o pensamento de César que, aquando do julgamento da conjuração de Catilina (político romano) no ano 63 a.C. perante o Senado disse.

Há quem pense que os conjurados devem ser executados . César por sua vez  rejeita a pene de morte por estar convencido que os deuses não quiseram fazer da morte um castigo, mas, que porque ela é a lei da natureza, o termo dos trabalhos e da misérias.
Assim o homem digno sage nunca a rejeita e o corajoso vai muitas vezes ao seu encontro.
(Lúcio Sérgio Catilina, 108-62 a.C., homem político romano conhecido por duas conjurações para derrubar o Senado da República Romana).

Não há dúvida que os ferros foram inventados para castigar alguém que cometa qualquer injustiça.
Melhor ainda, Salústio cita diretamente o discurso de César no Senado contra a pena de morte e terá declarado o seguinte: quanto ao castigo eu tenho,  penso  o direito de dizer o que é.
O luto, a miséria e a morte põe fim  a todas as infortunas e depois não há espaço para a preocupação nem alegria, (Salústio, Conjuração de Catilina LI).
Salústio e Cícero tiveram o mesmo pensamento que podemos resumir assim.
Depois da vida nada, e assim compreendemos melhor as atitudes de César e as incertezas dúvidas dos seus contemporâneos.

Para aprofundar o pensamento de César dispomos  também dos seus próprios escritos, a Guerra das Gálias e a Guerra Civil.
É certo que nestas obras César não fala das suas opiniões religiosas, mas dá indiretamente alguns elementos do seu pensamento.

Júlio César – Denário cunhado em Espanha em 46-45 a.C.
Anv./-busto de Vénus com diadema e colar: Cupido no seu ombro direito
Rev./-Cativos gauleses sentados por baixo de um troféu de armas gaulês
CAESAR
(Ref. Crawford-468/1, Sydenham-1014)

Podemos observar um certo afastamento de César em tudo que diz respeito à religião.
Ele descreve a religião dos gauleses ou alemães tal como um etnógrafo sem nenhuma preferência. (BG, VI, 13-14-16-18-21).
Para ele as crenças religiosas nunca são um obstáculo ás suas ações: não é questão ter em conta os presságios e augúrios como já nos demos conta.

Aos temores supersticiosos dos homens, ele responde com discursos racionais e desmistifica tanto quanto ele pode.   
Eventualmente César que conhece a facilidade dos homens a crerem no que eles querem (BG, III, 18,) utiliza estas crenças a seu favor. Em assuntos religiosos César é partidário do ceticismo. 
Assim quando Dunorix se recusa a embarcar com César para a Bretânia alegando razões religiosas, César que não acredita riu-se.
César cético, distante, e por vezes cínico, acreditará em deus, ou nos deuses do panteão romano?
Ele evoca raramente os deuses imortais e, quando o faz é para animar  o moral dos soldados após alguma desfeita, porque eles creem na existência dos deuses imortais .

Aqui mais uma vez César se serve da religião para seu interesse.
Os deuses imortais também aparecem na descrição da  religião gaulesa ou ainda como estátuas nos templos. 
César ao que parece não é politeísta. Será que ele acredita em deus?
Ele não acredita num deus único tipo judaico-cristã. O seu deus é uma mulher: a Fortuna cujo a nome aparece com muita frequência nos seus escritos.

A religião de César é um sentimento do destino que podemos resumir assim.
«Ajuda-te a ti mesmo e a Fortuna te ajudará... ou não».
Quanto à vida após a morte, César não acreditava o que explica a sua perseverança para obter de bons resultados políticos ou outros enquanto vivo.

À questão se César quis mesmo ser un deus, não podemos dizer nada, porque na sua «religião» pessoal nada se opunha.

Tempo de Júlio César
Otaviano – Denário, (oficina ambulante) cunhado em 39 a.C.
Anv/- Otaviano cabeça nua à direita
IMP CAESAR DIVI F III VIR ITER RPC
Rev./-Templo tetrastile encimado por uma estrela, na arquitrave com a legenda, DIVO IVL, ao centro figura a estátua de Júlio César. À esqueda altar aceso
Ref. Crawford-540/2, Sydenham-1338, Babelon-139, Sear-1545)

MGeada

Bibliografia
Bello Gallico; a Guerra das Gálias; edição digital-50.
Henri Plon, imprimeur éditeur: Histoire de Jules César, vol. 1 et 2, 1865.
Jean Malye ; La Véritable Histoire de Jules César, edition les Belles Lettres Paris 16-02-2017.
Jérôme Carcopino; Caio Júlio César, edição: Publicações Europa América.
Jesus Maeso de la Torre; Las Lágrimas de Júlio César (em espanhol)– outubro 2017
Joel Schmidt, (tradutor Neves Paulo); Júlio César, editora L & PM- Brasil 2006.
Luciano Canfora; Júlio César, um dictador democrático, impressão digital- 07-11-2000.
Victor Raquel; A guerra das Gálias, “Júlio César” - edições Silabo – 04-2004

Dião Cássio – L37.
Plutarco – Caes – 7, Caes – 21.
Suetónio Caes – 6, Caes - 77, Caes – 79, Caes – 85,  Caes – 87: (Caes = César).
Victor Raquel; A guerra das Gálias, “Júlio César” - edições Silabo – 04-2004

https://fr.wikipedia.org/wiki/Jules_C%C3%A9sar
https://www.iletaitunehistoire.com/genres/documentaires/lire/jules-cesar-bibliddoc_001