sexta-feira, 24 de agosto de 2012







CONSTANTINO I
    Desde sempre,  existiram  personagens  que nasceram e deixaram marcas indeléveis, que uma vez desaparecidos, continuam vivendo graças aos seus feitos.
   Muitas vezes estas personalidades foram inventores, exploradores ou grandes pensadores. Analisando estes prodígios à escala universal são poucos homens ou mulheres que deixaram uma herança durável à humanidade.
   Podemos afirmar de forma inequívoca que o imperador Constantino I, 306-337, faz parte  dessa rigorosa selecção. Na nossa opinião, um dos maiores.
  Constantino, (Flavius Valerius Aurelius Claudius Constantinus) nasceu a 27 de Fevereiro de 274, em Naissus, Mésia(actual Nis na Sérvia). Era o filho mais velho de Constâncio Cloro oficial do exército romano, que mais tarde será imperador, e Helena (Santa Helena).
  Constantino cresceu nos campos  militares e serviu sob Diocleciano. Foi  proclamado   César no ano 295, e Augusto pelas legiões no ano 306, após a morte do seu pai.
   Homem aguerrido e inteligente, mostrou as suas capacidades militares nas campanhas contra os sármatas e germanos, e qualidades políticas nas relações com os diversos Augustos que lhe disputavam o governo do Império.
  Fervente admirador da justiça e da verdade, a sua conversão ao cristianismo a partir de 312, não foi unicamente um cálculo político, mas também uma autêntica escolha religiosa.
  Mas esta sua admirável faceta, não pode esconder outra menos brilhante do personagem. Afectado por um grande orgulho e ávido de elogios desmesurados muito nocíveis para a sua reputação, ao ponto de se deixar influenciar pelos seus próximos.
  Incapaz de se dominar, utilizou a violência e o crime para alcançar os seus objectivos.
  Esse combate perpétuo com ele próprio com aspirações místicas e violências impulsivas, fazem a sua vida singularmente dramática.
  Constantino cresceu em Nicomédia na corte de Diocleciano. Será que este o tomou sob a sua protecção para o preparar à sucessão do pai, ou para se assegurar a fidelidade deste último?
   Sob a tutela de Diocleciano, Constantino recebeu uma educação principesca, ao mesmo tempo que iniciou uma carreira militar
  Quando em 305, Diocleciano abdica e passa o testemunho a Galério, Constantino ficou ou foi obrigado a ficar com o novo imperador, ainda que muito decepcionado por não ter sido designado César do seu pai  Constâncio, que  também não ficou satisfeito de não ter o filho como próximo colaborador, e ter que colaborar com Severo, (um protegido de Galério), como César.
 No ano 306, com alguma renitência Galério consentiu que Constantino colaborasse com o pai que há muito tempo o reclamava.
  Pai e filho encontraram-se em Boulogne,( a história conta que Constantino mandava mutilar todos os cavalos das estalagens por onde passava, e assim impedir que os soldados de Galério o apanhassem e levassem para a corte imperial, porque entretanto o imperador tinha decidido não o deixar  colaborar com o pai) e juntos foram para a Bretânia combater os Pictos(antigos habitantes da Escócia) que se tinham revoltado.
  Quando Constâncio Cloro faleceu (25 de Julho de 306, em Eburacum york) e os soldados proclamaram o seu filho Constantino à dignidade de  Augusto, Severo não aceitou esta promoção e só lhe concedeu a de César. Constantino pressentiu que a sua hora ainda não tinha chegado, abdicou da escolha dos soldados e aceitou a proposta de Galério.
  Para os  historiadores, ainda que Constantino só tenha o título e a função de César, eles calculam o período do seu reinado a partir da morte de Constâncio.
  Constantino que controlava a Bretânia e a Gália, no dia 21 de Março 307, após a captura de Severo II, fez-se proclamar Augusto pelos soldados.
  Receando que Constantino fizesse aliança com Galério e se virasse contra o filho, Maximiano deslocou-se à Gália e fez um pacto com ele no dia 25 de Dezembro 307.
  Em Novembro de 308, aquando de uma entrevista em Carnuntum(Panónia), Diocleciano, Maximiano e Galério, substituiram Constantino por Licínio, um novo protegido de Galério.
  Constantino não aceitou esta nominação: em 309-310, terminou com a domus divina do pai, “Domus Herculiana”, manisfestando assim o seu desejo de terminar com o sistema instituído por Diocleciano.
  Para revelar a sua vontade de criar um novo sistema de governo onde só exite lugar para um só homem no cimo da pirâmide, ele pôs-se sobre a protecção  de outro deus; o Sol Invictos.
  A sua vitória sobre  Maxêncio na batalha do Ponte Mílvio dia 28 de Outubro 312, decidiu definitivamente o reconhecimento do cristianismo como religião oficial do Império.
 
MARCVS AVRELIVS VALERIVS MAXENTIVS, 306-312
Follis cunhado em Óstia (desconhecemos o período de actividade deste atelier)
Anv. Busto laureado de Maxêncio à direita,  IMP C MAXENTIVS PF AVG
Rev. Os Dioscuros Castor e Pólux, AETERNITAS AVG N

  No ano 324 depois de vencer Licínio junto ás muralhas de Roma, passou a ser o único governador do Império.
  Ainda no mesmo ano Constantino decidiu fundar uma nova capital para o Império, e transformou a cidade grega de Bizâncio numa nova Roma à qual deu o seu nome: Constantinopla, que foi inaugurada com toda  a pompa e circunstância em 330.
    A cidade foi construída num sítio natural defensivo que a tornava práticamente invencível, numa época em que Roma estava constantemente sob a ameaça dos germanos.
  Situada  perto de algumas  terras da velha cilvilização helénica; Constantino construiu-a segundo o modelo de Roma. Sete colinas, catorze regiões urbanas, um Capitólio e um Senado.
  Se no início, ele permitiu a implantação de alguns templos pagãos, num curto espaço de tempo Contantinopla  passou a ter unicamente edifícios religiosos cristãs, e uma população de 100 000 habitantes.
  Além do palácio imperial Constantino também mandou construir o hippŏdrŏmŏs (hippŏdrŏmus), hipódromo(novo nome atribuído aos circos romanos) e a famosa igreja de Santa Sofia.
  Até agora podemos argumentar que Constantino foi um imperador como os outros: nasceu para reinar. Muito astuto, impôs algumas obrigações a Maximiano(que o levaram a cometer suicídio) e mais tarde a execução de Licínio são exemplos que ilustram os seus futuros projectos.
  Para ascender ao poder, teve que seguir o mesmo caminho tortuoso que os  seus antecessores. No entanto, algo de incomum irá motivá-lo a seguir um rumo que não estava previsto. Esta nova orientação vai fazer dele uma das figuras mais respeitadas da história de Roma e da humanidade.

FLAVIVS VALERIVS LICINIANVS LICINIVS, co-imperador 308-324.
Follis cunhado em Alexandria, 317-320.
Anv. Busto laureado e drapeado de Licínio à esquerda - IMP LICI NIVS AVG
Rev. Jupiter à esquerda com um ceptro e um globo – IOVI CONSER VATORI AVGG
 
   No início do seu reinado o cristianismo passou  a ser mais tolerado e a sua propagação começou a  estendeu-se a todas as classes sociais.
  Constantino acabou no entanto por entrar na história, como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na seqüência da sua vitória sobre Maxêncio na Batalha da Ponte Mílvio em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuíu ao Deus cristão.
  Segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latin: In hoc signo vinces - "Sob este símbolo vencerás".
   De manhã, antes da batalha, mandou que pintassem o simbolo cristão nos escudos dos soldados e conseguiu um vitória esmagadora sobre o inimigo.
   (Esta narrativa não é considerada um facto histórico, tratando-se antes da fusão de duas narrativas de factos diversos encontrados na biografia de Constantino pelo bispo Eusébio de Cesaréia, também conhecido por Eusebius Pamphili.)
                    
Constantino I, 306-337                                           Cristograma
Ae 3 cunhado em Constatinopla
Anv. Busto de Constantino laureado à direita – CONSTANTINVS MAX AVG
Rev. Estandarte com cristograma e serpente - SPES PUBLICA

   Esta foi a  decisão mais importante da sua vida. Em 313 o cristianismo recebeu reconhecimento oficial de todo o Império Romano. Foi o édito de Milão, que garantiu a liberdade do culto, e a seita foi livre de exercer a sua actividade fora  das catacumbas.
  Ele lançou as bases do Vaticano e da Igreja de Santa Sofia em Constantinopla, a nova capital do império. No Concílio de Niceia, ele rejeitou o arianismo, foi um dos maiores apoiantes do dogma da Trindade, e mandou erigir  as primeiras estátuas cristãs.
  Constantino I considerava-se superior ao papa da época(São Silvestre 314-335). Também no seu reinado um édito imperial fez do domingo um dia de repouso. Tendo sido um defensor da fé cristã, ele mereceu sem dúvidas o título de “O Grande”.
 É a Constantino que se deve a expansão judaico-cristã na Europa.
          
Constantino I, 306-337                                       
Follis cunhado em Siscia, 313-315.
Anv. Busto laureado de Contantino à direita – IMP CONSTANTINVS PF AVG
Rev. Jupiter à esquerda com uma vitoria na mão direita e um ceptro na esquerda
IOVI CONSERVATORI AVG DNN

   Em 326, sua mãe Helena, também se converteu  ao cristianismo durante uma viagem que efectuou a  Jerusalém. É a Helena que se deve a invenção da Santa Cruz. Doravante  estava tudo preparado para a expansão da fé cristã. A religião católica romana tinha nascido.
  Sob o governo de Constantino I, a representação dos diferentes deuses nas moedas romanas começou a diminuir. Foi ainda durante o  seu reinado que o follis vai deixar de ser unidade de conta.
  O solidus apareceu pela primeira em 310 e foi cuhado em Tréveros.

Flávia Júlia Helena, nasceu em Bitínia cerca de 248.(faleceu com 80 anos)
AE 4 Cunhado em Constantinopla, 330.
Anv. Busto de Helena com diadema à direita – FLIVL HE LENA AVG
Rev. A Pax com um ceptro e de frente, olhando para a esquerda, PAX PU BLICA
 
  Podemos dizer que o reinado de Constantino, marcou uma ruptura com a antiga Roma.
  Com ele tudo mudou. As várias religiões que existiam vão desaparecendo aos poucos em favor do cristianismo. A Roma do passado deixou de existir. A  sobrevivência da religião cristã deve-se a Constantino.
 O nosso método de ver ou pensar, está ligado ao sonho deste grande imperador que foi um dos personagens que mais influenciaram o nosso modo de vida. A seita cristã não poderia sobreviver  enquanto religião semi-legal e os cristãos  teriam provavelmente outra religião.
 Constantino, permaneceu até ao fim do seu reinado marcado pela fé que o inspirou, mas só foi  batizado nos últimos dias da sua vida e, pouco antes de sua morte proclamou-se o décimo terceiro apóstolo.
  Segundo a lenda, foi enterrado com 12 túmulos vazios, e mandou que parte da sua fortuna fosse dedicada à construção de basílicas cristãs.

    
Constantino I, 306-337
AE 4  póstumo, cunhado em Alexandria, 337-340.
Anv. Constantino com um véu na cabeça virado à direita, CONSTANTINVS  PTA AVG.  Rev. S R  SMAL
Rev. Constantino numa quadriga a subir ao céu com os braços estendidos, para alcançar  a mão de Deus.
 
   Graças ao imperador Constantino I e à sua geração, “o mal cristão” tão criticado e punido pelos seus antecessores iria espalhar-se aos quatro cantos do império e do mundo
  Constantino faleceu dia 22 de Maio de 337. Seguiu-se um interregno até Setembro de 337, durante o qual o ramo colateral da família de Constantino foi sistemáticamento eliminado por instigação de Constâncio II, excepto Constâncio Galo que na ocasião se encontrava muito doente, e Julião que contava apenas seis anos de idade.
  Após a morte de Constantino os seus filhos mandaram cunhar uma importante série de moedas onde a iconografia pagã (rosto coberto com um véu e carro triunfal) acompanha os símbolos cristãos, “a mão de Deus estendida ao imperador”.

M. Geada

Bibliografia

Bourgey; Sabi ne, Hollard; Dominique-L’Empire Romain, Tome III, 235-337, ap. J.C. Editions Errance, Paris 1991.           
Zosso; François, Zingg; Christian., Les Empereurs Romains(27 av.J.C. - 476 ap.J.C.
Editions Errance, Paris 1994.
Depeyrot;George-La monnaie Romaine, Paris, 2006.         
http://www.chrisnumismatique.com/periodes.asp?periode=95&categorie=6

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