quarta-feira, 31 de julho de 2013

CORINTO

TRÊS SÉCULOS DE ESTABILIDADE MONETÁRIA

Situada no cruzamento com as vias de comunicação norte-sul (Grécia do Norte - Peloponeso), e Este-Oeste (Ásia-Menor - Grande Grécia), a cidade de Corinto foi construída num istmo a 5 quilómetros do mar, a norte de Acrocorinto, (cidadela que domina a planície dos seus 575 metros de altura), e entre dois portos: Cencre (ou Cencréia), a Leste no Golfo Sarónico, e Lequeo a Oueste, no Golfo Coríntio.
Com uma indústria muito prolífera, a cidade desenvolveu a sua principal atividade  no comércio do azeite, perfume, vinho, e numa importante indústria naval e cerâmica.
Desde o início do século VI a.C. a cidade contestou a  predominância comercial de Atenas, graças às suas colónias das quais Siracusa foi a mais célebre.
De entre todos os fatores que favoreceram o seu desenvolvimento  destaca-se um sistema monetário judicioso e constante (o Estáter de Corinto) essencial para a sua prosperidade.
Alguns fragmentos de cerâmica descobertos nas ruínas da cidade, atestam a existência de Corinto já na época de Homero (século IX a.C.).
No campo da moeda por baixo do Pégaso (cavalo alado) tem  a letra arcaica Q(qoppa), inicial do nome da cidade em grego antigo que se manteve nas moedas, e foi substituída noutros  documentos pela letra K (Kapa).
A cronologia das moedas a partir do século V, é todavia sujeita  a controvérsias devido ao número de símbolos  e da perseverança dos estilos.
O fim do século VII é a época dos estáteres arcaicos Pégaso no anverso, e o  reverso dividido em várias seções: mais tarde,  com a cruz suástica dentro de um quadrado .
São moedas contemporâneas de Egina e Atenas, de origem asiática.

Corinto- Estáter arcaico, fim do século VII a.C.
Anv. Pegaso voando à esquerda.
Rev. Figuras geométricas. Suástica?.

Estáteres arcaicos com Cruz Suástica (gamada).

 Corinto-Estáter, 570-550 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Quadrado côncavo com a cruz suástica.

Corinto-Estáter, 570-550 a.C.
Anv. Pégaso à voando à esquerda.
Rev. Cruz suástica.

Tal como aconteceu em Atenas, o estilo da moeda mudou, os estáteres de Corinto passaram a ser mais espessos, e com menos diâmetro.
A introdução da cabeça de Atena com capaceto coríntio num quadrado côncavo, no reverso dos Pégasos, terá acontecido por volta dos anos 550 ou 540 a.C.

 Corinto- Estáter, 550 – 525 a.C.
Anv. Pegaso voando à esquerda.
Atena com capacete coríntio e colar à direita.

 Corinto-Estáter, 500 – 490 a.C.
Anv. Pegaso voando à esquerda.
Atena com capacete coríntio à direita.

No século V cerca  do ano 430, aparecem os símbolos no reverso (Ravel período IV).
É a apoteose da predominância da moeda coríntia na Sicília.
No século IV, por volta do anos 380-300, aparecem as letras no campo, (período V de Ravel). É o período mais produtivo.
A classificação das emissões mais antigas foi feita seguindo a evolução do reverso.
A sua ornamentação lembra a dos primeiros estáteres de Egina, com o reverso dividido em várias seções, depois mais original com o aparecimento da Suástica , esculpida dentro de um quadrado côncavo.
Segundo o trabalho apresentado por O. Ravel em 1936, as primeiras emissões monetárias coríntias terão sido batidas  com 65 cunhos diferentes.
  
 Corinto-  Estáter,  433 a.C.
Anv. Pégaso voando à direita. 
Rev. Atena com capacete coríntio à direita.

Corinto- Estáter- 400-350 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda. 
Rev. Atena com capacete coríntio à esquerda e golfinho.

 Corinto- Estáter, 400-350 a.C.
Anv. Pégaso voando à direita. 
Rev. Atena com capacete coríntio à direita e turíbulo.

 Corinto- Estáter,  400-350 a.C.
Anv. Pégaso a passo à esquerda. 
Rev. Atena com capacete coríntio à esquerda.
golfinho e sátiro em pé.

A descrição das moedas está separada por períodos, ou classificada por séries. Quando lhe foi possível, as ligações entre os cunhos permitiram o estabelecimento duma cronologia das emissões.
Alguns achados arqueológicos encontrados recentemente e desconhecidos por Ravel aquando da sua monumental obra “Os Cavalos de Corinto” forneceram mais informações, sem contudo alterarem muito os dados apresentados pelo Autor.
(Só algumas datas de acontecimentos são hoje contestadas: entre outras, a da  introdução da cruz  Suástica).
   
Nas moedas ditas de Wappenmunzen, apareceram Pégasos cunhados sobre didracmas atenienses tipo cabeça górgona(1).
Ora esse tipo de moeda  é dos mais recentes,  o que situaria o aparecimento da  cruz suástica nas moedas coríntias  nos anos 520, e não numa data anterior.
É pois possível que Atenas tenha precedido Corinto, mas de pouco na cunhagem de moedas.

((1)Criatura da mitologia grega, representada como um monstro feroz de aspecto feminino, com a cabeça coberta de serpentes. Tinha o poder de transformar em pedra todos aqueles que a olhassem.)

 Corinto-Dracma, 400-338 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Afrodite (Vénus) à esquerda.

 Corinto-Dracma, cerca de 330-300 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Afrodite com colar à esquerda.

 Corinto-Hemidracma, cerca de 234 a.C.-187 d.C.
Anv. protoma de pegaso voando à esquerda.
Rev. Afrodite à esquerda.

Os achados arqueológicos de Sambiase em 1960, Calábria e Selinunte  em 1985, testemunham que os primeiros exemplares arcaicos apareceram no final do século VI, não só em Corinto como  também na Grande Grécia e na Sicília.
Alguns destes exemplares depois de polidos,  terão servido de suporte a  moedas incusas de Metaponto e de Crotona.
Aquando da conquista Dórida (ou Dóride) a cidade foi tomada pelo general Temenos, o conquistador de Argos. Mais tarde foram fundadas as colónias de Corcira e Siracusa (cerca de 734 a.C.), fato que permitiu a Corinto desenvolver a sua indústria naval que forneceu navios a outras cidades, como Samos, (cerca de 704 a.C.), assim como a sua indústria de olaria.
Por volta do ano 657 a.C., após a oligarquia dos Bachiadas sob o reino do tirano Cípselo, a prosperidade de Corinto já é muito importante. Foi Périandro seu sucessor que governou de 625 a 585 a.C, que mandou cunhar os primeiros estáteres arcaicos, e manteve relações comerciais com o general Trasibulo tirano de Mileto, e com o rei Aliate da Lídia.
No ano 480 a.C., Corinto fez parte da coalização comandada pelo general ateniense Temístocles que combateu os persas nas Termópilas e ganharam a batalha de Salamina, mas o predomínio de Atenas é ainda muito importante em relação ao número de navios, cerca de 1 por 5.                                       
O imperialismo de Atenas e a sua oposição a Esparta foi uma das causas da guerra do Peloponeso no ano 431 a.C., durante a qual a cidade de Corinto sofreu muito, perdendo alguns navios e colónias.
A derrota de Atenas no ano 405 a.C., em Siracusa marcou o início da supremacia de Corinto.
Quando no ano 344 a.C., os gregos da Sicília pediram ajuda na guerra contra os cartagineses, Corinto enviou-lhes Timoleonte para libertar e repovoar Siracusa.
Desde então os  estáteres  de Corinto impõem-se progressivamente em toda a Bacia do Mediterrâneo. Mais de vinte cidades dependentes de Corinto vão cunhar a mesma moeda.

 Reggio di Calabria- Estáter, 351-280 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda, RH (RHEGIUM).
Rev. Arena com capacete coríntio à esquerda, e lira.

 Siracusa- Estáter,  344-317 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Atena com capacete coríntio à direita.
e legenda (Siracusa em grego).

 Siracusa- Estáter, 305 a.C.
Anv. Pegaso voando à direita, tríscele ou trskelion,
e legenda Siracusa em grego.
Rev. Atena com capacete coríntio ornamentado com um grifo à direita.

Arcádia (Anatólia)- Estáter, 386-387 a.C.
Anv.Pégaso voando à esquerda. 
Rev.Atena com capacete coríntio à esquerda.
e estátua de Atena.

Acarnânia (Argos-Anphilochikom)- Estáter, 340-300 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Atena com capacete coríntio à esquerda, legenda e capacete.  

 Acarnânia (Leucas) – Estáter, cerca de 400-350 a.C.
Anv. Pégaso voando à direita.
Rev. Afrodite (Vénus) à direita.

 Acarnânia (Leucas) – Estáter, 375-350 a.C
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev.Atena com capaceto coríntio à esquerda.,
escudo e caduceu.

 Acarnânia (Thyrrheion)- Estáter, 350-250 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Atena com capacete coríntio e colar à esquerda.

 Acarnânia (Alysia) - Estáter, 330-280 a.C.
Anv. Pégaso voando à direita.
Rev. Atena com capacete coríntio à direita e legenda .


 Lucânia (Heracleia) -Estáter IV século a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Atena com capacete coríntio à direita
  
 Argólida (Argos)- Estáter, IV século a.C.
Anv. Pégaso voando à direita e Argos, o cão de Ulisses.
Rev. Atena com capacete coríntio à esquerda, grão de cevada e legenda.

 Ilíria (Dirráquio) -Estáter, 350-300 a.C.
Anv. Pégaso voando à  direita.
Rev. Atena com capacete coríntio à direita.
turíbulo e golfinho.

 Arta (antiga Ambrácia ou Amprácia) -Estáter, 340 a.C.
Anv. Pégaso voando à direita.
  Atena com capacete coríntio à esquerda,
cacho de uvas, taça - A .

 Lócrida Ocidental-Estáter, 350-275 a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Atena com capacete coríntio à esquerda e legenda .

 Lócrida Ocidental - BR 27, 278-276 a.C.
Anv.Pégaso voando à esquerda e legenda.
Rev. Atena com capacete coríntio à esquerda.

A hipótese mais recente sobre este assunto anunciada  por J. Talbert e cientificamente apoiada, é que Corinto era naquela ocasião considerada como um balcão comercial para as outras cidades gregas, trocando e  reciclando o produto da agricultura siciliana que servia de abastecimento a outras cidades.
Desde o fim do IV século a.C., a cunhagem dos Pégasos de Corinto começou a diminuir: terminou definitivamente por volta do ano  270 a.C., e aos poucos foi saindo da circulação. 

 Acarnânia-(Leucas), Dracma 380-350 a.C..
Anv. Pégaso voando à direita.
Rev. Afrodite (Vénus) com colar,  de frente.

 Acarnânia-(Leucas), Diobolo (1/3 dracma), 400-375a.C.
Anv. Pégaso voando à esquerda.
Rev. Pégaso a passo à esquerda.

 Acarnânia  (Leucas) – Tremiobolo (3/12 dracma), 380-320 a.C.
Anv. Pégaso voando à direita
Rev. Cabeça górgona de frente.

 Acarnânia (Leucas)-Hemidracma (1/2 dracma), 380-320 a.C.
Anv.Prótoma de Pégaso voando à esquerda.
Rev. Afrodite (Vénus) à esquerda.

 Acarnânia (Anatólia)-Hemidracma, cerca de  330-300 a.C..
Anv. Prótoma de Pégaso voando à esquerda.
Rev. Apolo à esquerda.

LENDA

Uma das muitas lendas diz que Belerofonte (1), com a ajuda de Atena capturou o Pégaso (2) quando este bebia na Fonte Piréne no sopé do monte  Acrorinto, e fez dele  o símbolo da cidade.

((1) Herói mitológico filho de Gleuco, que após ter matado o irmão sem o conhecer, retirou-se para a corte de Preto, rei de Argos. Este rei que invejava o seu hóspede mas,  que não queria faltar às leis da hospitalidade, mandou o herói ao seu cunhado Ibatos com cartas de recomendação, nas quais em sinais misteriosos estava escrita a ordem para matar o portador.)
  
((2) Fruto do acasalamento de Medusa e Posídon, domado por Belerofonte, permitiu que este o montasse aquando das suas aventuras entre as quais a captura e morte da Quimera (3).
  
((3) Oriunda da Anatólia a Quimera sempre exerceu atração sobre o imaginário popular.

Segundo a versão mais difundida era um monstro,  produto da união entre Equidna (metade mulher e metade serpente) e do gigantesco Tifão ou Tifeu.
   Outras lendas dizem ser filha da hidra de  Lerna e do leão de Nemeia, que foram mortos por Hércules.

 Corinto-Hemidracma (1/2 dracma) , cerca de 330 a.C..  
Anv. Belerofonte  nu, com o pétaso cavalgando o pégaso à direita.
Rev. Quimera à esquerda e ânfora.

 Acarnania (Leucas)- Hemidracma, 375-350 a.C..
Anv. Belerofonte nu, com o pétaso cavalgando o pégaso à direita.
Rev. Quimera caminhando à esquerda.

 Acarnânia (Leucas)-BR 18, cerca de 350-250 a.C..
Belerofonte cavalgando o pégaso à direita.
Rev. Quimera à esquerda.

 Acarnânia (Leucas) - AE 17, 350-330 a.C..
Anv. Belerofonte nu, com o pétaso, cavalgando o pégaso à esquerda.
Rev. Quimera à esquerda e astrágalo.

38 Acarnânia (Leucas)-AE 15, 350-300 a.C..
Anv. Belerofonte nu, com o pétaso, cavalgando o pégaso à esquerda.
Rev. Quimera à direita.

(Pétaso: Tipo de chapéu de abas largas e copa pouco elevada, usado pelos antigos gregos e romanos)

Isto é apenas um pequeno resumo sobre uma moeda cheia de história e ainda muito popular nos nossos dias. O Estáter de Corinto.

Existem inúmeras obras de referência, assim como muitos artigos publicados em revistas sobre o Pégaso de Corinto, algumas delas citadas  na bibliografia deste trabalho.

MGeada

BIBLIOGRAFIA

A. Blanchet: Répresentations de Statues sur les Monnaies de Corinthe, Revue Numismatique 1907.
Hélène Nicolet: Pierre – Numismatique Grecque, Editions Armand Colise, Paris 2002.
O. Ravel: Corinthe et ses Colonies, revue Arethuse, 1929.
Dominique Gerin, Catherine Grandjean, Michel Amandry, F.de Callatay: La Monnaie Grecque, Aubin Imprimeur, Novembro 2001.
Contribuition à L’etude de la Nunismatique Corinthienne, Revue Numismatique, 1932.
Monnais Grecques, Ellipses Édition Marketing S.A., Paris 2001.
Les Poulins de Corinthe, 2 volume - Bale 1936, Londres 1948.
The colts of Ambracia, American Numismatic Sociéty 37, New-york 1928.
Will: Notes sur les origines du Pégase Corinthien, Revue Numismatique 1952, pag. 239.
G.K.Jenkins: A note on Corinthian Coins in the West, Numismatic Notes & Monographes 1958, pag. 367.
Talbert: Corinthian Silver, Coinage and the Sicilien economy c290 BC-. Numismatic Chronicle, vol. 11, Londres 1971.
Kraay: Timoléon and Corinthian Coinage in Sicily, CIN 1973, pag. 99.  S.P. Noé: A Bibliography of Greek Coin Hoards, NNM 25, New-York 1925.
Yves: Cellard - Monnaies n°2, Juillet-Aout 1991, pag. 41/42.
Centre Numismatique du Palais-Royale: Catálogo de vendas, Dezembro 1992.
Centre Numismatique du Palais-Royale: Catálogo de vendas, Março 1997.
Crédit de la Bourse: Catálogo de vendas, Outubro 1992. 
Elsen: Jean - Catálogo de vendas, Junho 2000.
Elsen: Jean - Catálogo de vendas, Setembro  2000.
Vinchon: Jean - Catálogo de vendas, Novembro 1994.

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