sexta-feira, 27 de junho de 2014

Três vinténs
D. João príncipe regente
Três vintens (furado)

Divisa  monetária cujo valor proveio do aumento de 20% sobre a moeda de prata, decretada por D. Pedro II em 4 de agosto de 1688, passando desde então os 400 réis a correr por 480, os 200 por 240 réis, os 100 por 120 réis e finalmente os 50 por 60 réis ou “três vinténs”.

Foi esta a designação que prevaleceu, e como foi esta moeda a escolhida geralmente pelo povo para amuleto da virtude perservativa da castidade das donzelas, que suas mães lhe punham ao pescoço dependuradas num cordão (preto), esse foi o motivo porque uma grande parte dessas moedas aparecem furadas, assim como se ligou o nome dos “três vinténs” aquela virtude.


D. Pedro II, Três vinténs ND (furado)
PETRVS.II.DG.P.ET.ALG.REX
(Pedro II pela graça de Deus rei de Portugal e Algarve)

D. Pedro II, Três vinténs ND (sem furo)
Anv. PETRVS.II.D.G.REX.PORTV.
Rev. IN.HOC.SIGNO.VINCES
(Por este sinal vencerás)

A moeda dos “três vinténs” cunhou-se em quase todos os reinados desde D.Pedro II a D. Miguel 1828-1834, em que foram cunhados os últimos espécimes desse valor.
O seu peso inicial era de 2,16 gramas e ø19mm no reinado de D. Pedro, e terminou com 1,83 gramas e ø18mm no reinado de D. Miguel, sempre com o título de 916,6 milésimos.

Três vinténs (furado)

O que muitos ajuntadores não sabem, é porque grande parte desta simpaticazinha moeda aparece furada.
Os “três vinténs” tornaram-se tão populares ao ponto que as mães parturientes, usavam pô-la ao pescoço das filhas logo que nasciam pendurada num  fio como amuleto, que só retiravam quando casavam, daí a razão do furo.

Alguns rapazes  mais atrevidos quando se aproximavam delas começavam por procurar no pescoço a famosa moedinha e, quando não a encontravam pronunciavam descontentes,“já não tem os três vinténs” ou então, “já lhe tiraram os três”. Tinha chegado tarde, ela já tinha dono.

Num passado ainda recente, quando a virgindade feminina era um atributo quase indispensável para o casamento, era vulgar a expressão que fazia equivaler a existência da ainda virgindade à expressão “Ter os três vinténs” ou,  não.

D. João V, Três vinténs ND, (sem furo)

Anv. JOANNES.D.G.P.PORTUGALIA.ET.ALGarbiorvm.
(João V pela graça de Deus príncipe de Portugal e Algarve)
Rev. IN HOC SIGNO VINCES
(Por este sinal vencerás)

D. João V, Três vinténs ND (furado)
IOANNES.V.D.G.P.ET.ALG.REX
(João V pela graça de Deus rei de Portugal e Algarve)
IN.HOC.SIGNO.VINCES

Caso a menina não fosse virgem dizia-se que ela tinha perdido os “Três vinténs”, ou então quando a  virgindade era  oferecida a um rapaz, o felizardo dizia, “já lhe tirei os três”.

 É difícil de saber qual a origem destas expressões que hoje muitos jovens não conhecem e, numa época em que a mulher  alcançou  tão elevado grau de emancipação, essa expressão seria perfeitamente idiota.

Se consultarmos  um dicionário, o três é um número cardinal formado de dois e mais um, no entanto se nos referimos à expressão popular “os três”, remetemos logo para  o âmbito sexual.   

Na minha pesquisa sobre a origem desta expressão, notei que a vida não era fácil para a mulher que viveu nessa época.
Um período em que grande parte dos casamentos eram de conveniência (por vezes os jovens nem se conheciam) e havia condições a debater sobre o dote, comportamento da rapariga e outras.

Era frequente a família do rapaz exigir um atestado de bom comportamento da noiva, passado por uma autoridade local (geralmente o presidente da junta de freguesia) e, caso tivesse alguma dúvida, podia pedir um atestado de virgindade passado pela parteira, que tinha que fazer o teste de  virgindade.  

D. João V, Três vinténs ND (furado)


Hoje é fácil fazer esse teste, mas no passado, além de ser anedótico, era crucial para as meninas que podiam ter sido elas mesmo a romper o hímen.
Imaginem a parteira colocar  uma moedinha de três vintens sobre o hímen da donzela e se esta passasse para dentro o teste era positivo.

“Três vinténs” também era o preço da comissão da parteira para efetuar o teste.

No arquivo distrital de Viseu existe um documento com data incerta, mas que aparenta ser do início do século XIX, usado como prova passado por uma parteira da época chamada Bárbara Emília natural de Coura (Viseu), a pedido de uma jovem  (Maria dos Prazeres Jacynto Leite Capello Rêgu).   




Atestado de Virgindade

Eu, Bárbara  Emilia, parteira que soy de Coyra, atestu que Maria dos Prazeres Jacynto Leite Capello Rêgu tem as partes fodengas talinqual comu veyo ao mundo inseto uma nóida negra no alto da crica que não sendo de nacenssa é proveniente de marradas de pisa.
Por ser verdade pasei o prezente atestado de virgindade .

Bárbara Emilia das Dores

Outro documento da mesma parteira (do qual não me foi possível encontrar uma cópia) a pedido de Maria de Jesus,  que pretendia libertar-se da difamação de não ser pura, e provar a sua virgindade para contrair casamento.

O documento reza assim :

Atestado de Birgindade

Eu, Bárbara Emília, parteira que sou de Coyra, atesto e certufico pela minha onra que Maria de Jesus tem as partes fudengas talinqual como veyo ao mundo insceto umas pequenas noidas negras junto ao alto da crica que a não serem de nacenssa sarão purvenientes de marradas de piça.

Por ser verdade pasei o prezente atestado de virgindade.
Bárbara Emília das Dores


Estes documentos, verídicos, fazem-nos recordar embora de forma anedótica, a importância que a virgindade tem assumido na nossa e em muitas outras culturas.

D. Pedro IV, Três vinténs ND (sem furo)
Anv. PETRUS IV DG.PORTUG ET ALGARB REX
(Pedro IV pela graça de Deus rei de Portugal e Algarve)
Rev. IN HOC SIGNE VINCES

Outra expressão de “três vinténs”, faz referência ao preço de três vinténs que o homem pagava a partir do século XVI para desflorar uma escrava negra virgem. 

MGeada


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