domingo, 12 de janeiro de 2014

  Saladino (e as cruzadas)

Saladino (Salah al-Din  ) faz parte desses personagens históricos que marcaram a sua época e deram origem a uma abundante literatura laudatória muitas vezes lendária.

Não há dúvida que a  comparação das fontes textuais, epigráficas, numismáticas ou arqueológicas sejam elas do Oriente ou Ocidente são interessantes mas, além da real personagem do sultão, também temos que ter em conta a elaboração da sua imagem refletida nas obras dos seus panegiristas, nas lendas e até os discursos políticos dos nossos dias, para tentarmos compreender os motivos e significação de tal posteridade.

De origem curda, Yusuf ibn Ayyub nasceu em 1138 em Tikrit (Iraque), e faleceu em Damas no dia 4 de março de 1193.
Conhecido nos países muçulmanos por “al-Malik al-Nasir Salah al Din” (o rei vitorioso, retidão da religião) é sob o nome de “Saladino” que o nosso personagem é conhecido na história europeia.

Dinastia dos Aiúbidas-Saladino.
Fels AE (bronze) cunhado em Damas, cerca de 570-571, Hégira.
Anv. Al Nasir Salah al Din Yusuf I (Saladino).
Rev. Al-Salih Ismail.
(Raro,  primeiro tipo enquanto regente do soberano zengide Al-Salih Ismail,
do qual o nome figura no reverso desta moeda.
Interessante testemunho dum período das cruzadas).

Entre 1164 e 1169, o emir Nur al-Din (fevereiro 1118-maio 1174) que lutava contra os cruzados, enviou-o juntamente com o seu tio Chirkuh (oficial curdo) retomar o Egito aos califas Fatímidas.
(Este califado rival dos Abássidas de Bagdá (ou bagdade), foi sempre um obstáculo na luta contra os cruzados).

Nur al-Din 1146-1174.
Fels AE cunhado em Damasco.

Egito-Califado Fatímida.
Al-Mustansir (1036-1094), Dinar AU (ouro). 

Bagdá-Califado Abássida.
Al-Musta’sim Billah, Dinar AR (prata).
(último califa abássida a reinar em Bagdá, de 1242 a 1258).

Em 1169 após à morte do seu tio, Saladino sucedeu-lhe como “vizir” (primeiro ministro) do califa Fatímida do Cairo.
Em setembro do ano 1171, derrubou o último califa Fatímida, proclamou-se sultão e restabeleceu a suserania dos califas Abássidas do Egito.

Em 1174, à morte de Nur al-Din  (emir de Alepo desde 1146), encontrou-se mestre do Egito e da Síria, finalmente unidos na luta contra os cruzados.
Ainda em 1174, lançou as hostilidades e atacou Kerak, (fortaleza defendida por Renaud de Châtillon), para proteger os caminhos de peregrinação em direção da Meca.

Época das cruzadas- Antioquia.
Besante AU, atribuído a Reinaldo de Châtillon 1125-1187.

Enquanto continua os seus esforços para reunir num único Estado as terras muçulmanas, Saladino alargou o seu poder até à Síria do Norte, e norte da Mesopotâmia, eliminando quando necessário os seus rivais muçulmanos.
A união tão temida pelos cristãos surgie sob a égide deste chefe providencial, o curdo “SALADINO”,

Após a submissão de Alepo em 1183, (cidade do norte da Síria) e depois Mossul 1186, (cidade do norte do Iraque), numerosos exércitos muçulmanos, aliados sob o comando de Saladino, preparam-se para combater os cruzados.


Saladino1/2 Dinar AR, Damas 1193.

En 1187, invadiu o Reino Latino de Jerusalém, venceu os francos na batalha de Hattin na Galiléia, e tomou Jerusalém dia 2 de outubro do mesmo ano, que deu origem à terceira cruzada para reconquistar a Cidade Santa em 1189.
Seguiram-se importantes combates em que Saladino foi obrigado a restituir aos cruzados Acre (após um longo cerco), Jafa e Ascalão, mas manteve Jerúsalem.

Em 1192, assinou um tratado de paz com Ricardo Coração de Leão rei da Inglaterra, que permitiu aos cristãos retomar toda a costa de Jafa a Tiro, e aos muçulmanos conservar Jerusalém.
No dia 4 de março 1193, Saladino faleceu em Damas em consequência de doença grave, deixando um império dividido entre os seus diferentes filhos e irmãos.

No mundo Árabe-Muçulmano o direito de cunhar moeda era um privilégio real (Sikka em árabe) que o Califa tinha e exercia em nome de Deus.
A partir do século X, época em que os califas  começaram a perder a sua supremacia, alguns soberanos locais cunharam moeda em seu nome mas, o nome do califa aparece sempre no anverso das moedas, sinal de autoridade ainda que por vezes fictícia.

Desde a morte de Nur al- Din (1174) que Saladino emitiu dinares de ouro em none do califa al-Nasir sobre os quais também figura o seu nome.
De igual modo, em 1176 recomeçou em Damas depois em Alepo, a cuhagem de moedas em prata parada há mais de um século.

Saladino-Dinar AU, Cairo cerca de 1190.

Os seus diremes (dirheme ou dirhame) sírios em  prata, têm aproximadamente 2,97grs..   
No anverso figura o título completo do califa e a sua profissão da fé.
No reverso, o título de Saladino, a oficina nonetária e data.

Egito- Aiúbidas 570/589 H (1174-1193), Direme AR.
Anv. al-iman al-na   sir li-din allah    amir al-mu´minin.
O imman al-Nasir li din Allah, comandante dos crentes (no interior dum quadrado).
Legenda circular: la ilah illa   allah   wahdahu   muhammad rasu   i allah.
(ninguém acima de Deus único, Muhammad (Maomé) é o mensageiro de Deus). 
Rev. al-Malik  al na  Salah al-d    unya wa i din.
O rei vitorioso, justiça do mundo e da fé (no interior dum quadrado).

(Notar que as legendas religiosas são mais discretas favorisando as titelaturas dos soberanos).

A Estrela de Davi (conhecida como escudo supremo de Davi, “David”, ou estrela de seis pontas) é a imagem característica da oficina de Alepo desde 1184, enquanto em Damas cunharam-se diremes com um quadrado no interior de um círculo.
Talvez seja simplesmente um elemento decorativo mas, também podemos ver nesta estrela de Davi, uma referência direta à vontade de reconquistar Jerusalém.

Aiúbidas: Saladino- 1171-1193, 1 Direme AR.
Anv. al-iman al-Nasir li-din Allah amir al-Muminin, (no interior da estrela).
Legenda circular: Não existe mais nenhum Deus, além de Deus,
Maomé é o mensageiro de Deus din yusuf ibn Ayyub.
Rev. al-Malikal-Nasir Salah al-din Yusuf inn Ayyub,  (no interior da estrela).
Legenda circular: Este direme foi cunhado em Alepo no ano 584, Hégira.

Saladino reconquista Jerusalém e põe fim à era das cruzadas.

Senhor do Egito e da Síria, o sultão Saladino conquistou uma grande vitória ao vencer o exército dos cruzados no dia 4 de julho de 1187 perto do lago de Tiberíadas (ou mar da Galileia).
Esta batalha terminou com a reconquista de Jerusalém pelos muçulmanos e torna ilusória a presença dos cruzados na Terra Santa.  

Ao longo dos anos os cruzados vindos da Europa,  foram sendo assimilados à população local contraindo casamento com mulheres  (entre outras nacionalidades) gregas, armênias, sírias, que transmitiram aos filhos uma mestiçagem cultural.
Na  sua constante luta e defesa do território  contra os mulçulmanos,  foram ajudados pelo fluxo permanente dos peregrinos armados vindos do Ocidente.  

Por não compreenderem o relacionamente cultural dos cruzados já ali instalados com os vizinhos turcos ou árabes, os novos cruzados impacientes para lutarem contra os infieis, mostravam um certo desprezo para com eles e seus descendentes.
Isto, mesmo apesar dos reis que se sucediam em Jerusalém, fazerem o necessário para impedir esta discriminação entre cristãos. 

Aiúbidas: al-Nasir Salah al-Din Yusuf I (Saladino).
Direme AE, 1169-1193.
Anv. Saladino sentado de frente e legendas.
Rev. Legendas.

Aiúbidas: al-Nasir Salah  al-Din Yusuf I (Saladino).
Direme AR, 1169-1193 cunhado em al-Caira (Cairo).

Aiúbidas: al-Nasir Salah al-Din Yusuf I (Saladino).
1169-1193, Direme AR cunhado em al-Caira (Cairo).
(este direme "preto" só circulou no Egito).

Aiúbidas: al-Nasir Salah al-Din Yusuf I (Saladino).
Direme AR, 1169-1193, cunhado em Halab (Alepo).
(Halab é  uma das cidades mais antigas habitadas do mundo : já existia na época do  Paleobabilónico, 1894-1595 a.C.).

Aiúbidas: al-Nasir Salah al-Din Yusuf I (Saladino).
Fels AE, cunhado em Alepo.

Aiúbidas: al-Nasir Salah al-Din Yusuf I (Saladino).
Fels AE, cunhado em Damasco.


CRUZADAS

Primeira Cruzada 1095-1099

Papa Urbano II.

Convocada em França , como uma guerra santa pelo papa Urbano II, teve inicío com a partida rumo a Jerusalém em 1096.
Consquistaram a Terra Santa, o principado  de Antioquia e os condados de Trípoli (Libano) e Edessa (hoje Sanliurfa na Turquia), ficando praticamente independentes do rei de Jerusalém. 

Durante esta expedição foram fundados vários estados no Oriente Próximo denominados  por Outremer (Além Mar), que estavam organizados segundo as leis feudais. 
  
Segunda Cruzada 1147-1149


São Bernardo.

Estimulada por São Bernardo, tendo em vista a provável retomada de Edessa pelos islâmicos da cidade, esta cruzada só não foi considerada um fracasso total, porque Lisboa acabou por ser conquistada aos mouros pelos cruzados vindos de Flandres e da Inglaterra, que se dirigiam para a Palestina. 

  Pintura de Roque Gameio (O Cerco de Lisboa)

A conquista de Lisboa foi de primordial importância para o Reino de Portugal.
Além disso, os cruzados normandos também conquistaram aos infieis algumas possessões que posteriormente pertenciam ao Império Bisantino: Corfu (ou Córcira), Corinto e Tebas. 

Painel de azulejo no exterior da igreja de Santa Luzia em lisboa.

Esta cruzada, não teve o mesmo ardor e empenho da primeira e as consequências foram graves,  porque grande parte das forças pereceram na Ásia Menor, e as que conseguiram alcançar a Palestina, foram derrotadas quando tentavam tomar Damasco em 1148. 

Um desastre, que deixou um profundo ressentimento no Ocidente, contra o Império do Oriente perante este insucesso.            

Terceira Cruzada 1189-1192

Papa Gregório VII.

Pregada pelo papa Gregório VII, foi organizada depois da retomada da Cidade Santa “Jerusalém” pelo sultão “Saladino”. 
Com a participação do rei Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, do imperador Frederico I (Barbaruiva ou Barbarossa) do Sacro Império Romano-Germânico e Filipe Augusto de França, ficou conhecida como “Cruzada dos Reis”.

Aquitânia- Anglo–Gallic, 1172-1189.
Ricardo I (Ricardo Coração de Leão) Denier (dinheiro) AR, 0,8 gr..
Anv. RICAR DVS REX.
Rev. PIC TAVIE NSIS.

Foi nesta cruzada que  Ricardo Coração de Leão assinou um acordo com Saladino que permitia aos cristãos peregrinar com segurança até á Terra Santa.
Frederico Barbarossa que contava na época 67 anos, devido ao peso da armadura que vestia, morreu afogado na Cilícia (região histórica da Anatólia)  no dia 10 de junho de 1190, ao tentar atravessar o rio Sélef (hoje Goksu).  

Denário AR, cunhado em Cremona.
Período de Frederico I (Barbaruiva ou Barbarossa), 1151-1190.

Filipe Augusto (de França) 1180-1223, Denário AR.
Anv. PHILIPVS REX.
Rev. PARISII CIVIS.

Quarta cruzada 1202-1204 

Empreendida por  Balduíno I e Bonifácio I Marquês de Montferrat, esta cruzada teve grandes consequências políticas e religiosas, porque em vez de se dirigir diretamente para a Terra Santa, ponto essencial do conflito entre cristãos e muçulmanos, optou por se dirigir para Constantinopla. 

Balduíno I de Constatinopla, 1204-1205.
Trachy (desprezível ?) em bolhão cunhado em Tessalonica.
Anv. Imperador e Santo Militar de frente.
Rev. Busto de Cristo ninbado segurando os evangelhos. 

Bonifácio I, 1192-1207.

Papa Inocêncio III.

O papa Inocêncio III que não ficou satisfeito, proibiu esta decisão que tinha como principal objetivo, derrubar o imperador Aleixo III, tudo isto por causa da promessa de Aleixo (futuro Aleixo IV) filho do deposto Isaque II,  que prometeu aos cruzados boa recompensa pelo auxílio prestado para assumir o governo do Império.

 
Aleixo III, 1195-1203.
Electrum cunhado em Constantinopla.
Anv. Cristo aureolado sentado num trono, abençoando com a mão direita.
No exergo, livro dos evangelhos (sem legenda).
Rev. Aleixo à esquerda e St. Constantino em pé com um estandarte,  
ALEZIC DECPoKXCTAN.

Isaque II, 1185-1195.
Tetarteron  AE, cunhado em Tessalonica.
Anv. Busto do Arcanjo S. Miguel  com um cetro
na mão direita,  O/X AP – X/MI (Arcanjo S. Miguel).
Rev. Busto coroado de Isaque II com um cetro cruciforme
na mão direita, I/CA/AKI  - D/ES/PO/TH  (Isaque despota)

O imperador foi vencido, mas Aleixo não conseguiu cumprir  as suas promessas, motivo pelo qual os cruzados tomaram e saqueram Constantinopla.

As relíquias religiosas foram as mais cobiçadas: o Império Oriental foi dividido, Balduíno I foi nomeado imperador e um patriarca latino foi designado papa.

Esta conquista foi um autêntico desastre porque além de enfraquecer o Império Oriental, agravou as hostilidades entre a cristandade grega e latina. 

Cruzada das crianças 1212

Cruzada das crianças por Gustavo Doré

É o nome dado a um conjunto de fatos com algumas fantasias que ocorreram no ano 1212. Existem várias versões, e os próprios acontecimentos que deram origem às lendas, continuam a ser debatidos pelos historiadores.

Por acreditarem que estavam possuídas do poder Divino, e por isso alcançariam com facilidade e sucesso a tomada de Jerusalém, multidões de crianças e jovens adolescentes partiram de França e do Sacro Império, em direção aos portos marítimos para embarcarem rumo à Palestina.

Esta cruzada teve um final trágico. Muitos pereceram na viagem, e os sobreviventes assim que acostaram no porto de Alexandria, foram vendidos como escravos aos muçulmanos pelos mercadores de Marselha.  

(Em todas as versões conhecidas, as cruzadas das criançam foram trágicos acontecimentos. Os  peregrinos nunca conseguiram chegar ao seu destino: “A Terra Santa”).

Quinta cruzada-1217-1221

Papa Honório III.

Pregada em 1215 pelo papa Inocêncio III no quarto Concílio de Latrão, foi posta em prática por Honório III seu sucessor, e liderada por André II rei da Hungria, Leopoldo VI, duque da Áustria, João I de Brienne (rei em título de Jerusalém), e Frederico II, imperador do Sacro Império.

André II da Hungria, Denário AR. .
               
Frederico II, 1197-1250.
Um Tari AU, cunhado em Messina, cerca de 1231.
Anv. Pseudo crucifixo e legenda circular.  IC XCNI KA.
Rev. Seis glóbulos no interior de um círculo.

Jean de Brienne, 1210-1225.
Denário AR cunhado em Damiata.
Anv. Cruz cantonada, IOHES REX.
Rev. Busto de frente, DAMIATA (raríssimo).

Decidiu-se que antes de conquistar Jerusalém, tinham que conquistar o Egito por este controlar essse território.
Em maio de 1218, sob o comando de João de Brienne o exército de Frederico II rumou ao Egito.
Desembarcados em São João d´Acre, depois de conquistarem uma pequena fortaleza, aguardaram reforços. Em agosto auxiliados pelas tropas papais atacaram Damieta, cidade que lhes dava acesso ao Cairo.

Depois de alguns insucessos e a causa parecia perdida, uma crise na liderança egípcia permitiu aos cruzados ocupar o campo inimigo, e numa paz negociada em 1219 com os muçulmanos, Jerusalém era oferecida aos cristãos em troca da sua retirada do Egito.

Os chefes cruzados nomeadamente o cardeal Pelágio, recusaram tal oferta objectivo máximo dos cristãos, por considerarem que os muçulmanos não conseguiriam resistir aos cruzados quando chegasse Frederico II com os seus exércitos. 


Frederico II, 1220-1250.
Denário em bolhão cunhado em Messina.

Depois de cercarem o porto egípcio de Damieta, e algumas batalhas onde sofreram grande derrota, o sultão voltou a renovar a proposta que foi novamente recusada.
Após um longo  cerco que durou de fevereiro a novembro de 1219 a cidade caíu, mas os desacordos entre cruzados eram tão frequentes que permitiram aos egípcios recuperarem forças.

Em julho de 1221 o cardeal ordenou uma ofensiva contra o Cairo, onde os muçulmanos propositadamente foram recuando até que os cruzados cairam numa armadilha.
Cercados e esfomeados, tiveram que chegar a um acordo: retirar-se do Egito com as vidas salvas, e aceitar uma trégua por oito anos.

Como os reforços prometidos por Frederico II não chegaram, os seus objetivos não foram alcançados, e deu origem a que Frederico fosse excomungado pelo papa Gregório IX.

Foi esta a última cruzada em que as forças papais participaram.

Sexta cruzada -1228-1229

Lançada em 1227, pelo imperador do Sacro Império Frederico II que tinha sido excomungado pelo papa, só no ano seguinte ganharia forma.

Frederico II, 1220-1250.
Denário em bolhão cunhado emMessina 1225.
 
Genro de João de Briente herdeiro do trono de Jerusalém, Frederico pretendia reclamar os seus direitos sobre Chipre e Jerusalém.
Assim que a frota rumou em direção do Oriente, Frederico recebeu uma mensagem de paz do sultão do Egito que atrasou a sua progressão, e deu origem a que ele fosse excomungado pelo papa.

Finalmente no verão de 1228, após alguma hesitação acabou por partir para o Oriente e assim se livrar da excomunhão imposta por Gregório IX, por ter demorado a entrar na luta.

Gregório IX.

Ao mesmo tempo o papa proclamou outra cruzada, desta vez contra Frederico e atacou as suas possessões na Península Itálica (Chipre e Acre),  no entanto estas pretenções não tiveram sucesso. 

O exército (reduzido) de Frederico auxiliado por cavaleiros da Ordem Teutónica (estes sob o comando do 4° Grão Mestre Herman von Salva), foi diminuindo com deserções e hostilidades das forças cristãs locais, devido à sua excomunhão pelo papa.

Moeda de Hermann von Salza.
4° grão-mestre da Ordem-Teutónica.

Aproveitando as discórdias entre os sultões de Damasco e Egito, Frederico conseguiu através da diplomacia um vantajoso tratado com o Egito de Malik Al-Kamil, sobrinho de Saladino.

Ayyubud: Abu Bakr I, 1196-1218.
Direme de prata com o nome adicionado do herdeiro.
(wali ahduhu) al-Malik al-Kamil, cunhado em al-Qahira (Cairo).

Pelo tratado de Jafa (1228) ganhou Belém, Nazaré e Sidon (um caminho aberto para o mar), além de uma treva por dez anos.
Em contrapartida os cristãos reconheciam a liberdade de culto para os muçulmanos, o que deu origem a que Frederico fosse outra vez excomunhado pelo papa.

Coroado rei de Jerusalém, atacado pela igreja e receoso de perder o trono na Germânia e Nápoles, regressou à Europa onde retomou relações com Roma em 1230, mas a derrota dos cristãos em Gaza, fez-lhe perder os tronos do Sacro Império.   

Após a expiração da trégua de 1228, uma expedição militar critã liderada por Ricardo da Cornualha e Teodebaldo IV de Champanhe, com poucos homens e poucos recursos, partiu com destino à Terra Santa.

Ricardo da Counualha, 1209-1272.      

Teobaldo IV de Champagne, 1201-1253.
Obolo AR, cunhado em Provins.
Anv. Cruz, TEBAT COMES.
Rev.Cruz, CASTRI PRVVINS.

Destinada a reforçar a presença cristã nos lugares santos , não pode impedir que no ano 1244 Jerusalém caísse nas mãos dos turcos muçulmanos.
No ano seguinte deu-se o desastre de Gaza.

Sétima cruzada 1248-1254

Papa Inocêncio IV.

Quando em 1244, o papa Inocêncio IV abriu o concílio de Lião, o rei de França Luis IX (São Luis) expressou o desejo de ajudar os cristãos do Levante (Mediterrãneo).

São Luis- (Luis IX), 1214-1270.
Tournois (tornês) AR. 
Anv. LVDOVICVS REX.
Rev. TVRONVS CIVIS.

Os preparativos que demoraram três anos permitiram ao rei francês reunir um exército de 35 000 homens, e aproveitando as perturbações causadas pelos mongóis no Oriente,  partiu das Aigues-Mortas para o Oriente, onde após uma escala em Chipre, rumou em direção ao Egito.

Em junho de 1249 retomou Damieta, cidade estratégica que iria servir de base para a conquista da Palestina.
Esta tentativa fracassou por causa de uma inundação no Nilo, e dos muçulmanos se apoderarem das provisões alimentares, o que causou muita fome e algumas doenças como o escorbuto, no exército de Luis IX.

Perante este cenário e com o exército decimado pelo tifo, São Luis retirou-se e foi preso em Almançora (ou Mançura, capital de província egipta) e libertado após o pagamento  de um resgate de 800 000 peças de ouro, e a restituição de Damieta em maio do ano 1250.
(Foi graças a persistência da rainha) em Damieta, que conseguiram negociar com os Egípcios).

Livre, seguiu para a Terra Santa com o seu irmão Carlos d’Anjou, onde permaneceu até 1254, o tempo de conseguir recuperar todos os prisoneiros, e fortificado a defesa das cidades francas no Oriente Médio. (Indiretamente as invasões mongólias deram o seu contributo).

Charles d’Anjou-Denário AR. .
Anv. KAROLVS .  S. P. Q. R. .
Rev. RO MA CAP MVNDI.

Durante a viagem de regresso a frança, recebeu a notícia (que a regente) sua mãe Branca de Castela tinha falecido.

Oitava cruzada 1270

Luis IX, (São Luis).
Medalha comemorativa.

Também comandada por Luis IX, a situação no Oriente Próximo apresentava-se mais complicada que em qualquer outro período anterior das cruzadas.

São Luis- (Luis IX), Dinar AU.
Cunhado em São João de Acre.
Símbolos cristãos com legendas religiosas cristãs escritas em árabe.

Em 1266 os egípcios da dinastia Mameluca, tomaram Cesareia Marítima, Haifa e Arsurf: ocuparam a Galiléia,  parte da Arménia e em 1268, conquistaram Antioquia.
O Oriente Médio vivia então uma época de anarquia entre as ordens religiosas que deviam defendê-lo.
As discórdias entre os comerciantes genoveses e venezianos, motivaram o rei Luis IX a retomar o espírito das cruzadas em 1270, embora sem grande motivação  na Europa.

Egito, Dinastia Mameluca-1 Fels AE.
Sultao al-Malik az-Zâhir Rukn an-Din Baybars al-Buduqdari, 1263-1273.
(Conhecido por Baybars, teve o simpático cognome de: “A Besta”).

Com objetivo diferentes aos anteriores,  Luis IX dirigiu-se em primeiro ao Egito que estava a ser devastado pelo sultão Bibars mas, o teatro das operações previsto não era o Oriente, mas Tunis com a finalidade de converter ao cristianismo o emir desta cidade norte-africana.

Como quase todas as operações de São Luis, esta também não teve sucesso porque nem sequer tiveram oportunidade de combater.
Assim que as forças francesas desembarcaram, foram devastadas por uma peste que assolava a região e ceifou inúneras vidas entre os cristãos, entre eles o próprio rei e um dos seus filhos,  no dia 25 de agosto do ano 1270.

Escudo dos cruzados

(Quando em 1457, o Papa Calisto III enviou a D. Afonso V a bula da cruzada contra os turcos otomanos, o rei mandou  cunhar uma moeda em ouro fino com o nome de cruzado (CRVSATVS), com dois grãos a mais de peso sobre todas as moedas da cristandade.
(O grão é uma unidade de medida de massa equivalente a um sétimo do milésimo (1/7000) da libra e equivale aproximadamente a 64,8 miligramas ou 0,0648 gramas.)

Na própria moeda encontra-se escrita a palavra com que foram denominados, tal a importância que o rei deu a este empreendimento.
No reverso,   o fato de inserir a cruz de S. Jorge, também é significativo, e foi a primeira vez que a cruz do santo padroeiro de Portugal foi aparececeu  em moedas portuguesas            .)

Portugal-Cruzado de D. Afonso V.
Anv.CRVSATVS.ALFONSI.QUINTI:REGIS.P(ORTVGALIA.
Rev.ADITORIVM:IN:NOMI:(N)E(DOMINI).

Boemundo  III de Antioquia-1144-1201.
Principado de Antioquia-Denário AR.
Anv.BOHNVHDVS.
Rev.UHTIOCHI.

Reino Latino de Jerusalém, cidade de Acre.
Direme AR emitido pelos cruzados de Acre,
imitativo das moedas locais dos árabes.

Emitida em nome de Al Malik Salih da dinastia dos Ayúbbidas (de Saladino), que foi sultão de Damasco entre 1239-1245, também menciona Al Mustansir, sultao dos abássidas.
Anv.  (Legendas em árabe): Al Iman  Al Mustansir Billah  abu  Jaffar  A l Mansur  Amir  Al Mu’minin.
Legenda circular: Cunhada em Damasco no ano 1253.
Rev. (Legendas em árabe): Al Mallik  Al Salih  Imad Al Dunya Wa’l  Din Ismail Abr Bakir
Legenda circular: Em none de Deus, o clemente e misecordioso.

Direme  AR cunhado  pelos cruzados com legendas em árabe entre 1216-1241.

(Os cruzados imitavam as moedas locais para que fossem aceites no comércio da região. Esta é do segundo tipo e já não traz o nome de Maomé, proibido pelo papa.)

Cruzadas-Denário estilo europeu (ouro) com o Santo Sepulcro.

Cruzadas-Besante (ouro) com símbolos cristãos e legendas cristãs em árabe.

(Após reclamações pontificais, a partir do ano 1250 foram adicionados símbolos cristãos  nas moedas dos cruzados emitidas na Terra Santa).

Conclusão

Considerando os seus objetivos, as cruzadas foram um fracasso que nunca conquistaram de modo permanente a Terra Santa, nem impediram o avanço do islamismo.
Todavia os seus custos foram muito elevados em vidas humanas e bens materiais.

No entanto acredita-se que as cruzadas contribuiram para o crescimento da Europa, nomeadamente no comércio das cidades do norte da Itália e desenvolvimento da rota comercial dos Alpes e do Reno.

Não podemos esquecer que a civilização do Oriente contribuiu para o crescimento da cultura europeia.
O desenvolvimento intelectual teológico desenvolveu-se através do escolasticismo (método dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500).

Comparado com os anos anteriores, as universidades desenvolveram-se. Houve grande melhoria na literatura vernácula e artística, que despertou e iluminou a Europa no tempo das “CRUZADAS”.


MGeada

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