sábado, 22 de fevereiro de 2014


FAROL DE ALEXANDRIA


Construído para servir de referência aos navegantes na ilha de Faros, a sua construção que teve início no reinado de Ptolemeu I (Soter) no ano 297 a.C., e terminada durante o reinado do seu filho Ptolemeu II (Filadelfo) 309-246 a.C, durou quinze anos.

Após quase dezassete séculos de atividade, o Farol de Alexandria foi a última das sete maravilhas do mundo antigo a desaparecer, devido aos numerosos sismos ocorridos na região entre os séculos IV a.C. e XIV d.C., particularmente o de 1308 que o deixou em ruínas .

O farol permaneceu  assim até ao final do século XV, data em que o sultão Al-Achraf Sayaf ad-Din Qait Bay, um dos últimos soberanos Mamelucos da dinastia Burji de Alexandria, ordenou a sua demolição para ali construir uma cidadela fortificada: “Qaitbay ou Qaitbey”.

Além da sua função de guia, o farol também simbolizava a magnificiência da cidade de Alexandria com a sua grande biblioteca e a tumba de Alexandre III “O Grande” seu fundador, no ano 331 a.C..

Edificado em pedra branca e granito de Assouão, seria  um edifício de três andares com :
Uma base quadrada ligeiramente piramidal :
Uma coluna octogonal :
Uma pequena torre redonda sobrelevada por uma estátua (talvez Zeus ?) que totalizava uma altura de 135 metros.

Localizado, o farol atualmente está todo cartografado e desde 1994, mais de 3 000 blocos de pedra foram repertoriados.

Uma das construções mais célebres da antiguidade, tardiamente entrou na lista das maravilhas do mundo.
A causa é provavelmente alexandrina e fácil de explicar, porque no momento em que as primeiras listas foram constituídas o farol ainda não estaria totalmente concluído.

As primeiras listas conhecidas mencionam :
As muralhas de Babilónia : 
Pirâmide de Quéops :
Colosso de Rodes : 
Mausoléu de Halicarnasso : 
Estátua de Zeus em Olímpia : 
Jardins Suspensos da Babilónia : 
Templo de Artemis de Efeso.

Além de algumas moedas, poucos testemunhos antigos relativos ao célebre Farol de Alexandria foram conservados.

Erigido na ilha de Faros, perto da costa de Alexandria, Estrabão (historiador, geógrafo e filósofo grego, (primeiro século a.C.)), evoca esta monumental construção.

« A ponta da ilha é um rochedo batido pelas ondas por todos os lados, com uma torre feita de pedra branca, admiravelmente construída com diversos andares, com o mesmo nome da ilha. 
Sóstrato de Cnido, arquiteto do farol e amigo dos reis que teve o privilégio de inscrever o seu nome no edifício, dedicou-a à salvação dos navegadores, como indica uma lápide encontrada.
Com efeito, como a costa era desprovida de abrigo, baixa dos dois lados, rodeada de recifos, e com fundos baixos, era necessário aqueles que vinham do largo um sinal elevado e luminoso, para guiar os barcos na entrada no porto »

Este pequeno testemunho  de Estrabão, é a maior descrição antiga sobre o farol que também não esqueceu o nome do arquiteto do edifício: Sóstrato de Cnido.

Preço 

Segundo a enciclopédia bisantina “Suda”, os trabalhos foram  inciados sob o reinado do primeiro rei Lágida Ptolemeu I em 297, terminado e inaugurado em 283 a.C., por Ptolemeu II.
Plínio o Antigo, diz-nos que os trabalhos custaram 800 talentos (um talento = a 26 kg) de prata, que corresponde a 20 800 kg de prata.
O preço da constução do farol equivaleu a 13,3 % da receita anual do país e como a construção durou alguns anos, não causou problemas às finanças Lágidas.

Sóstrato de Cnide e Ptolemeu II

Luciano de Samósate , autor do II século da nossa era, evoca um problema ligado à dedicação do farol.
Sóstrato de Cnide terá ali gravado o seu nome que mais tarde tapou com cal, e mandou inscrever os nomes de Ptolemeu II e da irmã/esposa, Arsinoé II.

No dia da inauguração o rei e a esposa  viram os seus nomes ali gravados, mas passados alguns anos quando a cal caiu, foi o nome de Sóstrato que apareceu como dedicatário do monumento. (Versão diferente de Estrabão).

Representações 

As representações do farol são pouco frequentes na antiguidade.
Algumas raras moedas com o farol cunhadas nos reinados dos imperadores Trajano, Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cómodo, apresentam-nos todas um farol diferente.
Uma pequena lanterna com 10 cm de altura (conservada no museu greco-romano de Alexandria), alguns mosaicos e um vaso, permitem obter uma vaga ideia da aparência do monumento.

O mosaico de Séforis (Judeia), apresenta um farol circular, com uma enorme lareira no cimo.
O da igreja São João em Gérasa (Jordânia), apresenta um farol quadrado com um segundo andar circular.

A considerada representação mais fiável do farol foi descoberta num vaso em albatre encontrado em Bagram no Afeganistão, onde um colosso trona no topo dum pequeno edifício circular, tendo como base uma torre quadrada com janelas, construída com enormes blocos retangulares.
Este vaso extremamente frágil, é conservado no Museu Arqueológico de Cabul ou Cábul.

Por conseguinte  todas estas  fontes antigas não nos permitem conhecer a aparência exata do farol.

Estátuas 

No cimo do farol trona a estátua duma divindade da qual a identificação ainda hoje é problemática: Zeus, Posídon ou Hélio?
As raras representações do farol não permitem a sua identificação.

Posidippe (ou Posidippos  de Pella) no seu poema diz-nos que é uma estátua de Zeus, e talvez fosse o caso na primeira metade do século III a.C..

Uma outra fonte que parece orientar-se no mesmo sentido, é uma medalha de vidro do século I, que mostra o farol sobrelevado com a estátua de Zeus, com uma lança na mão esquerda e  uma taça na direita.
Nesta representação o farol tem nos acrotérios as estátuas de Ísis Pharia (deusa Ísis Farol) e de Posídon, divindades que tinham um templo na ilha de Faros.
A estátua de Zeus teria portanto permanecido no topo do farol, até à chegada dos romanos.

Um copo de vidro datado do século II, encontrado em Begram  (Afeganistão) mostra a imagem de um deus com um remo na mão esquerda, o que faria dele Posídon.
Este mesmo deus é referenciado num manuscrito aquando duma restauração do farol no século V.

Finalmente um mosaico encontrado em Qasr (Líbia), datado do ano 539, mostra o farol encimado com a estátua de Hélio.

Farol de Alexandria
(Sobrelevado com a estátua de Hélio)

Podemos pensar que as três estátuas se terão sucedido
Em primeiro a estátua de Zeus  venerado sobre a forma de Amon-Zeus como ancestral dos Ptolemeus.

Quando  os romanos chegaram ao Egito, estes  terão substituído a estátua de Zeus que lhes fazia recordar os Lágidas, e colocaram no local Posídon, porque a sua função (deus supremo do mar) convinha perfeitamente com a missão do farol : proteger os navegadores.
Também é  possível que  já no fim da Antiguidade Posídon tenha sido substituído por Hélio, (uma divindade comum).

Existe um édito promulgado em 391 por Teodósio I, imperador romano que fez do cristianismo a religião do Estado.
Este édito tinha por objetivo abolir os cultos pagãos no território Romano, no qual o Egito também estava incluído.

Sabemos que este  édito foi muito bem acolhido em Alexandria e,  que  entre outras decisões deu origem à destrução do templo de Serápis.
(Divindade sincrética helenístico-egípcia da Antiguidade Clássica. O seu templo mais célebre era o de Alexandria ,(Egito). O seu símbolo era uma cruz.

Além disso após a cristianização de Roma, é mais lógico que fosse São Marcos patrono da cidade, ou simplesmento Pedro que encimassem o farol.
Em contrapartida temos a certeza que no século IX, uma mesquita foi instalada na parte superior da torre por Ahmad Ibn Tulun. (Fundador da dinastia dos Tulúnidas que reinou no Egito de 868 a 905. (Tulúnidas deriva do nome do fundador da dinastia: Ahmad Ibn Tulun)).

Junto da cidadela fortificada “Qaitbay” foram encontradas duas estátuas colossais.
Uma de Ptolemeu (em Faraó) e outra de Ísis ?.
Pensa-se que estas estátuas deviam estar colocadas em frente do farol, para serem vistas pelos navegadores quando entravam no porto.
Não se sabe exatamente qual Ptolemeu, mas pensa-se ser Ptolemeu II e que a estátua dita de Ísis, seja na realidade sua esposa Arsinoé II, que o Faraó divinizou após a sua morte.

Para conhecermos melhor este  edifício, temos que nos apoiar na arqueologia e sobretudo nos testemunhos medievais, nomeadamente no bispo Aroulfe que no anos 670 habitava Alexandria, e alguns documentos árabes  escritos por Yacoubi, Idrissi e Mohammad Ibn’Abd al-Rahim al-Qaisi de Granada, dito Al-Andalus (ou Al Ândalus).

Trajano-Dracma cunhado em Alexandria 116/7
Anv. Busto de Trajano laureado à direita,
AVT KAIC TPAIAN AΔPIANOC CEB.
Rev. Ísis Pharia em pé com um sistro às costas num barco à vela, farol encimado
por uma estátua, um tritão nos acrotérios e lanterna. LIZ.
(Isis Pharia: protetora da ilha na qual o farol foi construído).
(Sistro: antigo instrumento de música egípcio, que consistia num arco metálico em forma de ferradura)

Trajano-Hemidracma cunhado em Alexandria, 116/7
Anv. Busto de Trajano laureado à direita,
AVT KAIC TPAIAN AΔPIANOC CEB.
Rev. Farol com uma estátua no cimo e um tritão em cada acrotério.  I A
(Dois tipos de farol diferentes no mesmo reinado.)

 Adriano-dracma cunhado em Alexandria 133/4.
Anv. Adriano laureado e drapeado à direita
AVT KAIC TPAIAN AΔPIANOC CEB.
Rev. Ísis Pharia em pé com um sistro às costas num barco à vela,
farol encimado por uma estátua, um tritão nos acrotérios e lanterna. LIZ.

Adriano-Hemidracma cunhado em Alexandria, 132/3
Anv. Busto de Adriano laureado à direita,
AVT KAIC TPAIAN AΔPIANOC.
Rev. Farol com uma estátua no cimo e um tritão nos acrotérios.  LIZ

Adriano-hemidracma cunhado em Alexandria 136/7
Anv. Busto de Adriano laureado à direita,
AVT KAIC TPAIAN AΔPIANOC.
Rev. Farol com uma estátua no cimo e um tritão nos acrotérios.  K A

Sabina (esposa de Adriano)-Hemidracma cunhado em Alexandria (data incerta)   
Env. Busto de Sabina com diadema e drapeado à direita.
Rev. Farol encimado por uma estátua e um tritão nos acrotérios.

(Difícil saber  a aparência exata do farol, visto que  nestas quatro moedas cunhadas no  reinado de Adriano, já temos quatro tipos de farol diferentes).

Antonino Pio-Hemidracma cunhado em Alexandria 144/5
Anv. Busto de Antonino laureado à direita,
AVT K T AIɅ AΔP ANTWNINOC.
Rev. Farol encimado por uma estátua e um tritão nos acrotérios.

Antonino Pio-Hemidracma cunhado em Alexandria 141/2
Anv. Busto radiado de Antonino à direita,
AVT K T AIɅ AΔP ANTWNINOC.
Rev. Farol encimado por uma estátua e um tritão nos acrotérios.

Antonino Pio-Dracma cunhado em Alexandria 148/9
Anv. Busto de Antonino laureado à direita,
AVT K T AIL ADR ANTWNINOC CEB EVC.
Rev. Ísis Pharia em pé com um sistro às costas num barco à vela, farol encimado
por uma estátua, um tritão nos acrotérios e lanterna.
DWDE KAT LOV.

Faustina II (esposa de Antonino)-Dracma cunhado em Alexandria 148/9
Anv. Busto de Faustina com diadema e drapeado à direita.
Rev. Ísis Pharia em pé com um sistro às costas num barco à vela,
farol encimado por uma estátua, um tritão nos acrotérios e lanterna.

Faustina II-Dracma cunhado em Alexandria
Anv. Busto de Faustina drapeado à direita.
Rev. Ísis Pharia em pé com um sistro às costas num barco à vela,
farol encimado por uma estátua, um tritão nos acrotérios e lanterna.
(Cinco tipos diferentos, reinado de Antonino Pio).

Marco Aurélio-Hemidracma cunhado em Alexandria 154/155.
Anv. Busto de Marco Aurélio drapeado à direita
M AVPHLIOC KAICAP.
Rev. Farol encimado por uma estátua, um tritão nos acrotérios, LIS

Marco Aurélio-Hemidracma cunhado em Alexandria 152/3
Anv. Busto de Marco Aurélio drapeado à direita
M AVPHLIOC KAICAP.
Rev. Farol encimado por uma estátua, um tritão nos acrotérios, LIS

Marco Aurélio-dracma cunhado em Alexandria 148/9
Anv. Busto de Marco Aurélio drapeado à direita.
Rev. Ísis Pharia em pé com um sistro às costas num barco à vela,
farol encimado por uma estátua, um tritão nos acrotérios e lanterna.
(Três tipos diferentes para o imperador Marco Aurélio).

Cómodo-Tetradracma cunhado em Alexandria 188/9
Anv. Busto de Cómodo à direita,
M A KOM AVTM CEB EYCEB.
Rev. Farol à esquerda, e navio mercante romano denominado  de “CORBITA”  LKΘ

Cómodo-Tetradacma cunhado em Alexandria 188/9
Anv. Busto de Cómodo laureado à direita,
M A KOMANT CEB EVCEB.
Rev. Farol à esquerda, e navio mercante romano denominado  de “CORBITA”  LKΘ

(Este navio faz referência à frota africana organizada em urgência pelo imperador Cómodo em 186, quando devido à penúria egípcia faltou o trigo em Roma .
Esta frota tinha por missão, procurar trigo na África. O sucesso da operação deu lugar à glorificação do imperador e da sua frota. (Visível nestas moedas)

MGeada


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