segunda-feira, 27 de junho de 2016


O TOSTÃO (um pouco de história)

De todas as moedas cunhadas em Portugal, foi sem dúvida o tostão, a mais conhecida e a que mais modificações sofreu.

Cunhado pela primeira vez no reinado de D. Manuel I,  1495-1521, (por volta do ano 1511), foi emitido em prata com a valia de 5 vinténs.

D. Manuel I, Tostão- prata (5 vinténs-100 reais)
cunhado em 1504, ø28,9mm-9,2gr.
Anv. escudo real coroado, ladeado por arruela e V
I EMANVEL:R:P:ET.A:GVINE
Rev. Cruz da Ordem de Cristo encimada por três pontos,
e cantonada por estrelas de seis pontas
IN HOC SIGNO VINCES
(Ref. A G-45-04?)

Ainda no reinado deste monarca sofreu a sua primeira alteração. Depois, de um reinado para outro, a legenda mudava para o nome do novo rei, o que em si já é uma modificação importante.
Além disso, quase em todos os reinados foram cunhados vários modelos, como por exemplo D. João  III (1521-1557), que cunhou 7 diferentes, circulando todos ao mesmo tempo.

D. João III-Tostão - prata (5 vinténs-100 reais) cunhado em 1545
Anv. Escudo real coroado
IOANNES:3:R:P::A:D:gine
Rev. Cruz da Ordem de Cristo encimada or três pontos,
IN HOC SIGNO VINCES
(Ref. AG 94.01)

A primeira grande modificação do tostão deu-se durante a regência de D. Pedro II (1667-1683.

D. Pedro Príncipe Regente-Tostão-prata (100 réis) cunhado em 1681
Anv. Escudo coroado
PETRVS.D.G.P.PORTUGALIAE.
Rev. Cruz da Ordem de Cristo,
IN HOC SIGNO VINCES
(Ref. J. Ferraro Vaz-PR.37, AG-10.01)

O seu diâmetro foi reduzido e, grande inovação: pela primeira vez o tostão foi feito por cunhagem mecânica. (Até aqui as moedas eram cunhadas manualmente “cunhadas a martelo”,  é por isso que as moedas antigas não são bem redondas.)  




A seguir ainda no reinado de D. Pedro, então já no exercício das suas funções (1683-1706), foi novamente modificado e, pela primeira vez apareceu com o valor LXXX ou seja 80 réis.

D. Pedro II- Tostão N.D., prata (LXXX réis) 
Anv. Coroa Real e valor
PETRVS.II.DG.P.ET.ALG.REX
Rev. Cruz cantonada,
IN HOC SIGNO VINCES
(Ref. AG-44.02, J. Ferraro Vaz-101B)

Assim continuou a sua carreira sofrendo alterações mínimas em todos os reinados e, cada vez que um novo rei subia ao trono, a legenda era novamente modificada.

A segunda grande modificação dá-se no reinado de D. Maria II (1834-1853).
O tostão foi cunhado com a efígie da rainha e, no reverso reapareceu o valor 100 réis.

D. Maria II-Tostão, prata (100 réis) 1853
Anv. D. Maria à esquerda,
MARIA.II.PORTUG:ET.ALGARB:REGINA .1853.
Rev. 100 reis no interior de uma coroa de oliveira
(Ref. J.Ferraro Vaz-M2.53)

D. Carlos depois de  ter cunhado o tostão em prata durante vários anos, em 1900, mandou cunhar um modelo em cuproníquel mas, não foi aprovado pelo povo porque tínhamos um tostão em prata, descendo assim de valor intrínseco.

D. Carlos I-Tostão, prata (100 réis) cunhado em 1895
Anv. D. Carlos à direita e data
CARLOS I REI DE PORTUGAL
Rev. Valor no interior de uma coroa de oliveira
(Ref. J. Ferraro Vaz-Ca-30)


D. Carlos I-Tostão, cuproníquel  (100 réis) cunhado em 1900
(Ref. J. Ferraro Vaz-Ca-33)

D. Manuel II em 1909 e 1910, voltou a cunhá-lo em prata, dando-lhe assim o último retoque da monarquia.


D. Manuel II-Tostão, prata (100 réis) cunhado em 1910
Anv. D. Manuel II à esquerda
EMMANVEL.II.PORTUG.ET. ALGARB. REX  1910
Rev. Coroa real e valor no interior de uma coroa de oliveira
(Ref. J.Ferraro Vaz-E2.08)

O rei Patriota deixou-nos um tostão em prata, neste metal o vamos encontrar na  1̊ República (1910-1926).
Pela última (e única) vez (na República) em 1915 o tostão foi cunhado em prata mas, completamente modificado.

No anverso tem a efígie de Ceres com barreto frígio, insígnia da liberdade e, a legenda República Portuguesa.
No reverso, o escudo e valor, 10 centavos.


Tostão-10 centavos, prata, cunhado em 1915
(Ref. J. Ferraro Vaz- R1-10)

Em 1920, sofreu a sua primeira modificação na República.
No anverso, só ficou Ceres. A legenda República Portuguesa passou para o reverso e,  triste novidade, depois de ter sido cunhado em prata durante 425 anos, passou a ser cunhado em cuproníquel.


Tostão-10 centavos, cuproníquel, cunhado em 1920,
(Ref. J. Ferraro Vaz- R1-14)

Em 1924, nova modificação.
O anverso e o reverso não sofreram alterações, apenas o seu diâmetro aumentou e foi cunhado em bronze.


Tostão-10 centavos, bronze, cunhado em 1924
(Ref. J. Ferraro Vaz- R1-24)

Assim continuou durante o resto da 1̊ República e, só em 1942, já na 2̊ República, é que foi novamente modificado.
O diâmetro foi reduzido mas, continuou a ser cunhado em bronze, até 1969.

No anverso tem uma cruz feita con cinco quinas e a legenda República Portuguesa; o reverso tem o valor X centavos e ramo de oliveira.


Tostão-X centavos, bronze, cunhado em 1942
(Ref. J. Ferraro Vaz- R2-54)

Ainda no ano de 1969, o tostão conheceu a sua última modificação. O seu diâmetro foi outra vez reduzido.
O anverso não mudou. O reverso, apresenta o valor 10 centavos e foi cunhado em alumínio.  (Foi denominado de Marcelinho, porque o primeiro ministro da época era Marcelo Caetano)


Tostão, 10 centavos alumínio, cunhado em 1969
(Ref. J. Ferraro Vaz- R2-89)

Assim continuou até 1979, ano em que foi cunhado pela última vez, para terminar a sua carreira em 1981.

Cunhada entre 1969 e 1979, durante o governo de Marcelo Caetano, esta moedinha de 10 centavos em alumínio o “Marcelinho” causou grande polémica quando foi posta em circulação, por não ter em metal o seu valor facial.

Cunhadas em quantidades muito reduzidas, as moeadas dos anos 1969 e 1970, terão sido ensaios monetários?

Triste fim da mais popular moeda portuguesa que nos prestou serviço durante 486 anos.
Depois de ter sido cunhada em metal nobre (prata); ter conhecido vinte reis (incluindo três espanhóis), duas rainhas, duas regências, um interregno e, duas repúblicas, vir a terminar a sua carreira numa simples rodela de alumínio, o “Marcelinho)..

O tostão deixou de circular, mas, muitas expressões derivadas dele ainda estão e ficarão gravadas certamente na nossa memória por muitas décadas.
Exemplo: isto ou aquilo não vale um tostão.

(Esta moedinha flutua e voa. Exemplo: se encherem  um copo com água , pegarem na moeda entre dois dedos e a pousarem devagarinho à tona da água, esta leva algum tempo a chegar ao fundo. Num dia de vento se a atirarem verticalmente ao ar, ela pode desviar de  alguns  metros.)

MGeada

Bibliografia.
Jornal de Alcains, setembro de 1981-O tostão, um pouco de história; artigo de Manuel Félix Geada Sousa.
Alberto Gomes; Moedas Portuguesas.

J. Ferraro Vaz; Livro das moedas de Portugal. 

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